Em futebol, qualquer criança sabe quando a posse de bola é improdutiva e quando é produtiva. Improdutiva é aquela situação em que o jogo é jogado só na horizontal. Passes laterais, um pouquinho para a frente, um pouquinho para trás e, de vez em quando, um recuo para o goleiro. Medroso, o time não chega a cruzar a linha divisória do gramado. Acossado pelo adversário, o volante dá um chutão de cinquenta metros para o alto, fazendo jus ao prêmio “Leitoa do Dia”.

O debate sobre a presente situação econômica e política brasileira está igualzinho a um jogo horizontal. Quando alguém tenta delinear um cenário mais longe no tempo, verticalizando o jogo, é logo acusado de estar sendo injusto com o governo Bolsonaro. Se digo que, mesmo estando a política econômica na direção certa, a recuperação é muito lenta, logo meu interlocutor responderá que estou pedindo demais para “apenas nove meses de governo”. Não consegue entender que não estou emitindo um juízo de valor, estou apontando um fato: a recessão engendrada pelo governo Dilma foi a pior de nossa história e a recuperação está sendo mais lenta que as de ocasiões anteriores. Se faço restrições ao estilo pessoal  do presidente, alguém dirá que mesmo os Estados Unidos têm atualmente  na presidência um indivíduo boquirroto e demagógico.

Meus caros leitores e leitoras, eis  a proposta que lhes faço. Tentemos discutir com um pouco de lógica, usando argumentos horizontais, quando eles forem cabíveis, e argumentos verticais — voltados para o futuro — sempre que dispusermos de um parâmetro seguro que nos sirva de âncora.

Argumentos horizontais têm sua importância, mas, no momento, o Brasil está metido numa encalacrada de fazer medo. Se não verticalizarmos a conversa, vamos permanecer no ambiente das redes sociais, um xingatório infindável que nada esclarece. O que lhes tenho dito dia sim e outro também é o seguinte: nove em cada dez economistas apostam que, se não pisarmos no acelerador, nossa renda por habitante continuará a crescer num ritmo pífio por muitos anos. Algo entre dois e três por cento ao ano.

Nesse ritmo, levaremos algo como 30 anos para dobrá-la de tamanho. Se vocês acharem que nossos problemas sociais, educacionais, de violência, saúde, saneamento etc crescerão nesse mesmo ritmo, ou até mais devagar, tudo bem. Não se preocupem com a lógica.

Para muita gente, não há problema em termos uma economia de faz de conta,  que dá passes para  o lado e recua em  vez de avançar. Só que vamos ficar  cada vez mais para trás

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