A decisão tomada no plenário do Supremo Tribunal Federal na quarta-feira 4 pode representar um novo marco na História recente do País. Muito mais do que dar legitimidade ou não às prisões pós-condenação em segunda instância, o que foi definido no STF pode significar o começo de uma nova era política. Desde a retomada da eleição direta para presidente da República, em 1989, a disputa política se trava ao redor de um personagem: Luiz Inácio Lula da Silva.

Até 2002, o sapo barbudo era o cara a ser vencido. Depois veio a dita carta aos brasileiros e o figurino do Lulinha paz e amor tornou o líder sindical digerível. Mas, apesar de uma política social mais inclusiva — pela distribuição de dinheiro e não pela educação ou pela qualificação profissional – veio também o mensalão, o petrolão e uma corrupção sistêmica que, aliada ao corporativismo de privilégios e à ocupação do Estado por uma companheirada treinada para levantar bandeiras e não para gerir uma das maiores economias do planeta, jogou o País em uma de suas mais profundas crises. Não apenas econômica, mas política, ética e moral.

O brasileiro que graças ao Lulinha paz e amor de 2002 “perdeu o medo de ser feliz” passou os últimos anos acuado. Quase que acovardado diante das ameaças de um suposto exército do MST, diante das bravatas retóricas de líderes do Congresso mais interessados em tumultuar do que em legislar ou propor o sadio debate político. Por anos, “eles” temeram o “nós” que Lula usou para dividir, ainda que em partes desiguais, um povo até então caracterizado por buscar as convergências.

A decisão do STF, depois de manifestações populares de diversas formas, mostra que iniciamos uma nova fase. Um novo sem medo de ser feliz. Assim como não são comunistas todos aqueles que lutaram contra a ditadura militar nas décadas de 1960, 1970 e 1980, assim como não são esquerdistas todos aqueles que se posicionaram contra a tortura, as arbitrariedades e brigaram por democracia; não são fascistas ou neo-nazistas todos os que bradam contra a corrupção. Não são só da extrema direita aqueles que reclamam o fim da impunidade no País. Os brasileiros precisam agora, mais uma vez, mostrar que perderam o medo de ser feliz. Não precisamos mais de um anti-Lula ou de um Lula maquiado por marqueteiros corruptos.

Chegou a hora de buscar líderes que efetivamente tragam consigo um projeto para o País, que promova a inclusão pela educação e pela capacitação profissional e que conduza a máquina pública mais pela meritocracia do que pela coloração partidária. Isso não se forma da noite para o dia e nem com players que chafurdaram na mesma lama de Lula e seus comparsas, mas o jogo está para ser jogado.

Não precisamos mais de um anti-Lula. Chegou a hora de buscar líderes que tragam consigo um projeto para o País