Romário iniciou a carreira de jogador como terceiro goleiro do Boavista, do Rio de Janeiro. Passou pelo Duque de Caxias, Tigres e Laranjeiras, do Espírito Santo. No ano passado, ficou tão desanimado com a falta de oportunidades para jogar – terceiro goleiro é o reserva do reserva – que decidiu largar o futebol. Virou vendedor de cosméticos e roupas na Vila Aliança, em Bangu. Ele saía pelas ruas oferecendo seus produtos, ficou um ano nessa vida. A grana era razoável, mas decidiu voltar. No Campeonato Carioca deste ano, foi terceiro goleiro do Bangu. Não jogou nenhuma vez, mas jura que não vai mais desistir.

O jargão do futebol tem uma definição crua, quase maldosa, para a função que persegue Romário. “Terceiro goleiro é aquele que treina, mas nunca joga”. Essa expressão foi usada por vários profissionais ouvidos pelo jornal O Estado de S.Paulo. Sua escalação só acontece em situações improváveis, quando os dois que estão à sua frente – o titular e o primeiro reserva – têm problemas.

Na semana passada, no jogo entre Corinthians e Grêmio, esse improvável quase aconteceu. Caíque França, quarto goleiro do clube paulista, estava se preparando para ir ao shopping com a namorada no domingo quando o telefone tocou. A avó do titular Cassio morreu; Matheus Vidotto sentiu um lesão nas costas durante o aquecimento – os exames mostraram uma hérnia e ele teve de ser operado. Com isso, Walter foi para o gol e Caíque chegou aos estádio faltando 40 minutos para o início do jogo. Ele não atuou, ficou apenas no banco de reservas. “A gente tem de estar sempre preparado. Uma hora a chance aparece”, disse o arqueiro de 20 anos.

A chance de Fábio demorou quatro anos para aparecer no Palmeiras. Formado nas categorias de base de um clube que se destaca pelos grandes goleiros, ele conseguiu uma sequência de 25 jogos em 2014, durante uma lesão do titular Fernando Prass. Depois disso, Prass voltou. “Essa fase de terceiro goleiro é uma espécie de preparação, um estágio para coisas maiores”, afirmou o ex-goleiro Waldir Joaquim de Morais.

LIMONADA – No período em que seu nome não era relacionado para os jogos, Fabio foi estudar e se formou em Educação Física. Foi um jeito de fazer do limão uma limonada, outra frase bastante citada entre os goleiros. Estudar foi a mesma saída encontrada por Jefferson Paulino, terceiro goleiro do Audax, vice-campeão paulista. Beneficiado por um convênio entre o clube e a Universidade Paulista (Unip), que oferece bolsas de estudo para os atletas, ele já está no terceiro semestre, também na Educação Física.

Aos 20 anos e com a mulher grávida, John Victor quer esperar a sua vez no Santos. E começa a construir a sua história. No ano passado, ele conta orgulhoso que defendeu todos os pênaltis que o time sofreu – foram seis defesas. E ele gosta mais ainda quando acham que ele é parecido com o pentacampeão Dida.

O preparador de goleiros do Santos, Arzul, afirma que tem gente que não aguenta esperar. Simples assim. Nesses casos, o empréstimo para outro clube é a melhor solução. Fábio, por exemplo, pediu para ser emprestado para o Oeste.

Faltou explicar a origem do nome de Romário Azeredo Fraga. Não é por causa do ex-jogador e hoje senador. “Meu avô e meu pai tinham o mesmo nome. E meu filho também vai ter”, disse o arqueiro do Bangu. “E vou dar um forçada para ele ser goleiro também. Não vou deixar ele se desmotivar quando não for para um jogo”.