O uso diário de suplementos multivitamínicos não foi associado a um menor risco de morte para adultos saudáveis em um estudo recente publicado no periódico Jama. De acordo com o artigo, um em cada três adultos nos Estados Unidos (EUA) usa multivitamínicos com a motivação principal de prevenir doenças.

No Brasil, não há uma estatística oficial, porém o consumo desses produtos em busca de saúde também é realidade por aqui. “É evidente o crescimento no consumo de multivitamínicos impulsionado por campanhas de marketing, influência de profissionais de saúde e a percepção de que os suplementos são necessários para uma vida saudável, mesmo sem carências nutricionais diagnosticadas”, comenta a nutricionista Serena del Favero, do Hospital Israelita Albert Einstein.  

Em 2022, a Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos EUA revisou dados sobre suplementação e mortalidade de ensaios clínicos randomizados e não encontrou evidências suficientes para determinar benefícios ou danos. Os autores, então, decidiram analisar informações de três grandes estudos envolvendo dados de 390.124 adultos saudáveis (sem histórico de câncer ou de outras doenças crônicas) no país norte-americano.  

Nesses trabalhos, os participantes foram acompanhados por mais de 20 anos. Eles foram questionados sobre o uso anterior de suplementos e a frequência da utilização, variando de nunca a todos os dias. Também responderam sobre o consumo de outras vitaminas e minerais que não incluíam multivitamínicos. Ao final do período analisado, ocorreram 164.762 mortes.  

A conclusão é de que não há evidências suficientes de que os multivitamínicos aumentam a longevidade, embora sejam consumidos com esse objetivo na maioria das vezes. O efeito foi o mesmo independentemente de raça, etnia, qualidade da dieta e nível educacional dos participantes. 

Para del Favero, esse resultado evidencia que os multivitamínicos não são uma “solução mágica” para manter a saúde, e sua eficácia pode estar sendo superestimada pela população. “Muitas vezes, as pessoas se sentem seguras ao tomar suplementos, acreditando que estão prevenindo doenças ou compensando deficiências nutricionais. No entanto, essa falsa sensação de segurança pode levar ao descuido com a saúde, fazendo com que deixem de buscar a orientação médica adequada quando realmente há necessidade de uma intervenção mais específica e eficaz”, alerta. 

Boom dos suplementos 

O “boom” do uso de suplementos vitamínicos começou a ganhar força a partir da década de 1970, especialmente nos Estados Unidos, impulsionado por uma combinação de fatores: crescente interesse da população em saúde preventiva, popularização da medicina alternativa e influência do marketing da indústria de suplementos, que destacou os benefícios potenciais de vitaminas e minerais na prevenção de doenças.  

“À medida que as pessoas se tornaram mais conscientes sobre saúde e longevidade, o uso de suplementos vitamínicos passou a ser visto como uma solução prática e acessível para garantir o aporte adequado de nutrientes e melhorar a qualidade de vida”, conta del Favero.  

Contudo, conforme estudos mais robustos envolvendo os multivitamínicos foram sendo realizados, as evidências sobre os reais benefícios desses produtos para pessoas saudáveis começaram a ser questionadas. “Revisões sistemáticas e estudos de longo prazo mostraram que, para a maioria das pessoas saudáveis, sem deficiências nutricionais específicas, os suplementos vitamínicos não trazem os benefícios esperados. Muitas vezes, os nutrientes podem ser obtidos de maneira mais eficaz com uma dieta balanceada”, observa a nutricionista. 

Quem deve usar multivitamínicos? 

São várias as condições de saúde em que a suplementação de vitaminas e minerais pode ser necessária para corrigir deficiências nutricionais ou apoiar o tratamento. Alguns exemplos incluem deficiências nutricionais diagnosticadas, gravidez e amamentação, anemia por deficiência de ferro, osteoporose ou risco de osteoporose, dietas restritivas, distúrbios de absorção, entre outras. 

Mas, segundo del Favero, a suplementação deve ser realizada de acordo com a deficiência específica de cada pessoa, e não feita por conta própria, por meio de um complexo multivitamínico genérico “de A a Z”. “É fundamental identificar qual é a real necessidade do organismo, e, sempre que possível, buscar ajustar essa carência por meio de uma alimentação equilibrada. Apenas em casos em que a dieta não é suficiente para corrigir o problema a suplementação deve ser considerada, mas sempre sob orientação médica ou nutricional”, frisa. 

O uso de suplementos multivitamínicos por crianças também precisa ser cuidadosamente avaliado – a prioridade deve sempre ser uma alimentação variada e equilibrada, rica em frutas, vegetais, cereais integrais, grãos e proteínas, que é capaz de fornecer a maioria dos nutrientes necessários. “Aqueles suplementos em forma de balinhas ou ursinhos só devem ser introduzidos quando houver uma necessidade específica, após diagnóstico feito por um profissional, e sempre com monitoramento para evitar excessos.” 

Até porque o uso excessivo e desnecessário de suplementos pode, sim, representar riscos para a saúde, já que algumas vitaminas e minerais, quando consumidos além da conta, podem causar toxicidade no organismo. Isso é especialmente preocupante para vitaminas lipossolúveis, caso das A, D, E e K.  

Adeque sua dieta 

O uso indiscriminado de suplementos multivitamínicos pode fazer com que as pessoas negligenciem hábitos alimentares saudáveis, confiando excessivamente nesses produtos para obter os nutrientes necessários para o dia a dia. 

Outro ponto importante é a questão da biodisponibilidade: os nutrientes presentes nos alimentos tendem a ser absorvidos de maneira mais eficaz e equilibrada pelo corpo do que aqueles de suplementos. “Nos alimentos, as vitaminas e minerais estão naturalmente combinados com outros compostos que podem melhorar sua absorção. Além disso, o corpo regula melhor a absorção com base nas necessidades atuais quando eles vêm de fontes alimentares”, explica a nutricionista. 

Nos suplementos, por outro lado, os nutrientes estão isolados e, muitas vezes, em formas químicas menos biodisponíveis. Isso pode levar a uma absorção menos eficiente ou, em alguns casos, ao excesso de nutrientes, causando desequilíbrios e efeitos adversos.  

Segundo del Favero é possível adquirir todos os nutrientes necessários por meio de uma alimentação equilibrada e diversificada. Confira algumas dicas:

1. Inclua uma variedade de cores no prato: comer uma gama diversificada de frutas e vegetais garante um bom suprimento de diferentes vitaminas e minerais. Quanto mais cores no prato, maior a variedade de nutrientes;

2. Prefira alimentos integrais: os produtos integrais, como arroz, aveia, quinoa e pão, são mais nutritivos do que seus equivalentes refinados, pois mantêm suas vitaminas e minerais;

3. Consuma oleaginosas e sementes: amêndoas, nozes, sementes de chia e linhaça são ricas em ácidos graxos saudáveis, vitaminas e minerais essenciais;

4. Diversifique as fontes de proteína: além das carnes, inclua proteínas vegetais, como lentilha, grão-de-bico e feijões, que são ricos em ferro, fibras e vitaminas do complexo B;

5. Beba bastante água: a hidratação adequada é essencial para o transporte de nutrientes no corpo e para manter o metabolismo funcionando corretamente.

Fonte: Agência Einstein