A prisão de Carlos Ghosn por suposta fraude fiscal lança Renault-Nissan-Mitsubishi nnum período de incertezas: o executivo de 64 anos é a pedra fundamental do maior grupo automotivo do mundo, do qual ele foi fundador, mas ele não tem nenhum sucessor nomeado.

“Tornar a Aliança sustentável”. Essa era uma das prioridades estabelecidas para Carlos Ghosn pelos acionistas da Renault, antes de aceitar no começo do ano um novo mandato de CEO de quatro anos.

Nesta segunda-feira, a reação do Estado francês, principal acionista da Renault, foi rápida. “O Estado, enquanto acionista, será extremamente vigilante da estabilidade da aliança e do grupo”, declarou o presidente Emmanuel Macron em Bruxelas.

O futuro sem Ghosn é uma grande preocupação, pois o executivo franco-libanês-brasileiro parece indispensável ao funcionamento do grupo franco-japonês – que ele levou à liderança mundial, com 10,6 milhões de veículos no ano passado, superando Toyota e Volkswagen.

Antes das disputas judiciais, Ghosn era venerado no Japão por ter recuperado a Nissan, cujo comando assumiu no momento da aquisição pela Renault em 1999.

Em uma indústria automotiva na qual a maioria das aproximações historicamente resultou em fracassos, especialmente entre fabricantes de países diferentes, o CEO poliglota conseguiu superar as rivalidades de suas equipes de engenharia.

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Em vez de impor uma aquisição na Nissan, ou na Mitsubishi, Carlos Ghosn pensou a Aliança como um conjunto com equilíbrios complexos, preservando a autonomia de cada empresa.

O grupo é formado por empresas separadas, ligadas por participações cruzadas não majoritárias.

A Renault possui 43% da Nissan, que possui 15% do grupo francês. Desde 2016, a Nissan também tem 34% da sua compatriota Mitsubishi.

Mas esta construção teria ponto fraco seu principal articulador, Carlos Ghosn, caso ele tenha que partir.

“Ele sempre soube como preservar o equilíbrio sutil entre o lado francês e o lado japonês. A especificidade desta aliança é que ela deve muito à personalidade e ao caminho de Carlos Ghosn. É o homem da Aliança, e sua sucessão será inevitavelmente muito complicada “, diz Flavien Neuvy, diretor do Observatório Cetelem do automóvel.

– Acúmulo de funções –

Adorado pelo ex-diretor da Renault, Louis Schweitzer, ele assumiu, ao longo do tempo, as funções de presidente do conselho de administração da Nissan e da Mitsubishi, além de CEO do Grupo Renault (com Dacia, Lada, Samsung Motors, Alpine) e CEO da Aliança.

No Japão, “a legitimidade que ele tem é pelo que ele fez pela Nissan quando a Nissan estava na pior. Não há ninguém hoje capaz de ter essa legitimidade tanto no lado francês quanto no lado japonês”, observa o Neuvy.

A pedido insistente do Estado francês, o maior acionista da Renault, com 15% do capital e cerca de 22% dos direitos de voto, Ghosn, havia nomeado em fevereiro um número dois, Thierry Bolloré, chamado para sucedê-lo à frente do fabricante francês. O objetivo era tranquilizar as autoridades sobre o futuro dessa jóia industrial.

Bolloré, de 55 anos, profundo conhecedor da Ásia, onde fez grande parte de sua carreira, agora ocupa o cargo de vice-diretor-geral. No entanto, se ele representa um apadrinhado na Renault, não existem planos em relação à direção da Aliança.

A Renault e a Nissan compartilham a maioria de suas plataformas de carros, bem como diversos motores, fazem a maior parte de suas compras juntos e estão intimamente interligadas.


O próprio Carlos Ghosn enfatizou que a sustentabilidade do grupo resultou, em primeiro lugar, do quanto as duas partes se beneficiaram da união.

“Nós todos concordamos que a aliança é uma coisa boa que beneficia cada uma das empresas que a compõem”, disse ele em fevereiro, em entrevista à AFP. “Eu passei 20 anos construindo esta aliança. Não tenho desejo algum de não garantir sua perenidade”.


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