16/02/2017 - 14:01
CIDADE DO MÉXICO, 16 FEV (ANSA) – Por Marcos Romero – O estado de Sinaloa, no norte do México, principal base do Cartel do Pacífico que era liderado até recentemente por Joaquín ‘El Chapo’ Guzmán, está em guerra devido ao vácuo de poder que deixou o chefe criminoso.
A volátil situação, que deixou mais de 150 mortos desde o início de janeiro, se deve ao “vazio” que Guzmán deixou após ser extraditado para os Estados Unidos, segundo confirma o próprio ministro de Defesa Nacional, general Salvador Cienfuegos Zepeda.
As lutas internas atingiram a máxima intensidade entre as facções dominantes do também chamado Cartel de Sinaloa assim que ‘El Chapo’ foi extraditado, especialmente, aquela dirigida por dois filhos de Guzmán, Iván Archibaldo e Jesús Alfredo, que se dizem “herdeiros de sua empresa criminal”.
Os confrontos ocorrem contra a “filial” de seu amigo Ismael ‘El Mayo’ Zambada e a do sobrinho do traficante, Alfredo Beltrán.
Desde o dia 13 de fevereiro, as Forças Armadas anunciaram um reforço em suas ações para apaziguar o “infernal” ambiente no estado. “Perante a ausência de seu líder, estão lutando hoje para ver quem poderá ocupar o cargo de chefe da organização”, disse Zepeda ao ser questionado sobre esse aumento na violência em Sinaloa.
Só no dia 7 de fevereiro, em dois enfrentamentos – um em Culiacán e outro em Navolato -, houve um saldo de 11 mortos, entre elas, a de um marinheiro.
Uma carta escrita a mão e difundida na última semana para a mídia mexicana revelou que os filhos de Guzmán, que já foram vítimas de um sequestro em Puerto Vallarda em agosto do ano passado, ficaram feridos enquanto iam se encontrar com Zambada e Dámaso López no início desse mês.
Eles acusam López, chefe de mais um dos grupos em disputa, de ter feito a emboscada enquanto iam para um encontro em local deserto no dia 4 de fevereiro, em sinal de uma provável união de facções.
López é um antigo aliado e ex-tenente de ‘El Chapo’, sendo sub-chefe de segurança da prisão de Puente Grande, no estado de Jalisco. Ele ajudou o então chefe do cartel a fugir do local em 2001 a bordo de um carro da lavanderia que prestava serviços ao presídio.
O chefe rival, por sua vez, não apareceu no encontro e os filhos de Guzmán precisaram sair correndo de um aldeia em uma área montanhosa para ficar a salvo. No entanto, seus seguranças foram assassinados e há rumores de que Zambada também teria sido ferido. Dias após a “emboscada”, no dia 9, um tia dos dois, irmã da mãe dos traficantes, foi assassinada a tiros enquanto manobrava seu carro em Zapopan, no estado de Jalisco, segundo informou o jornalista Héctor de Mauleón. A mulher já havia sobrevivido a outro ataque há dois anos e era conhecida por ter ajudado a lavar dinheiro para o Cartel de Sinaloa.
Também nos últimos dias foi assassinado, na rota entre as cidades de Mazatlán e Durango, também em Sinaloa, um ex-tenente de Aureliano Guzmán, conhecido como “El Guano”, irmão de ‘El Chapo’.
Segundo o jornalista, após a extradição de ‘El Chapo’, López fez um acordo para eliminar Zambada e os filhos do ex-líder, para formar uma aliança entre o Cartel de Sinaloa e o Cartel de Jalisco Nova Geração, que disputam a supremacia no munda das drogas no México.
O jornal “Riodoce de Sinaloa” informou que El Guano tomou o lugar do irmão para proteger seus filhos.
A última “guerra civil” ocorrida no cartel ocorreu entre 2008 e 2009, quando os membros de outro grupo chamado Beltrán Leyva se rebelaram contra ‘El Chapo’, acusando o chefe de entregar ao governo uma de suas lideranças. O conflito terminou com mais de dois mil mortos.
“Para as autoridades, tudo aponta que a onda de sangue vai continuar”, afirma o repórter especializado nos grupos criminosos mexicanos.
Como parte da guerra, ele lembra, no último dia 9, foi assassinado um marinheiro chamado Francisco Patrón, conhecido como “H2”, na cidade de Tepic, estado de Nayarit, que faz divisa com Sinaloa. Dois dias depois, foi assassinado Isaac Silva, o “H9”. Os dois eram considerados os líderes do cartel dos Beltrán Levya.
Esta organização é mais uma facção do Cartel de Sinaloa. Ela é guiada por Beltrán, sobrinho de “El Chapo”, o mesmo que declarou guerra e atacou a casa de sua própria mãe, Consuelo Loera, em junho do ano passado em La Tuna, a cidade onde nasceu o famoso “rei do crime”, que hoje aguarda seu julgamento em um presídio de Nova York. (ANSA)