DESIGN A arquiteta Fernanda Negrelli decorou um dos apartamentos do prédio da Cyrella, o primeiro assinado por Philippe Starck em São Paulo (Crédito:Marco Ankosqui)

O mercado de luxo não tem crise. Apartamentos residenciais de alto padrão continuam com a demanda aquecida, apesar dos construtores dos demais segmentos terem adotado uma postura mais cautelosa, diminuindo o número de lançamentos desde o ano passado. Na média geral, os lançamentos de novos empreendimentos caíram 12%, segundo a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), enquanto os imóveis de luxo subiram aproximadamente 8%. Inflação na casa dos dois dígitos e juros altos – a Selic está em 13,25% – são indicadores que costumam inibir este tipo de negócio. Mas o consumidor do luxo não depende de financiamento bancário, nem sofre com as flutuações econômicas na mesma intensidade que as demais camadas da sociedade. Segundo especialistas do mercado, são brasileiros que ganham mais de R$ 60 mil por mês e cujo imóvel residencial não é o principal ativo. “É um comprador que está longe de se preocupar com a liquidez do bem”, diz Luiz França, presidente da Abrainc. “Ele prioriza localização, conforto e a infraestrutura do projeto.”

SUSTENTABILIDADE Lucas Araújo, da Trisul, com maquete de lançamento, diz que os apartamentos precisam ter muito verde, conforto térmico e ter água de reuso (Crédito:Marco Ankosqui)

Hoje, o mercado considera alto padrão um imóvel cujo metro quadrado custe a partir de R$ 20 mil. E são poucos os endereços com metragem tão valorizada. “Itaim, Vila Madalena, Pinheiros, Vila Nova Conceição, Jardins e Ibirapuera estão entre os principais bairros consolidados da cidade de São Paulo onde incorporamos projetos de luxo”, diz Lucas Araújo, diretor de marketing da construtora Trisul. Como não existem terrenos vazios, a incorporadora compra casas até conseguir a metragem suficiente, o que pode levar anos. Foi assim que adquiriram o primeiro terreno para incorporar um edifício de luxo, em 2015, na Avenida República do Líbano, em frente ao Parque do Ibirapuera, a principal “praia dos paulistanos”. Batizado de Oscar Ibirapuera, o condomínio com duas torres, tem 64 apartamentos com áreas que variam de 185 m2 a 220 m2. Na época, o m2 custava R$ 32 mil. Atualmente ninguém compra uma unidade ali por menos de R$ 47 mil o m2. “É um imóvel que nunca vai desvalorizar porque tem vista eterna para o parque”, diz Araújo.

Além da localização, há outros quesitos que interferem muito no preço no imóvel para ser considerado de luxo. Entre eles, o peso do nome do profissional que assina o projeto da construtora. O One Sixty, da Cyrela, localizado na Vila Olímpia, por exemplo, é a primeira incorporação brasileira do designer internacional Philippe Starck. Uma unidade, de 280 m2, custa R$ 10 milhões. Para decorá-lo, mais R$ 7 mil por m2, o que dá quase R$ 2 milhões. “O escritório nunca esteve tão cheio de novos projetos residenciais”, diz a arquiteta Fernanda Negrelli, nome conhecido da Casa Cor, responsável pela decoração de um dos apartamentos do condomínio. Ela não é a única lotada de encomendas. “Estamos trabalhando no limite do nosso potencial”, endossa o arquiteto Murilo Lomas. “Com a pandemia, as famílias começaram a investir mais nas moradias.”

As construções luxuosas também já fazem parte da paisagem de capitais do Nordeste. “Seguimos as tendências internacionais de empreendimentos butiques, como os construídos em Dubai, Xangai ou Milão”, diz André Penazzi, CEO do Grupo GP, incorporador de imóveis de luxo na Paraíba. Eles estão atrelados a marcas ligadas à moda, caso da Bulgari, e ao mundo automobilístico, como a italiana Pininfarina, que tem em seu currículo o design de carros da Ferrari e da Maserati. “O alto luxo é o segmento que mais cresce e, por causa disso, João Pessoa mudou na última década”, diz Penazzi, que no fim do ano vai lançar o primeiro empreendimento residencial com a marca Pininfarina na cidade. Essas construções possuem acabamento diferenciado. “É uma exigência desse público que os prédios tenham maior conforto térmico, aproveitamento de luz natural e muito verde”, explica Araújo, da Trisul. Os projetistas ainda prevêem na planta a personalização de cada apartamento pelo proprietário, depois da entrega do imóvel. “Isso quer dizer abrir a possibilidade para que todas as paredes sejam derrubadas, caso esse seja o desejo do comprador”, explica. As áreas de lazer também não ficam devendo nada a nenhum clube. Piscinas olímpicas, quadras de beach tênis e academias superequipadas, assim como móveis de designs famosos, fazem parte do universo de mimos que enchem os olhos dos compradores.