O anúncio da suspensão de bolsas supostamente “ociosas” pela Capes pegou alunos e professores de surpresa, e deixou muita gente apreensiva sobre o que vai acontecer durante e após esse período de avaliação. “A maioria dos alunos não consegue se manter sem bolsa”, alerta Janete Cerutti, chefe da disciplina de Genética na Unifesp.

“A bolsa é o nosso salário”, diz a bióloga Thais Biude, de 27 anos, que concluiu mestrado em fevereiro e agora aguarda “desesperadamente” pela liberação da bolsa de doutorado para continuar suas pesquisas sobre câncer de tireoide no laboratório de Janete. “Sem bolsa, não tenho como continuar. Vou ter de sair da universidade e procurar emprego. O sonho do doutorado acaba.”

O valor das bolsas é de R$ 1,5 mil por mês para mestrado e de R$ 2,2 mil para doutorado.

O jovem Gabriel Gama, de 23 anos, que faz iniciação científica no mesmo laboratório, diz que a situação toda é um “desestímulo enorme” para seguir carreira científica no Brasil. “Todo mundo da minha sala que foi estudar fora quer voltar para lá”, diz ele, que passou um ano na Inglaterra pelo programa Ciência sem Fronteiras.

A Câmara de Pós-graduação e Pesquisa da Escola Paulista de Medicina da Unifesp enviou um manifesto à Capes, pedindo a reversão da medida. “Se soluções deste tipo continuarem, os danos para a pós-graduação no Brasil serão enormes e irreversíveis”, diz o documento.

Danos

Mesmo um contingenciamento temporário pode ter consequências severas a longo prazo para a produção científica e a formação de recursos humanos no País, diz o pesquisador Ruy Campos, da Unifesp. “Não é uma engrenagem que você consegue religar de uma hora para outra”, diz.

A Capes ressaltou, em nota, que a suspensão não representa corte e “todos os bolsistas continuam sendo pagos normalmente, mantendo assim o compromisso com a formação de recursos humanos avançados no País”.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.