A sensação de que a Seleção Feminina tinha potencial para ir mais longe é um bom sinal em meio à decepção com a eliminação nos Jogos Olímpicos. Em cerca de dois anos, a técnica Pia Sundhage trouxe novos métodos de trabalho, e talentos começaram a despontar com a amarelinha. Porém, a polivalente Bruna Benites havia alertado às vésperas do duelo com o Canadá.

– Ainda não estamos no nosso nível ideal, mas estamos bem perto disso – declarou.

Com a estrutura para competições nacionais femininas (tanto profissionais quanto nas categorias de base) se consolidando, a Seleção foi para esta edição dos Jogos Olímpicos ainda com um gosto de nostalgia e deixando claro passa por um processo gradual de renovação. Além de Formiga, aos 43 anos e em sua sétima e última Olimpíada, muitas jogadoras acima de 30 anos estavam entre as titulares da equipe de Pia Sundhage.

A maneira como Marta atuou tanto no empate com o Canadá quanto na campanha da Seleção Feminina evidenciou os desafios da equipe. Aos 35 anos, a camisa 10 ia ao seu limite ora para proteger o lado esquerdo, ora para ir à frente. Porém, em alguns momentos faltava fôlego para ficar próximo ao gol ou ajudar a municiar Debinha e Bia Zaneratto no duelo com as canadenses.

A equipe teve o primeiro tempo oscilante, no qual a qualidade de Andressinha foi um oásis, mas não evitou investidas adversárias. Porém, aos poucos, o Brasil foi se reajustando graças a sangue novo.

Angelina deu maior firmeza à Seleção e contribuiu para o crescimento de Tamires no apoio ao ataque. Já Ludmila desatou o nó que o setor ofensivo tinha, criando brechas pelas pontas.

A equipe de Pia Sundhage foi abnegada, se superando em busca do desejado gol. Mas faltava uma capacidade de transição entre a defesa e o ataque. As jogadas rarearam aos poucos, o que fez com que o cobiçado sonho do ouro olímpico ruir nos pênaltis. Resgatar esta criatividade é algo que só um longo processo de trabalho trará.

– Precisamos de meio-campistas que controlem o ataque, quero ver mais jogadoras como Angelina e Formiga, que têm os lados de ataque e defesa – admitiu a treinadora Pia Sundhage.

Em meio à decepção, é inegável reconhecer que houve um progresso considerável em relação ao que a Seleção apresentou no Mundial Feminino de 2019. Passados dois anos e agora uma Olimpíada sob o comando de Pia Sundhage, o desafio é tornar este processo ainda mais sólido e corrigir os problemas vistos nos Jogos Olímpicos.

– A mensagem que eu deixo para o futebol feminino do Brasil é que é brilhante. Se o Brasil quer estar no mais alto nível internacional, e nós queremos, há duas coisas: melhorar um pouco o condicionamento físico e a parte mental. Acho que temos um time coeso, mas ainda há espaço para melhorar na parte física e na parte mental, para lidar com qualquer tipo de dificuldade – disse a sueca.

Empenho não falta para jogadoras que já lidam com tantos obstáculos.