A seleção italiana ficou fora das últimas duas Copas do Mundo, na Rússia-2018 e no Catar-2022. Em 2021, o cenário se desenhava amplamente favorável ao país com a conquista da Eurocopa. No entanto, acabou eliminada na repescagem das Eliminatórias do último Mundial. Nesta quinta-feira, às 15h45, os italianos encaram a Espanha, na Holanda, pela semifinal da Liga das Nações da Uefa e, em campo, querem consolidar o momento positivo para o futebol local diante da relevante participação dos clubes italianos nas finais europeias da temporada 2022-23.

As repetidas frustrações promoveram críticas de todas as partes. A Federação Italiana de Futebol (FIGC) escolheu permanecer com o técnico Roberto Mancini no comando da equipe até a data do próximo Mundial, em 2026, nos Estados Unidos, Canadá e México. Para transformar o futebol italiano e retomar o status da seleção, a FIGC mapeou atletas com dupla nacionalidade que poderiam compor o grupo, mesmo sem eles terem atuado em clubes do país.

A medida não é nova. Brasileiros vestiram e vestem a camisa da Squadra Azzurra há anos. Em décadas passadas, com Angelo Surmani e Mazzola, e mais recentemente, com Eder, Emerson Palmieri, Luiz Felipe, João Pedro e Thiago Motta. Nessa convocação de Mancini, o zagueiro Rafael Tolói, da Atalanta, e o meia Jorginho, do Arsenal, foram chamados, mas as observações da comissão técnica chegaram a atletas do futebol brasileiro. Lucas Piton, lateral-esquerdo do Vasco, e o argentino Giuliano Galoppo, atacante do São Paulo, estão na mira da Itália e, em breve, podem servir à equipe europeia.

Enquanto Galoppo e Piton compõem listas prévias, um atleta do futebol sul-americano ganhou sua segunda chance neste ano. Mateo Retegui, do Tigre, adversário do São Paulo na Copa Sul-Americana, tem 24 anos e, em 20 jogos na temporada pelo clube argentino, anotou 11 gols. Na seleção italiana, balançou as redes na derrota para a Inglaterra, por 2 a 1, e no triunfo sobre Malta, por 2 a 0, ambos pelas Eliminatórias da Eurocopa.

Também animou os italianos o bom desempenho do país no Mundial Sub-20. A equipe acabou derrotada na decisão pelo Uruguai, por 1 a 0, no último domingo, mas fez uma campanha com vitórias importantes sobre seleções de destaque, como Brasil e Inglaterra. Dos 21 convocados, apenas um atleta joga fora da Itália, Cesare Casadei, do inglês Reading. Para efeito de comparação, o Brasil tem cinco atletas que atuam no exterior.

A Itália marcou presença em cada uma das finais europeias dessa temporada. Internazionale, Roma e Fiorentina perderam as decisões da Liga dos Campeões, Liga Europa e Liga Conferência, respectivamente. Mas só o fato de chegar a uma decisão simbolizou uma marca importante. O país participou de apenas uma final de Liga Europa nos 23 anos anteriores. Na Liga dos Campeões, são três participações desde a temporada 2009-10, data do último título, erguido pela Inter de Milão.

“A seleção italiana pode vir mais forte. Com a sub-20, foi à final. Isso é um indicativo, assim como Roma, Fiorentina e Inter, que chegaram às finais das competições europeias. Convém lembrar que o Napoli perdeu nas quartas para o Milan, que foi eliminado pela Inter na semifinal e brigaram até o último momento pela classificação. Acredito que a seleção possa voltar a ser aquela seleção favorita, como Brasil, Alemanha e Argentina. Se pensarmos daqui a 20 anos, vamos colocar essas quatro como favoritas. Minha torcida é para isso. A Itália tem poder para voltar a ser forte”, afirmou ao Estadão Paulo Roberto Falcão, coordenador esportivo do Santos e ídolo da Roma.

Após a Itália ficar fora da Copa, o ex-técnico Fabio Capello apontou responsáveis pela queda da equipe. Segundo o comandante, os treinadores locais tentam reproduzir em seus clubes o modelo de Pep Guardiola, sem contar com qualidade técnica semelhante e, por isso, fracassam. “A explicação é muito simples. Há muito tempo venho falando que estamos copiando o futebol de Guardiola de 15 anos atrás sem ter qualidade suficiente. Mesmo que entendamos que o modelo a copiar é o alemão, não vamos crescer, porque se quisermos fazer como os espanhóis, que têm uma técnica superior, nunca conseguiremos, faremos sempre 50%”, afirmou.

“A maior força italiana é tática, com jogadores disciplinados”, explica o ex-atacante Careca, que fez história com a camisa napolitana em parceria épica com Diego Maradona. “A seleção vive um momento complicado, aposta na Euro e não vai para a Copa. É muito triste pela história do país. É hora de focar mais nas Eliminatórias, sem deixar que erros desse tamanho voltem a acontecer. Imagine ficar fora do terceiro Mundial seguido?”, questionou.

Quanto aos clubes, Careca valoriza a campanha dos italianos nos torneios europeus e diz que a Itália poderia ter ficado com algum título. “O Napoli (campeão italiano) foi a sensação da temporada e poderia ter ido para a final da Liga dos Campeões, tinha essa condição. A Inter deu bastante trabalho para o City e perdeu por detalhes a decisão. Sempre gostei do nível do futebol italiano, porque é difícil que eles sofram gols. Alguma equipe poderia ter beliscado algo melhor que o vice”, afirmou.

Na final da Liga dos Campeões, sete italianos entraram em campo pelo lado da Inter, cinco deles compõem o grupo da Azzurra no jogo desta quinta. Na decisão da Liga Europa, o mesmo número foi observado e três dos jogadores da Roma estão à disposição de Mancini. Na Liga Conferência, a menor quantidade: apenas seis italianos, sendo que nenhum foi chamado para servir o país nesta Data Fifa.

Confira a lista dos italianos na final da Liga dos Campeões (Inter de Milão x Manchester City):

Matteo Darmian (seleção)

Francesco Acerbi (seleção)

Alessandro Bastoni (seleção)

Nicolò Barella (seleção)

Federico Dimarco (seleção)

Raoul Bellanova

Danilo D’Ambrósio

Veja os italianos na final da Liga Europa (Roma x Sevilla):

Gianluca Mancini

Bryan Cristante (seleção)

Leonardo Spinazzola (seleção)

Lorenzo Pellegrini (seleção)

Edoardo Bove

Andrea Belotti

Stephan El Shaarawy

Italianos na final da Liga Conferência (Fiorentina x West Ham):

Pietro Terracciano

Luca Ranieri

Cristiano Biraghi

Rolando Mandragora

Giacomo Bonaventura

Riccardo SaponaraR