Guilherme Amado Coluna

Coluna: Guilherme Amado, do PlatôBR

Carioca, Amado passou por várias publicações, como Correio Braziliense, O Globo, Veja, Época, Extra e Metrópoles. Em 2022, ele publicou o livro “Sem máscara — o governo Bolsonaro e a aposta pelo caos” (Companhia das Letras).

Seis meses depois, Gleisi Hoffmann recebe elogios mesmo com derrotas

Prestígio junto a Lula, boa relação com Rui Costa e reação a derrota fortaleceram Gleisi

Seis meses depois, Gleisi Hoffmann recebe elogios mesmo com derrotas

Quando Lula deu posse a Gleisi Hoffmann, em março, na Secretaria de Relações Institucionais, e disse que havia escolhido uma “mulher bonita” para diminuir a distância com o Congresso, a oposição surfou na derrapada machista do presidente e tentou emplacar que viria aí uma ministra fraca. Não era o único senão ao nome de Gleisi. Também havia quem, mesmo no Partido dos Trabalhadores, apontasse que um perfil bélico atrapalharia a articulação política. Passados seis meses dela no Planalto, entretanto, as críticas deram lugar a uma avaliação positiva, em especial na comparação com Alexandre Padilha.

Ministros, deputados e senadores ouvidos pela coluna na última semana apontaram a força junto a Lula como o maior ativo da petista. Ninguém soube lembrar uma agenda do presidente com os presidentes do Senado e da Câmara, Davi Alcolumbre e Hugo Motta, sem que Gleisi estivesse junto. O mesmo não acontecia com Padilha, que não era chamado para muitas das conversas com Rodrigo Pacheco e Arthur Lira — sem que houvesse arestas com o primeiro. Ainda no grande jogo, também partiu de Gleisi montar agendas com presidentes de partidos, atribuição que Padilha não tinha.

É fato que o cenário no Congresso não mudou significativamente. O governo segue sem força para aprovar pautas que já não tenha uma boa aceitação do Centrão. Mas o clima é melhor, em parte por razões extrínsecas à articulação política. Eduardo Bolsonaro tem ajudado, mais e mais, seja pela estadia contra os interesses brasileiros (e a favor dos dele) nos Estados Unidos, seja pelas ameaças a Motta e Alcolumbre.

Seis meses depois, Gleisi Hoffmann recebe elogios mesmo com derrotas

Outro contraste com o antecessor é a boa relação com Rui Costa, o ministro para quem nove a cada dez ministros da Esplanada torcem o nariz. Gleisi não tem postura subordinada a Rui, mas tampouco briga por espaço. Conseguiu criar, segundo um colega dos dois, uma relação que funciona — o que não acontecia com Padilha.

Há problemas, claro. A derrota do governo no Senado na semana passada, quando foi surpreendido com a vitória da oposição na eleição da presidência e do relator da CPI mista do INSS, mostrou que falta coordenação no dia a dia da articulação, o que permitiu que insatisfações aqui e ali na base não fossem detectadas com a gravidade que tinham —a de Renan Calheiros foi uma delas.

Mas Gleisi soube reagir à crise, observou um assessor do palácio. Logo depois da derrota, puxou pra si a responsabilidade e disse que havia errado, sem terceirizar o erro. No Senado, houve quem demorasse a ter a mesma postura, anotou o mesmo assessor.

Também tem sido inteligente na relação com Fernando Haddad, com quem trocava cotoveladas nos primeiros dois anos do Lula III. A própria sublinha para interlocutores a boa fase. Mas brinca dizendo que foi Haddad que caminhou na direção dela, ao falar mais em justiça tributária e menos em ajuste fiscal.

“Ela não é beligerante. Ela sabe tocar a missão que é confiada a ela. Quando foi necessário brigar, soube brigar. Quando é para articular, sabe articular”, definiu um aliado.