Seis de janeiro de 2021, o dia em que a democracia dos EUA tremeu

Seis de janeiro de 2021, o dia em que a democracia dos EUA tremeu

Em 6 de janeiro de 2021, milhares de americanos invadiram o Capitólio para tentar reverter o resultado da eleição presidencial de 2020, causando caos em Washington.

Um ano e meio depois, uma comissão parlamentar apresenta as conclusões de suas investigações, que buscam provar a responsabilidade do então presidente Donald Trump no ataque.

Assim foi o dia frio de janeiro em que a democracia americana tremeu.

– 7h: apoiadores de Trump chegam a Washington –

Com bandeiras de Trump 2020 e bonés vermelhos com o slogan “Make America Great Again”, dezenas de milhares de apoiadores do ex-presidente se reúnem cedo em Washington, convencidos de que houve fraude na eleição perdida pelo bilionário republicano para o democrata Joe Biden.

Eles chegam de todos os cantos do país, alguns em ônibus lotados, e atravessam a capital, uma cidade profundamente democrata, onde as janelas da maioria dos negócios do centro foram fechadas por medo de que a situação saia de controle.

Eles convergem para uma esplanada perto da Casa Branca, onde Trump deve falar por volta do meio-dia. O republicano já advertiu: o dia seria “louco”.

– 11h57: Trump entra em cena –

O presidente americano entra em cena.

“Nós nunca vamos desistir. Nós nunca vamos ceder”, promete. “Nós nunca vamos recuperar nosso país sendo fracos… Devemos ser fortes”.

A multidão reage, enfurecida.

Trump pede a seu vice-presidente, Mike Pence, que não confirme a vitória de Biden durante a sessão do Congresso que deve presidir. Na conclusão de seu discurso, ele lança: “Marchemos para o Capitólio”. Seus apoiadores ouvem atentamente cada palavra.

– 13h02: a carta de Mike Pence –

Ao mesmo tempo, os congressistas das duas Câmaras iniciam o procedimento de certificação dos resultados da eleição presidencial.

Pouco antes do início da sessão, Pence declara em carta que não se oporá à certificação, pois esse direito corresponde, segundo ele, aos legisladores. O líder dos senadores republicanos, Mitch McConnell, aliado de Trump durante seu mandato, alerta seus colegas sobre um risco “mortal” para a democracia.

Mesmo assim, desde o início da sessão, alguns republicanos se opõem ao resultado da eleição no Arizona.

– 14h: manifestações no Capitólio –

Enquanto isso, os apoiadores de Trump começam a cercar o Congresso. Alguns prédios anexos são evacuados, enquanto os manifestantes conseguem romper o cerco da força pública. A certificação é interrompida, e o Senado e a Câmara de Representantes são colocados em confinamento.

Gás lacrimogêneo é disparado na rotunda do Capitólio, os policiais sacam suas armas. Circulam pelo mundo imagens que mais tarde se tornariam icônicas de homens sem camisa com chifres de bisão andando pelos corredores do Congresso, ou posando na mesa da presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi.

Um manifestante que tenta entrar no plenário por uma janela quebrada é morto a tiros. Militante extremista e teórico da conspiração para alguns, mártir patriótico para outros, Ashli Babbitt se tornará o símbolo da profunda fratura política que divide os Estados Unidos após este 6 de janeiro.

– 14h24: tuítes e mensagens de texto –

Enquanto o vice-presidente e os congressistas são retirados do caos no Capitólio, Trump afirma no Twitter que Pence não “teve coragem de fazer o que era necessário para proteger o país”.

O presidente acompanha os acontecimentos de uma televisão em uma sala perto do Salão Oval. Congressistas republicanos e conservadores famosos imploram a seu então chefe de gabinete, Mark Meadows, que peça a Trump para acalmar a multidão, de acordo com mensagens de texto reveladas pelo comitê legislativo que investiga o episódio.

“Mark, o presidente deve a todo custo pedir às pessoas no Capitólio que voltem para casa”, escreveu a âncora da Fox News Laura Ingraham em uma mensagem de texto às 14h32.

“Deve condenar essa merda o mais rápido possível”, alerta o filho do presidente Donald Trump Jr., em outra mensagem às 14h53.

– 16h17: Trump: “Voltem para casa” –

Às 16h17, Donald Trump finalmente publica um vídeo em sua conta no Twitter.

“Conheço sua tristeza, conheço sua dor”, declara, dirigindo-se a seus partidários nos jardins da Casa Branca.

“Esta eleição foi roubada de nós”, reitera o presidente, sem provas. “Mas vocês têm que ir para casa agora.”

“Vão para casa, nós os amamos, vocês são únicos”, completa.

– 18h30: retorno à calma –

Às 18h, um toque de recolher decretado pela Prefeitura de Washington entra em vigor. Os manifestantes ainda presentes são dispersados pela força pública. Trinta minutos depois, um oficial anuncia que o Capitólio está novamente seguro.

Às 20h06, a sessão do Congresso é retomada.

Da Câmara, onde os trumpistas caminhavam algumas horas antes, Pence promete que aqueles que “causaram estragos” não “ganharam”.

Às 3h42, a eleição de Biden é oficialmente certificada.