17/04/2024 - 16:44
Quatro denunciantes, incluindo funcionários atuais da Boeing, prestaram depoimento, nesta quarta-feira (17), a uma comissão investigadora do Senado dos Estados Unidos. Eles relataram “graves problemas” na produção das aeronaves 737 MAX, 787 Dreamliner e 777, algo que a empresa nega.
“Não estou aqui porque quero estar aqui. Estou aqui porque […] não quero ver o acidente de um 787 ou de um 777”, declarou aos senadores Sam Salehpour, engenheiro de controle de qualidade na Boeing há 17 anos.
“Tenho sérias preocupações com a segurança do 787 e estou disposto a assumir um risco profissional ao falar”, afirmou.
“Fui ameaçado, me disseram para ficar calado, recebi ameaças físicas”, contou o engenheiro. “Se algo me acontecer, estarei em paz, porque acredito que testemunhando abertamente vou salvar muitas vidas”, acrescentou.
Um e-mail enviado pelos advogados de Salehpour a vários destinatários, entre eles a Administração Federal de Aviação (FAA) dos Estados Unidos, é o ponto de partida para a investigação no Congresso.
A audiência desta quarta será seguida por outras, com responsáveis da Boeing e da FAA chamados para depor, disse o senador democrata Richard Blumenthal, presidente da comissão, que apontou que há acusações “cada vez mais graves” indicando que a “cultura de segurança na Boeing está quebrada”.
“A Boeing compreende a importância das responsabilidades da comissão em termos de fiscalização e cooperamos com a investigação”, reiterou o grupo, que expressou a disposição de “entregar documentos, testemunhos e relatórios técnicos”.
A empresa rejeita as acusações e, na segunda-feira, defendeu seus métodos ao declarar-se “confiante na segurança e durabilidade dos 787 e 777”, em um documento assinado por dois de seus principais engenheiros.
Esses profissionais desmentiram as acusações que apontam que cerca de 1.400 aviões da Boeing têm significativas falhas de segurança.
Além de Salehpour, os membros da comissão ouviram Ed Pierson, ex-chefe na Boeing do programa 737 MAX, assim como Joe Jacobsen, que trabalhou por 25 anos na FAA após 11 na Boeing, e Shawn Pruchnicki, especialista em segurança aérea e piloto comercial.
“Fiz tudo o que pude para alertar o mundo de que o MAX não era seguro e para alertar as autoridades sobre os perigos da produção da Boeing”, explicou Pierson. Mas “nada mudou após os dois acidentes”.
Os 737 MAX foram mantidos em solo em todo o mundo após os acidentes de dois aviões desse modelo em 2018 e 2019, que resultaram em 346 mortes, devido a defeitos de concepção.
“A menos que seja tomada uma ação e que os executivos assumam suas responsabilidades, cada pessoa que embarcar em um Boeing está em risco”, segundo Pierson, que considerou a supervisão da FAA “ineficaz”.
O senador Blumenthal havia pedido ao Departamento de Justiça que verificasse se a Boeing estava cumprindo o acordo firmado em 2021 para evitar um julgamento pelos dois acidentes.
Em seu e-mail de 17 de janeiro, Salehpour afirmou que o fabricante “repetidamente ignorou sérias preocupações quanto à segurança e ao controle de qualidade na construção dos 787 e 777”.
Em seguida, a FAA abriu uma investigação sobre esses dois modelos. “Investigamos os informes a fundo”, reiterou a entidade na terça-feira.
Segundo a FAA, todos os Dreamliner em operação “cumprem com as AD”, as diretrizes de navegabilidade.
A Boeing afirmou nesta quarta que o 787 realizou mais de 4,2 milhões de voos com segurança.
“Testes extensivos e rigorosos com a fuselagem e check-ups profundos de manutenção de cerca de 700 aeronaves em operação encontraram zero evidência de fadiga na fuselagem”, argumentou a companhia.
Scott Kirby, presidente da companhia aérea United Airlines, que possui 71 Dreamliners, afirmou nesta quarta-feira à CNBC que tem “total confiança na segurança” deste avião.
“Milhares destes aviões voam há décadas, milhões de horas de voo”, enfatizou.
Mas três dos quatro modelos de aviões comerciais que o grupo americano fabrica estão oficialmente sob investigação da agência reguladora do setor.
A FAA investiga a família do 737, o principal avião da Boeing, depois que um 737 MAX 9 da Alaska Airlines perdeu uma porta cega em pleno voo em 5 de janeiro.
A agência identificou “problemas de não conformidade” aos procedimentos tanto na fabricante quanto no Spirit AeroSystems, um de seus fornecedores.
O incidente da Alaska Airlines ocorreu em meio a uma série de problemas com a produção, em 2023, relativos ao 737 MAX e ao Dreamliner.
As entregas do Dreamliner foram suspensas por quase dois anos, em 2021 e 2022, e novamente no início de 2023, devido a um problema na fuselagem.
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