Centenas de sudaneses acampavam neste domingo (17), pelo segundo dia consecutivo, em Cartum para exigirem um governo militar, o que representa uma “crise perigosa”, disse o primeiro-ministro Abdallah Hamdok, no processo de transição pós-ditadura.

“O protesto continua, não iremos embora até que o governo seja destituído”, afirmou à AFP Ali Askouri, um dos organizadores. “Pedimos oficialmente ao conselho soberano”, o órgão militar e civil que dirige a transição, “que não negocie mais com este governo”, acrescentou.

As cenas lembravam as manifestações que acabaram com os 30 anos de mandato do ex-presidente Omar al Bashir em 2019.

Desde a queda do autocrata sudanês, os militares e os civis formaram um conselho soberano e um governo que deveria levar o país às eleições, mas que adia constantemente os prazos. A última data marcada é para o final de 2023.

No sábado, os manifestantes foram até o palácio presidencial, onde está a sede das autoridades de transição, aos gritos de “um exército, um povo” e exigindo um “governo militar” para retirar o Sudão do bloqueio político e econômico.

A mobilização foi convocada por uma facção sediciosa das Forças pela Liberdade e Mudança (FLC, coalizão civil da “revolução”) liderada por dois ex-líderes rebeldes.

O primeiro-ministro Abdallah Hamdok, debilitado por uma tentativa de golpe em 21 de setembro, alerta que essas “profundas divisões” são a “crise mais perigosa” para a transição e que ameaçam o caminho para a democracia.

O anúncio de um protesto indefinido faz temer o ressurgimento da situação, já que as FLC convocaram uma manifestação rival para quinta-feira para exigir a transferência completa dos poderes aos civis.