A Itália lançou nesta quinta-feira (22) uma segunda rodada de consultas para buscar uma solução para a crise deflagrada pela implosão do governo populista formado pela Liga de Matteo Salvini e pelo Movimento 5 Estrelas em junho de 2018.

O presidente Sergio Mattarella recebe os líderes dos grupos políticos para discussões em seu palácio do Quirinal.

Os primeiros a chegar, Irmãos da Itália (ultradireita pós-fascista), devem exigir legislativas antecipadas, uma oportunidade para se aliar à Liga do ministro do Interior e líder da extrema direita, Matteo Salvini, com quem compartilha ideias soberanistas.

Ao final deste desfile, várias opções serão oferecidas ao chefe de Estado, incluindo uma votação antecipada no outono boreal.

Esta perspectiva não é atraente, uma vez que a terceira economia da zona do euro, altamente endividada e com crescimento estagnado, enfrentará no mesmo momento a fase delicada na elaboração do orçamento de 2020.

Medidas devem ser tomadas para evitar um aumento automático do IVA no próximo ano, destinado a cobrir um buraco orçamentário estimado em 23 bilhões de euros.

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A crise italiana “está em uma fase crítica para a Europa, com risco de recessão na Alemanha, a instalação de uma nova Comissão em Bruxelas e pode contribuir para deteriorar significativamente a confiança na zona do euro”, estima Andrea Montanino, economista-chefe da federação patronal Confederustria.

O cenário mais provável é o de uma nova maioria.

A primeira sigla de esquerda, o Partido Democrata (PD), que representa cerca de 20% dos votos, propôs na quarta-feira uma aliança ao M5S. Este último foi largado por Salvini em 8 de agosto, após 14 meses de casamento.

O M5S ainda não respondeu. Mesmo se, considerando seu enfraquecimento – caiu de 32% na primavera de 2018 para cerca de 15%-16% – voltar às urnas agora seria como suicídio, segundo analistas.

No Parlamento, no entanto, o M5S ainda é “o primeiro partido” com uma “maioria relativa”.

O PD de Nicola Zingaretti apresentou cinco condições para a união de toda esquerda com o M5S, um movimento baseado na rejeição da velha classe política e da corrupção, mas atravessado por correntes díspares, incluindo uma forte tendência eurocética.

Para além de “uma adesão leal à Europa”, o respeito pela “centralidade do Parlamento”, o crescimento sustentável ambientalmente, uma mudança radical na gestão da migração e uma mudança econômica no sentido de uma maior redistribuição e de investimentos, o PD exige que o próximo Executivo não seja liderado pelo primeiro-ministro Giuseppe Conte.

Muito popular na Itália (com 54% de aprovação em julho) e empurrado pelo M5S, que o considera um “servo da Nação que a Itália não pode ficar sem”, Zingaretti o acusa de ter aceitado sem pestanejar durante seus 14 meses de mandato os ditames anti-imigrantes de Salvini.

Outros nomes circulam: os do presidente da Câmara dos Deputados, Roberto Fico, do M5S; do ex-juiz anticorrupção Raffaele Cantone; ou, pela primeira vez na Itália, o de uma mulher.

Outra hipótese seria a formação de uma maioria de grande envergadura e pró-europeia, unindo esquerda e direita, à maneira das coalizões alemãs.

O Executivo poderia se estender ao Força Itália, o partido de centro direita de Silvio Berlusconi, que está praticamente morrendo, mas pode oferecer assentos parlamentares valiosos.



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