MÍSTICA A igreja de Getsêmani foi erguida no Monte das Oliveiras, local onde Cristo costumava rezar com seus discípulos: Segundo a Bíblia, ele orou lá na noite anterior à traição de Judas (Crédito:Yaniv Berman)

A religião é um pilar importante da sociedade contemporânea e, mesmo com a diversidade de crenças, há doutrinas e líderes que transcenderam milênios e até hoje despertam a curiosidade da ciência, como Jesus Cristo. Recentemente arqueólogos israelenses descobriram uma extensa construção subterrânea próxima da Igreja de Getsêmani, localizada na entrada do Monte das Oliveiras, região lembrada na Bíblia como o local onde Cristo foi traído por Judas Iscariotes. O achado que impressionou os especialistas é conhecido como Segundo Templo e era usado para rituais de banho dos judeus há mais de dois mil anos. Além disso, resquícios de uma igreja do Período Bizantino — 330 a 1453 d.C. — também foram escavados. Embora a Bíblia seja um livro religioso importante para o entendimento da sociedade desde os primórdios, a ciência se baseia em fatos e, portanto, os novos achados são fundamentais para aprofundar os estudos sobre Jesus. “A descoberta dos locais de banho provam que o antigo nome do lugar era Getsêmani”, diz Amit Re’em, arqueólogo das Autoridades de Antiguidades de Israel (IAA). “Provavelmente houve uma indústria agrícola aqui há dois mil anos, atuante na fabricação de óleo.”

Yaniv Berman

Segundo o Evangelho de Mateus, presente no Novo Testamento, Jesus foi orar no Monte das Oliveiras com seus discípulos uma noite antes de ser crucificado. Os arqueólogos da IAA acharam inscrições feitas em grego no chão do templo escavado. “Pela memória e repouso dos amantes de Cristo, que receberam o sacrifício de Abraão, aceite a oferta de seus servos e dê-lhes a remissão dos pecados. Amém”, diz a mensagem. Ao que tudo indica, os registros são do final do Período Bizantino. “É interessante ver que a igreja estava sendo usada e talvez até tenha sido fundada no tempo em que Jerusalém estava sob o domínio muçulmano, mostrando que as peregrinações cristãs continuaram nesse período”, diz o arqueólogo David Yeger.

O descontentamento do Messias com o governo do Império Romano em Jerusalém é considerado um ponto fundamental para o surgimento da religião cristã. Os romanos se baseavam na cultura grega, como o politeísmo — culto a vários deuses — entre outros ideais. O regime escravista beneficiava as elites, que gozavam de hábitos pagãos, como luxúria e riqueza, e pouco se importavam com a condição social dos cidadãos menos abastados. Deste modo, Cristo iniciou uma “nova era” entre os plebeus. Ele pregava que havia apenas um Deus, todas as pessoas eram iguais e que a vida continuava em um paraíso depois da morte. Seus sermões ganharam força e sua fama cresceu. Suas ideias revolucionárias causaram a fúria do Império Romano, que não queria um povo rebelde e esperançoso. “O cristianismo prega a ideia de liberdade. Antes apenas deuses poderiam ir para o céu”, destaca Diego Amaro, historiador do Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL). “Cristo dizia que qualquer pessoa poderia ser salva.”

Atualmente a igreja de Getsêmani é considerada uma das mais importantes para a difusão do cristianismo em Israel, principalmente por conta de sua mística. A estrutura foi construída no Monte das Oliveiras entre 1919 e 1924, e teve influência das passagens bíblicas do evangelho de Lucas e Mateus, que citam a presença de Jesus na região. Devido ao sucesso nas expedições e ao achado do Segundo Templo, a IAA intensificou as buscas de artefatos no país e se depararam com uma gravura rara em uma antiga igreja na vila de Taibe, região norte de Israel.

Gravuras

Para os especialistas, o achado pode estar relacionada com as primeiras igrejas cristãs. “A saudação aos crentes na entrada era comum em igrejas, enquanto nos mosteiros não se fazia isso”, disse Leah Di Segni, arqueóloga da Universidade Hebraica de Jerusalém. De acordo com os livros de história, a igreja Católica se tornou uma instituição a partir do ano 400 d.C e depois difundiu o cristianismo. Hoje, 2021 anos após o nascimento de seu fundador, a religião é tida como a maior do mundo, com cerca de dois bilhões de fiéis — o que ajuda a explicar a curiosidade dos escavadores com o tema. “Mesmo que a vida de Cristo seja rodeada de mistérios, a história não muda, aconteceu e pronto. O que muda é nossa visão sobre o passado”, diz Amaro.

O filho de maria

Divulgação

Uma pedra datada em mais de 1500 anos, encontrada em Taibe, Israel, ajudou especialistas a encontrar a primeira igreja bizantina na região. O achado confirma que o cristianismo era difundido e praticado na província. A mensagem no artefato diz: “Cristo, filho de Maria”, e era usada na entrada das igrejas como uma saudação. Estima-se que o templo tenha sido erguido quatro séculos após a morte do Messias.