Por que Escrever? Philip Roth
Companhia das Letras, R$ 89 (Crédito:Divulgação)

Poucos escritores demonstraram tanta originalidade para criar ficções como o americano Philip Roth. No livro Complô Contra a América, ele imaginou um país antissemita liderado por Charles Lindbergh, herói que, na realidade, nunca chegou a ser presidente; em A Marca Humana, deu vida a Coleman Silk, professor universitário de ascendência negra que esconde a origem para poder subir na vida e acaba, ironicamente, sendo acusado de racista; na trama de Pastoral Americana, a vida de “Sueco” Levov é destruída após sua filha detonar uma bomba e matar um inocente durante um protesto contra a guerra do Vietnã.

A lista de histórias extremamente originais é extensa. Que Roth era um mestre da ficção seus leitores já sabiam: a partir de março, poderão conhecer também suas reflexões sobre o próprio ato de criar: Por que Escrever? Conversas e Ensaios sobre Literatura reúne mais de trinta artigos, entrevistas e discursos publicados entre 1960 e 2013 – ele encerrou a carreira cinco anos antes de morrer, em 2018, sem nunca ter recebido o merecidíssimo Nobel. O livro reúne estudos sobre Franz Kafka, Saul Bellow e outros escritores judeus, com quem Roth compartilhava a origem e muito de sua identidade. Reduzir sua vasta obra a esse nicho, no entanto, seria a maior das injustiças: suas memórias de infância no pequeno bairro de Weequahic, em Newark, estado americano de Nova Jersey, são tão universais como as aldeias russas de Tolstói ou a então provinciana Dublin de James Joyce.

Por que Escrever? traz ainda conversas com colegas sobre o ofício da escrita, entre eles o tcheco Milan Kundera e o italiano Primo Levi, mas, sobretudo, nos brinda com a visão de Roth sobre a própria carreira. Quem leu O Complexo de Portnoy ficará surpreso com a metodologia racional que o gerou. O autor ironiza a reação da comunidade judaica, não pela falta de qualidade do livro, mas, ao contrário, por sua veracidade: foi chamado de traidor por revelar o que se passava na cabeça de um jovem judeu, sem a vitimização e “perfeição” que suas famílias julgavam que eles tinham. Foi uma das diversas revoluções que Roth promoveu – e que agora, com esse livro, podemos compreender como e de onde elas vieram.