O secretário municipal de Educação de São Paulo, João Cury, lamentou a decisão do Ministério da Educação (MEC) de não avaliar este ano o nível de alfabetização das crianças brasileiras. “A alfabetização na idade certa é uma meta fundamental para o País e as redes municipais e estaduais precisam de bons diagnósticos para poder agir sobre o tema”, disse.

O secretário estadual de Educação de Pernambuco, Fred Amâncio, lembrou que países do mundo todo têm ampliado as avaliações como um instrumento importante de política pública. “A perda de um ano é irreparável para avaliação, interrompe uma série histórica.” O aluno progride na série e nunca mais terá testada sua alfabetização, explica. Segundo ele, o conselho de secretários vai pedir que o MEC desista da mudança. “É um retrocesso”, disse a secretária de Educação do Ceará, Eliana Estrela.

A prova estava prevista para ocorrer em outubro, com alunos de 7 anos de idade. A divulgação de que a avaliação não mais ocorreria, feita com exclusividade pelo jornal O Estado de S. Paulo, desencadeou mais uma crise no MEC, que entrou em convulsão nas últimas semanas.

Segundo fontes, o próprio ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, não foi informado da mudança executada no Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep), órgão do ministério responsável pelos exames. Vélez também ficou irritado com a repercussão negativa da decisão.

Especialistas que fazem parte do Conselho Nacional de Educação (CNE) e secretários de Educação também foram surpreendidos e criticaram a medida. Pelo contrário, o MEC vinha garantindo a eles que manteria a avaliação da mesma forma que havia sido proposta no ano anterior. O ministério havia criado um grupo de trabalho para discutir uma política de alfabetização, que se reuniu durante os últimos dois meses.

A secretária de Educação Básica, Tânia Almeida, fazia parte do grupo e também foi surpreendida com a medida. Por causa disso, ela resolveu se desligar da pasta. “Tais decisões não convergem com o trabalho realizado por mim nesta secretaria, nos últimos meses”, declarou em nota. Ela é a terceira integrante do alto escalão a deixar a pasta nos últimos dias.

Pré-escola

Outra mudança foi na prova para a educação infantil (0 a 5 anos). Pela primeira vez, havia a previsão de todas as creches e pré-escolas passarem por avaliações. As crianças não fariam testes, mas todos os professores e responsáveis pelas escolas responderiam a questionários sobre estrutura, projeto pedagógico, materiais. Agora, a portaria prevê que apenas uma amostra seja avaliada, “em caráter de estudo-piloto”.

Pela primeira vez também todos os alunos de 9.º ano fariam provas de Ciências da Natureza e Ciências Humanas. O Inep agora decidiu que só uma amostra, ainda a ser selecionada, passará pelos novos exames. A opção pela amostragem, em vez de avaliar todos os alunos, indica intenção de economizar recursos, mas especialistas questionam se haverá influência nos resultados. As escolas particulares também serão escolhidas por amostragem e não poderão se voluntariar para prova, como ocorreu na edição anterior.