A violência do Hamas “não justifica a punição coletiva” aos palestinos, afirmou, nesta sexta-feira (8), o secretário-geral da ONU, colocando pressão no Conselho de Segurança, que deve decidir sobre seu chamado a um “cessar-fogo”, rejeitado pelos Estados Unidos.

“Condeno sem reservas” os ataques do Hamas em 7 de outubro, mas “a violência cometida pelo Hamas não pode justificar, em nenhum caso, a punição coletiva do povo palestino”, declarou António Guterres.

Também afirmou estar “aterrorizado pelas acusações [contra o Hamas] de violência sexual”, assim como fez sua representante especial para violência sexual em conflitos, Pramila Patten, que viajará para Israel em missão oficial por este tema.

Na quarta-feira, o secretário-geral invocou pela primeira vez o artigo 99 da Carta da ONU para provocar esta reunião extraordinária do Conselho sobre um assunto que “poderia colocar em perigo a manutenção da paz e da segurança internacionais”.

“Mesmo que o lançamento indiscriminado de foguetes contra Israel por parte do Hamas e o uso de civis como escudos humanos sejam violações das leis da guerra, esse comportamento não absolve Israel de suas próprias violações”, insistiu, descrevendo uma vez mais uma situação humanitária “no ponto limite” na Faixa de Gaza.

“O mundo e a História estão olhando para nós. É hora de agir”, acrescentou, diante dos membros do Conselho, pedindo-lhes que “pressionem por um cessar-fogo humanitário imediato”.

O embaixador palestino na ONU, Riyad Mansour, conclamou: “É chegada a hora da coragem […] É preciso agir agora.”

E, em Washington, os ministros das Relações Exteriores de vários países árabes e da Turquia fizeram um chamado pelo fim “imediato” da guerra.

Desde o ataque sem precedentes contra Israel lançado pelo movimento islamista palestino Hamas, que segundo as autoridades israelense deixou cerca de 1.200 mortos, principalmente civis, Israel impôs um “cerco total” e bombardeou maciçamente a Faixa de Gaza.

Alimentos, água, combustível e medicamentos chegam a conta-gotas, enquanto cerca de 1,9 milhão de pessoas, 85% da população, tiveram que deixar suas casas, de acordo com a ONU.

Segundo o Ministério da Saúde do Hamas, que governa Gaza, mais de 17.000 pessoas morreram na ofensiva israelense, a maioria mulheres e menores de idade.

– Novo fracasso? –

Após a invocação do artigo 99 por parte de Guterres, os Emirados Árabes Unidos prepararam um projeto de resolução cuja votação foi adiada para o fim do dia.

A última versão desse breve texto vista pela AFP destaca a “situação catastrófica na Faixa de Gaza” e “exige um cessar-fogo humanitário imediato”, assim como a libertação “imediata e incondicional” de todos os reféns e “garantias de acesso humanitário” ao território palestino.

Contudo, a oposição dos Estados Unidos – principal aliado de Israel e membro permanente com poder de veto – faz com que seja pouco provável que o Conselho aprove um cessar-fogo.

“Não apoiamos os pedidos de um cessar-fogo imediato”, insistiu o embaixador americano Robert Wood. “Isto apenas semearia as sementes da próxima guerra, porque o Hamas não deseja uma paz duradoura”, acrescentou.

Por sua vez, o embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, disse que “o verdadeiro caminho para a paz é apoiar apenas a missão de Israel, e não um chamado a um cessar-fogo”.

Quatro projetos de resolução já foram rechaçados pelo Conselho nas semanas posteriores ao início da guerra, por falta de votos suficientes ou por vetos russos, chineses e americanos.

O Conselho finalmente rompeu seu silêncio em meados de novembro, ao aprovar uma resolução que pedia “pausas e corredores humanitários” na Faixa de Gaza, mas não um “cessar-fogo”, e nem sequer uma “trégua”.

“Apressar uma votação sem negociar seria um grande erro”. “A última coisa que o Conselho precisa hoje é um novo enfrentamento e um novo fracasso”, afirmou nesta sexta-feira o embaixador francês na ONU, Nicolas de Riviere, evocando uma possível continuidade das negociações no fim de semana para evitar “uma objeção de um ou outro membro permanente”.

Por outro lado, a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) denunciou que “a inação do Conselho de Segurança das Nações Unidas e os vetos dos Estados-membros, em particular dos Estados Unidos, os tornam cúmplices do massacre em curso”, em um comunicado de imprensa.

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