O secretário de Mudanças Climáticas da cidade de São Paulo, José Renato Nalini, avalia que a capital paulista ainda não está pronta para as mudanças climáticas, mas garante haver um trabalho intenso para a solução de enchentes. A declaração foi dada em entrevista à IstoÉ.
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Nalini citou o trabalho com drenagens nas regiões que mais são atingidas pelas chuvas na cidade, mas culpa a ocupação “insana” na capital pela dificuldade à adaptação aos problemas climáticos. Na avaliação do ex-presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), a cidade sofre com um crescimento “doentio”.
“É de se reconhecer que hoje não está preparada totalmente, mas há um trabalho insano da prefeitura. São Paulo é fruto de uma ocupação insensata, irracional. Nós temos um país imenso, muito território, não faz sentido a gente concentrar só nos limites de uma cidade quase 13 milhões de pessoas, que começam a ocupar áreas que são insuscetíveis de sediar moradia”, afirma o secretário.
“O bioma Mata Atlântica está previsto na Constituição e ainda tem lei da Mata Atlântica, lei dos mananciais, entretanto temos uma ocupação completamente obsessiva, uma coisa que para as pessoas entenderem precisam sobrevoar aquela região em um fim de semana e ver a força do mutirão, parece um formigueiro trabalhando. Então, é um crescimento doentio, é uma metástase o crescimento na região dos mananciais”, completa.
Nos últimos meses, a capital paulista sofreu com enchentes nas principais ruas e avenidas da cidade, além da queda frequente de árvores, provocando falta de energia em grande parte da cidade. Um dos principais motivos para as quedas é a demora na poda dos galhos ou a podridão dos troncos das árvores.
Paralelo a isso, a mata nativa no centro expandido da capital paulista tem dado lugar ao concreto dos prédios que são construídos nas principais regiões da cidade. Nalini critica a derrubada de árvores, mas defende que São Paulo é uma das cidades mais arborizadas do mundo.
“É um problema complexo. Agora, surpreendentemente, eu, se não estivesse na secretaria, não teria noção daquilo que São Paulo tem de verde. A comunidade internacional reconhece São Paulo como uma das cidades mais arborizadas do mundo. Nós temos plumas de reconhecimento que São Paulo tem verde”.
“Um levantamento empírico através de georeferenciamento, satélite, drones e etc, fez um cálculo de que nós temos 89 milhões de árvores, número que me surpreendeu, eu não teria ideia”.
Entretanto, em meio às críticas pela queda de árvores, a Prefeitura de São Paulo se vê envolvida em uma polêmica na construção de um túnel na Avenida Sena Madureira, na Zona Sul de São Paulo. Ambientalistas criticam o corte de árvores no canteiro central, enquanto o prefeito Ricardo Nunes (MDB) tenta a liberação a todo custo da obra.
Nalini minimizou a polêmica e disse acreditar no “mau menor” apontado pelos técnicos. O secretário ressaltou a redução de gases do efeito estufa ao diminuir o trajeto dos motoristas que seguem para o litoral.
“Eu, particularmente, também não gosto da destruição de árvores e tudo mais. Os técnicos dizem que se houver um encurtamento da distância que os veículos vão percorrer até às rodovias que conduzem até o litoral, vai haver uma redução na emissão dos gases causadores do efeito estufa. Isso é o que teria justificado a obra. É aquele cotejo entre o mau menor e o mau maior”, avalia.
“Os técnicos consideram que o mau menor seria eliminar essas árvores e fazer o encurtamento do trajeto. Mas veja que a população, de tal forma, ela reagiu que hoje a obra está parada. Segundo consta, eles chegaram a lançar sementes no lugar e já está crescendo”, completou.