O governo do presidente Donald Trump se viu, nesta quinta-feira (2), em um novo escândalo sobre as supostas relações com a Rússia durante a campanha eleitoral, após revelações de que seu secretário de Justiça mentiu sobre encontros com o embaixador de Moscou em Washington.

Líderes democratas pediram a renúncia do secretário e procurador-geral, Jeff Sessions, depois que foi confirmado que ele se reuniu por duas vezes com o diplomata russo, em contradição com seu depoimento no Senado antes de sua posse.

As novas revelações relançaram os pedidos de vários legisladores para a nomeação de um investigador especial independente para revisar a suposta intervenção russa na campanha. Isso acaba, abruptamente, com a trégua depois do comemorado discurso do presidente na terça-feira (28) diante do Congresso.

O novo capítulo do escândalo constitui outro golpe para a administração do presidente americano, que rechaça as acusações de ingerência da Rússia e desmentiu, em várias ocasiões, seus eventuais vínculos com responsáveis de Moscou.

Nesta quinta-feira, ao ser consultado pela imprensa se mantinha sua confiança em Sessions, Trump respondeu: “Total”.

Entretanto, o presidente admitiu que “não estava ciente” dos contatos de Sessions com o embaixador russo durante a campanha eleitoral.

Sessions, ultraconservador de 70 anos e um dos primeiros apoiadores de Trump no Partido Republicano, reconheceu ter se reunido com o embaixador Sergey Kislyak em julho e setembro, diferentemente do que havia declarado no Senado. Mas afirmou que os encontros ocorreram quando era senador, e não como assessor de Trump.

Em janeiro, durante as sabatinas no Senado e sob juramento, Sessions afirmou que “não tinha contatos com os russos”.

“Quando for adequado”

“Nunca me reuni com um responsável russo para discutir uma campanha política”, disse Sessions na manhã desta quinta-feira à emissora NBC.

Em um outro caso semelhante, o então conselheiro de Segurança Nacional nomeado por Trump, Michael Flynn, renunciou ao cargo em fevereiro, depois da informação de que se encontrou com o embaixador russo em Washington quando Barack Obama ainda era presidente.

A Casa Branca confirmou os encontros de Sessions, mas afirmou que não havia feito nada de reprovável, considerando que as revelações do Washington Post eram um novo “ataque” democrata contra Trump.

“Sessions se reuniu com o embaixador em sua qualidade oficial de membro da comissão das forças armadas do Senado, o que é completamente coerente com seu depoimento”, afirmou um responsável da Casa Branca.

Trata-se de um novo “ataque dos democratas contra a administração Trump”, completou.

Em Moscou, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse não estar ciente desses encontros, mas destacou que “o trabalho do embaixador é ter a maior quantidade de encontros possíveis, inclusive com os representantes do poder Executivo e Legislativo do país”.

O cargo de Sessions está no centro do problema. Como procurador-geral, supervisiona o FBI (a Polícia Federal americana) e as investigações sobre as possíveis relações entre pessoas próximas a Trump e Moscou.

Jeff Sessions anunciou que se recusará a participar de qualquer investigação sobre os contatos do comitê de campanha com funcionários russos.

Pedidos de renúncia

No Capitólio, a pressão aumenta, inclusive em seu próprio partido.

Jason Chaffetz e Kevin McCarthy, dois republicanos “pesos-pesados”, pediram que Sessions abandone sua autoridade sobre a investigação do FBI.

“Sessions deveria esclarecer seu depoimento e sair”, escreveu Chaffetz no Twitter.

Inúmeros democratas, e cada vem mais republicanos, pedem a nomeação de um investigador independente para analisar o tema.

“Não me interessa ser parte de uma caça às bruxas, mas tampouco serei parte de um encobrimento”, disse o senador Marco Rubio à rádio pública NPR.

Membros da oposição democrata vão além e pedem a renúncia do secretário.

“O Departamento de Justiça deve estar acima de qualquer recriminação. Pelo bem do país, o procurador-geral Sessions deve renunciar”, disse o líder dos democratas no Senado, Chuck Schumer.

Nancy Pelosi, líder da bancada Democrata no Congresso, disse que o ex-senador havia “mentido e deveria renunciar”.

Schummer reiterou os pedidos para nomear um investigador especial, mas advertiu que se o Departamento de Justiça postergar a decisão, legisladores de ambos os partidos deverão trabalhar juntos para criar um “conselho independente” encarregado das investigações necessárias.