Beatriz Busch está afastada das suas atividades desde o último dia 30 de março. A secretária de Saúde do Rio de Janeiro testou positivo para o novo coronavírus. Com isso, Beatriz ficou internada na capital fluminense e foi submetida a diversos tratamentos, inclusive o uso de hidroxicloroquina.

Após passar pelo período mais perigoso da Covid-19, Beatriz já está em casa, mas usando máscara junto com seu marido e suas filhas. Ao jornal O Globo, a secretária enviou um testemunho descrevendo o que ela sentiu desde o começo, com os primeiro sintomas até o atual momento de isolamento social.

A rotina

A última semana de março foi muito cansativa com a campanha de vacinação, as agendas do gabinete de crise e entrevistas sempre tentando demonstrar os esforços e as estratégias de enfrentamento da epidemia. A minha agenda não poderia ser diferente e eu acumulava uma rotina de mais de 12h de trabalho, dormindo pouco e me alimentando mal.

A Equipe da Secretaria Municipal de Saúde teve uma extensa reunião com o Sr. Prefeito na tarde do domingo dia 29/03 demonstrando os últimos números e a importância de intensificar o distanciamento social sobretudo nas comunidades e estávamos preocupados com a baixa adesão aos hotéis. Falamos sobre os leitos de CTI e o hospital de campanha que estava sendo montado no RioCentro.

A internação

Na noite do domingo tive febre alta. Acordei muito cansada na segunda-feira e permaneci trabalhando de casa. Como a tosse, febre e o cansaço só pioravam meu marido e eu colocamos máscaras e fomos ao Barra Dor na noite de segunda-feira.

Além da febre e do cansaço, a falta de ar causava muita apreensão. Fui rapidamente atendida pois o hospital estava vazio. Colheram sangue, o swab com material para Covid19 e ainda RX e tomografia. Em alguns minutos estava internada no CTI pois a tomografia tinha uma imagem característica de pneumonia bilateral.

Hidroxicloroquina e medo dos médicos

A internação para quem nunca ficou em hospital em situações que não fossem felizes (partos das minhas filhas) foi bem pesada. Isolamento total do mundo exterior. Só médicos e profissionais de saúde entravam rapidamente no quarto. Eles tinham muito medo também. Medo de se contaminar, medo por não ter boas notícias para dar. Foram muito humanos principalmente nos três primeiros dias durante os quais meus resultados de exames pioravam. Usaram em mim todos os recursos que havia lido em artigos recentes, inclusive a Hidroxicloroquina.

‘A saudade e o isolamento eram terríveis’

Veio o resultado positivo para Covid19, me emprestaram um palm para falar com minhas filhas. Foi a melhor coisa que aconteceu naqueles dias porque a saudade e o isolamento eram terríveis. Os dias se passaram e foi muito difícil: falta de ar, náuseas, perdi o olfato e o paladar.

Mudança do quadro

No quarto ou quinto dia de internação quando tudo estava muito ruim mesmo, com febre e dormindo sentada para respirar eu simplesmente melhorei. Eu mesma dei a notícia ao médico pela manhã. Eu estava melhor, algo havia mudado. Daí em diante os resultados de marcadores inflamatórios foram melhorando e em dois dias eu fui transferida para uma outra área de isolamento respiratório fora do CTI e ontem voltei para casa.

Cansaço e isolamento da família dentro de casa

Ainda estou cansada e evitando falar. O tempo todo anotei o que me fazia sentir melhor pensando em usar na rotina do Hospital de Acari nosso hospital dedicado ao Covid. Estou isolada das minhas filhas e marido no meu quarto e todo mundo aqui usando máscaras e lavando as mãos o tempo todo. Precisarei ficar ainda 14 dias em casa por causa da pneumonia mas já posso trabalhar daqui.Recebi centenas de mensagens de apoio e tentei responder a todas ontem quando cheguei em casa.

Volta ao traballho

A tosse já não incomoda tanto e sinto muita vontade de voltar para o meu trabalho. Nossa equipe é muito dedicada e estão cuidando muito bem do planejamento para enfrentarmos essa epidemia. Em uma semana que estive internada os números aumentaram muito o que é preocupante mas era previsível. Hoje o meu maior desejo é retornar ao time, agora imunizada e contribuir ainda mais.

‘Esse vírus que devastou o mundo não conhece a força do SUS’

Como médica, eu tenho a certeza de que esse vírus que devastou o mundo não conheceu a força do SUS e que vamos passar por isso fortalecidos. Nesse momento o importante é a união de todos nessa batalha com a população fazendo a sua parte e ficando em casa até isso tudo passar.

´É preciso ficar em casa’

Aproveito esse espaço para reforçar que é preciso ficar em casa. E dizer que todos os esforços estão sendo feitos no município do Rio para garantir leitos e tratamento necessário aos pacientes de Covid19 mas nenhum serviço de saúde do mundo é capaz de atender a todos ao mesmo tempo em uma pandemia nova, como essa, por isso, a importância do isolamento social.