28/08/2021 - 9:30
A nova secretária municipal de Cultura de São Paulo, Aline Torres, pretende priorizar as regiões mais necessitadas da cidade. “A questão não é o que não foi feito, e sim o que vamos potencializar. Vamos ampliar ainda mais as ações na periferia de São Paulo para que as iniciativas culturais se espalhem por toda a cidade”, disse Aline ao Estadão, por escrito, em sua curta e primeira entrevista após ter sido anunciada no cargo.
Sobre seus planos, a narrativa é clara. “A integração periferia-centro, que já vinha acontecendo nos últimos anos, tem que ser aprofundada, tanto na lógica da circulação de oportunidades quanto no protagonismo periférico na pauta da Secretaria de Cultura.”
Aline promete construir e fortalecer os equipamentos das regiões mais distantes do centro, ampliar a rede de cinemas da Spcine, estimular as iniciativas culturais pela cidade e fortalecer o Promac (Programa Municipal de Apoio a Projetos Culturais) para trabalhos feitos e realizados na periferia.
“Além do papel democrático, libertário, questionador e transformador da cultura, ela também tem de ser instrumento de inclusão e de geração de emprego e renda na nossa cidade”, afirmou. “Os recursos orçamentários estão garantidos, no mínimo, nos mesmos patamares que já são praticados. Nosso objetivo é sempre lutar por mais recursos e integração com os investimentos privados. A cultura e a economia criativa são peças importantes do plano de retomada econômica da cidade”, afirma.
Aos 34 anos, Aline chegou ao cargo no momento em que muitos no meio cultural e político esperavam que o prefeito Ricardo Nunes (MDB) daria uma guinada conservadora ou entregaria a pasta a algum aliado sem experiência na área após a saída de Alê Youssef, na quarta-feira, 25. Amigo de Bruno Covas (PSDB), que morreu em maio em decorrência de um câncer, Youssef, que começou na militância no PT, era considerado nos bastidores da administração municipal um secretário com bom trânsito no campo da “esquerda”.
Mas, apesar de ter um perfil mais conservador que Covas, de quem foi vice, Nunes não pretendia demiti-lo. Com a escolha de Aline, relações-públicas que também é pesquisadora de questões raciais e atuante em coletivos de juventude negra, o prefeito espera consolidar sua estratégia de priorizar as regiões mais pobres da cidade.
Apesar de filiada ao MDB, Aline não é considerada uma indicação da cota do partido, mas uma escolha pessoal do prefeito. Quando Alê Youssef decidiu entregar o cargo, os auxiliares de Ricardo Nunes passaram a discutir com ele a escolha de uma mulher, e o primeiro nome lembrado foi o da ex-prefeita Marta Suplicy. Mas ela preferiu ficar no cargo de secretária de Relações Internacionais.
Militância
Integrante dos grupos de renovação política Raps e RenovaBR, Aline Torres, que até então ocupava o posto de secretária adjunta de Inovação e Tecnologia, começou sua militância na periferia e se tornou um quadro da juventude do PSDB, partido do qual foi filiada durante 17 anos. Ela migrou para o MDB porque perdeu espaço em disputas internas no diretório, mas continuou próxima dos tucanos, que certamente terão espaço na sua gestão. Sobre política, porém, ela prefere ainda não falar.
Ela é pós-graduada em Gestão de Projetos Culturais pela USP e já soma dez anos de experiência na área de gestão cultural – chegou a ter uma passagem pela Secretaria Estadual de Cultura, na qual avaliou projetos inscritos no Proac. Aline foi ainda diretora-geral do Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso, na zona norte da cidade.
No site da Prefeitura, ela assim descreve seu perfil: “pesquisadora da transformação cultural do racismo e em coletivos de juventude negra, com o intuito de despertar questões raciais em espaços de poder e promover a inclusão por meio de políticas públicas e leis de incentivo à cultura”.
Em sua despedida do cargo, Alê Youssef revelou, em um vídeo, ter enfrentado dificuldades para descongelar verbas contingenciadas de 2021. Sobre o assunto, a prefeitura paulistana afirma ter liberado para a Cultura, neste ano, verbas que somam R$ 608,2 milhões, valor que pode ser aumentado. E, em 2020, foram aplicados R$ 651,9 milhões.
Entre os diversos projetos que Aline deverá cuidar na pasta da Cultura nos próximos meses, um dos maiores certamente será o que trata das comemorações do centenário da Semana de Arte Moderna, acontecida em 1922, no Teatro Municipal. Youssef contou que deixou pronto o planejamento estratégico até 2024, inclusive o projeto para as comemorações do centenário, que ele chamou de 22+100.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.