22/05/2020 - 9:33
A Secretaria de Comunicação da Presidência da República fez uma postagem na quinta-feira (21) afirmando que a hidroxicloroquina “é o tratamento mais eficaz” contra o novo coronavírus. A fonte da informação é um questionário online, feito por email, que não tem peso de evidência científica. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.
De acordo com a postagem, a “informação foi levantada por uma pesquisa internacional feita com mais de 6 mil médicos de 30 países”. Em outra mensagem, a Secom informa ainda que o levantamento mostrou que 37% de médicos dos médicos que responderam o questionário “acreditam” que a hidroxicloroquina é o tratamento mais eficaz.
O relatório usado como base para as publicações da Secom foi feito no início de abril pela Sermo, plataforma online para médicos, resultante de questionários enviados. O relatório também aponta que os tratamentos mais comuns usados contra a Covid-19 eram analgésicos, azitromicina e hidroxicloroquina.
No entanto, a eficácia de medicamentos não é medida por meio de questionários. Para validar se uma droga tem efeito ou não sobre uma doença, pesquisadores fazem estudos com administração do medicamento para um grupo de pacientes ao mesmo tempo que um segundo grupo recebe o tratamento padrão disponível (o que é chamado de grupo controle).
Pesquisadores ouvidos pela Folha ressaltam que à época em que o relatório foi produzido, as evidências quanto à hidroxicloroquina eram ainda mais escassas. Os maiores estudos sobre o assunto foram publicados nas últimas semanas.
Por meio de nota enviada à Folha, a assessoria de imprensa da secretaria confirmou que a postagem tem como base um questionário online. A postagem da Secom é relacionada ao novo protocolo do Ministério da Saúde sobre cloroquina.
Na quarta-feira (20), a OMS (Organização Mundial da Saúde) afirmou que não recomenda que cloroquina e hidroxicloroquina sejam usadas no tratamento de Covid-19, somente em estudos clínicos.
O Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (Niaid, na sigla em inglês), dos EUA, também contraindica o uso de hidroxicloroquina e azitromicina para tratamento da Covid-19. Associações médicas brasileiras e especialistas afirmam ainda que a droga, pelo seu risco associado, só deve ser utilizada em pesquisas.