Mais de 150 botos, em torno de 10% dos que vivem no Lago Tefé, no coração da Amazônia, morreram em uma semana devido à seca extrema e às altas temperaturas registradas na região, informaram pesquisadores nesta terça-feira (17).

Equipes de emergência encontraram um total de 153 botos mortos na última semana de setembro no lago, onde a temperatura de água alcançou 39,1°C, mais de sete graus acima do limite habitual, segundo o Instituto para o Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM, na sigla em inglês) e o grupo ambientalista WWF-Brasil.

O lago fica no estado de Amazonas, que tem sido fortemente castigado pela estiagem, no ponto onde o rio Tefé se encontra com o Amazonas.

Pesquisadores registraram 130 botos-cor-de-rosa e 23 tucuxis mortos. Os dois tipos de cetáceos estão catalogados como espécies com populações em declínio pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Também houve uma enorme mortandade de peixes, afirmaram.

“É estarrecedor o que está acontecendo no Lago Tefé. O impacto da perda desses animais é enorme e afeta todo o ecossistema local”, disse Mariana Paschoalini Frias, especialista em conservação de WWF-Brasil, citada em um comunicado.

“Botos são considerados ‘sentinelas’. Ou seja: são indicativos da saúde do ambiente onde vivem. O que acontece com eles se reflete nas outras espécies que vivem ao redor, inclusive a humana”, acrescentou.

A seca reduziu drasticamente os níveis dos rios, afetando uma região que depende dos cursos d’água para transporte e abastecimento.

O governo federal enviou ajuda de emergência à região, onde as margens dos rios, normalmente movimentadas, se transformaram em um monte terra rachada, com diversos barcos encalhados.

Segundo os especialistas, a estação seca na Amazônia piorou este ano pelo fenômeno El Niño.

A ministra de Meio Ambiente, Marina Silva, também atribuiu a estiagem extrema à “mudança climática descontrolada”.

Funcionários do porto de Manaus registraram nesta terça-feira o nível de água mais baixo em 121 anos.

O rio Negro marcava apenas a 13,49 metros, nível mais baixo desde que começaram os registros em 1902.

A densa fumaça provocada pelos incêndios florestais também envolveu Manaus em uma nuvem tóxica nos últimos dias, obrigando o cancelamento da maratona da cidade no último domingo, entre outros eventos.

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