O Iraque é um dos países do mundo mais afetados pelas mudanças climáticas. O sul do país, em particular, sofre com a seca extrema há meses. Para evitar que as plantações sequem, grandes quantidades de água foram retiradas do reservatório de Mossul – o mais importante do Iraque – desde dezembro.

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Isso levou ao reaparecimento de uma cidade da Idade do Bronze que havia sido submersa décadas atrás sem nenhuma investigação arqueológica prévia. Seria Zakhiku, cidade do Império Mitani localizada em Kemune, na região do Curdistão do Iraque.

Esse evento imprevisto colocou os arqueólogos sob pressão repentina para escavar e documentar pelo menos partes dessa grande e importante cidade o mais rápido possível antes que fosse ressubmersa. O arqueólogo curdo dr. Hasan Ahmed Qasim, presidente da Organização de Arqueologia do Curdistão, e os arqueólogos alemães drª Ivana Puljiz (Universidade de Freiburg) e prof.-dr. Peter Pfälzner (Universidade de Tübingen) decidiram espontaneamente realizar escavações conjuntas de resgate em Kemune. Estas ocorreram em janeiro e fevereiro de 2022, em colaboração com a Direção de Antiguidades e Patrimônio de Duhok (Região do Curdistão no Iraque).

Os grandes edifícios escavados do período mitani são medidos e documentados arqueologicamente. Crédito: Universidade de Tübingen

Pressão de tempo

Uma equipe para as escavações de resgate foi montada em poucos dias. O financiamento para o trabalho foi obtido em curto prazo da Fundação Fritz Thyssen através da Universidade de Freiburg. A equipe arqueológica germano-curda estava sob imensa pressão de tempo porque não estava claro quando a água no reservatório subiria novamente.

Em pouco tempo, os pesquisadores conseguiram mapear amplamente a cidade. Além de um palácio, que já havia sido documentado durante uma curta campanha em 2018, vários outros grandes edifícios foram descobertos – uma enorme fortificação com muros e torres, um edifício monumental de armazenamento de vários andares e um complexo industrial. O extenso complexo urbano data da época do Império Mitani (cerca de 1550-1350 a.C.), que controlava grande parte do norte da Mesopotâmia e da Síria.

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“O enorme edifício de armazenamento é de particular importância porque nele devem ter sido guardadas enormes quantidades de mercadorias, provavelmente trazidas de toda a região”, disse Ivana Puljiz. Hasan Qasim acrescentou: “Os resultados da escavação mostram que o local era um importante centro do Império Mitani.”


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Vaso com tabuletas cuneiformes é inspecionado antes de ser recuperado. Crédito: Universidade de Tübingen (Crédito:Agência Brasil)

Boa preservação

A equipe de pesquisa ficou impressionada com o estado bem preservado das paredes – às vezes com uma altura de vários metros – apesar de elas serem feitas de tijolos de barro secos ao sol e estarem submersas por mais de 40 anos. Essa boa preservação deve-se ao fato de a cidade ter sido destruída num terremoto por volta de 1350 a.C., durante o qual o desmoronamento das partes superiores das muralhas enterrou os edifícios.

De particular interesse é a descoberta de cinco vasos de cerâmica que continham um arquivo de mais de 100 tabletes cuneiformes. Eles datam do período assírio médio, logo após o desastre do terremoto atingir a cidade. Alguns tabletes de barro, que podem ser cartas, ainda estão em seus envelopes de barro. Os pesquisadores esperam que essa descoberta forneça informações importantes sobre o fim da cidade do período Mitani e o início do domínio assírio na região. “É quase um milagre que tabletes cuneiformes feitos de argila crua tenham sobrevivido tantas décadas debaixo d’água”, disse Peter Pfälzner, da Universidade de Tübingen.

Vaso de cerâmica com tabuletas cuneiformes, incluindo uma que ainda está em seu envelope de barro original. Crédito: Universidade de Tübingen

Para evitar mais danos ao importante local pelo aumento da água, os edifícios escavados foram completamente cobertos com lonas plásticas apertadas e cascalho como parte de um extenso projeto de conservação financiado pela Fundação Gerda Henkel. Esta destina-se a proteger as paredes de barro cru e quaisquer outros achados ainda escondidos nas ruínas durante as épocas de cheias. O local está agora mais uma vez completamente submerso.


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