Daniel Silveira é aquele brutamontes que, para ser eleito – recebendo os votos de uma horda de selvagens – quebrou uma placa de sinalização (de uma praça) com o nome da vereadora Marielle Franco, assassinada no Rio de Janeiro em 2018.

Daniel veste-se como um bolsonarista (usa camisetas estampadas com armas e mensagens agressivas), fala como um bolsonarista (usa e abusa de palavrões e ameaças), atua como um bolsonarista (dentro e fora do Congresso) e acaba de ser preso.

Como? Por ser bolsonarista? Por óbvio, que não. Mas por se comportar como grande parte dessa malta (bolsonaristas) se comporta; de maneira criminosa! E aí incluo o presidente da República, useiro e vezeiro em cometer crimes semelhantes.

Primeiro o deputado. Depois eu trato do presidente:

Daniel gravou e publicou (no Youtube) um vídeo com cerca de 20 minutos em que ofende de maneira inacreditável quase todos os ministros da Suprema Corte. Pior ainda: faz ameaças diretas a Alexandre de Morais e a Edson Fachin.

Não satisfeito, prega abertamente a deposição dos onze ministros e o fechamento do STF, o que é crime contra a Constituição. O deputado também falou que sonha em assistir a ministros serem estapeados; inclusive por ele mesmo.

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Como encerramento, no momento de sua prisão, gravou e publicou novas ameaças, ainda mais sérias e contundentes: “Ministro, quero que você saiba que está entrando numa queda de braço que você não pode vencer. Não adianta querer me calar.”

E prosseguiu: “Eu já fui preso mais de 90 vezes na Polícia Militar do Rio. Fiquei em lugares que você nem imagina. Tu acha que vai mandar me prender, passando por cima da minha prerrogativa constitucional, me assustar e me calar? Claro que não!”

Se você considera isso normal em um Estado Democrático de Direito, se considera isso liberdade de opinião e expressão, e se considera que o rapaz está exercendo seu mandato parlamentar, portanto amparado em imunidade, você é cúmplice.

O que esse energúmeno – e boa parte dos bolsonaristas, com mandato ou não – faz é o tipo de crime que deveria ser punido com o máximo rigor, e tratado como exemplo, como medida pedagógica e, por que não?, profilática. É hora de isso terminar.

Agora Bolsonaro:

O presidente da República também já se cansou de atentar contra a democracia, e nada lhe aconteceu. Não foi uma nem foram duas, as vezes em que participou e apoiou atos pedindo fechamento do Congresso e da Suprema Corte.

Jair Bolsonaro não perde uma única oportunidade de agredir e incentivar agressões contra instituições democráticas, como a imprensa, a Justiça eleitoral e mesmo a Justiça criminal, colocando em cheque investigações e investigadores.

Neste carnaval mesmo, enquanto o País é varrido pelo novo coronavírus e chegamos a mais de 250 mil mortos por Covid-19, como um adolescente em férias o presidente ameaçou, outra vez, veículos de comunicação e plataformas de internet.

Bolsonaro, em mais de uma oportunidade, acusou o Estado brasileiro – prometeu provar, mas jamais o fez! – de fraude eleitoral, e avisou que se perder as eleições em 2022, o Brasil será palco de atos violentos como os vistos recentemente nos EUA.

Este mesmo senhor, sentado na cadeira de presidente da República, chamou o governador de São Paulo de “bosta”, e disse querer armar a população para que ela reaja contra prefeitos e governadores que impuserem o distanciamento social.

Ou seja, o “modus operandi” dessa horda que ascendeu ao Poder é praticamente o mesmo, pouco importando o cargo e a forma de violência; se através da internet ou se pessoalmente. Os robôs e perfis fakes nas redes sociais estão aí para provar.


Congresso e Forças Armadas:

Agora, caberá ao Congresso Nacional manter, ou não, a prisão de Daniel. Em outros tempos, creio que a tendência seria aliviar a barra do coleguinha. Porém, não custa lembrar, uma boa parte dos parlamentares respondem a processos no STF.

Arthur Lira, recém-eleito presidente da Casa, com apoio de Bolsonaro, é um exemplo. Cerca de 2/3 dos parlamentares estão enrolados com a Justiça; alguns com o próprio Supremo. Eu tenho minhas dúvidas se o corporativismo falará mais alto.

Congressistas bolsonaristas, aqui e ali, já se manifestaram a favor do colega arruaceiro, mas confesso que estou muito ansioso para ver a reação do presidente; ele próprio com diversos interesses na Suprema Corte (Flávio Bolsonaro que o diga).

Em tese, o vídeo foi feito em apoio às Forças Armadas, notadamente ao general Villas Bôas, após críticas feitas por Edson Fachin, correspondidas por Gilmar Mendes, em relação a uma suposta interferência dos militares no STF.

Fato ou falso, é fundamental a manifestação, tanto do general quanto das Forças Armadas, a respeito. É preciso que os militares deixem bem claro que não aceitam ser “defendidos” desta forma e nem por este tipo de gente. É imperioso que isso ocorra.

Mais uma vez, portanto, a energia da nação se deslocará do combate à Covid para a defesa da democracia, graças a essa seita maldita que se aboletou no Poder central e nos estados da Federação. Vacinas? Quem se importa? Afinal, um dia todos morrerão, não é mesmo, presidente?


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