Depois de uma semana tensa de votações e pressões políticas, a percepção em Brasília é que o governo Lula perdeu poder e saiu enfraquecido do embate com o presidente da Câmara, Arthur Lira. Acho que é uma ideia errada. Quem perdeu não foi o governo federal, nem Lula. Quem perdeu foi o Brasil, mesmo.

Se o Brasil fosse um filme, Lira seria o vilão. Ciro Nogueira seria seu fiel auxiliar do mal. Acostumado a negociar com um presidente fraco, na gestão anterior Lira e Ciro (“Lira e Ciro”, nome perfeito para dupla de vilões) montaram um “governo” dentro do governo. O “governo” deles não se preocupava em governar, claro, mas em manipular os números para repartir, entre seus aliados, as verbas bilionárias do orçamento secreto. Quando Lula assumiu, a torneira começou a fechar. Lira convocou o Centrão para dizer que sua turma não aceitava ficar de fora.

Para mostrar quem manda, Lira aprovou o Arcabouço Fiscal de Fernando Haddad. É como o vilão que dá uma colher de chá para o mocinho antes de mostrar sua verdadeira face. E daí Lira aprovou o Marco Temporal, que é uma espécie de legalização do genocídio indígena com o aval dos deputados ligados a garimpeiros e à extrema direita.

A maior prova de que Lira quer mostrar quem governa, porém, foi a MP da Esplanada. Os deputados simplesmente disseram quais autarquias e órgãos deveriam ficar ligados a quais ministérios. Será que isso foi para melhorar o funcionamento do sistema ministerial? Ou para transformar para melhor a vida do povo brasileiro? Claro que não. Não há razões técnicas para esvaziar o Ministério dos Povos Indígenas nem e o do Meio Ambiente. E o que dizer da volta do COAF ao Banco Central? Lula havia transferido o órgão de fiscalização financeira para o Ministério da Fazenda, o que seria uma medida óbvia. COAF é Conselho de Controle de Atividades Financeiras, ou seja, investiga lavagem de dinheiro. Como deixar o órgão que fiscaliza os bancos debaixo de um Banco Central “independente”?

Pensando bem, Lira é o vilão do Brasil – mas está longe de atuar sozinho.