O Pantanal é um tratado de ciência política. O único lugar do mundo onde jacaré, vaca e capivara convivem em harmonia total. Onde jacaré não come a vaca e respeita a capivara. A capivara não enche o saco do pintado e anima o dourado. Vai de férias com o pacu e prá escola com o curimbatá.

 

No Pantanal não tem rolo com deputado do Tuiuiú, mas tem muita macacada com senadores bugios, congressistas prego e deputados sagüis. No Pantanal arara-azul não é mais bicho em extinção — é ministro feliz fazendo ninho no oco das árvores que é bem melhor que no cérebro dos eleitores.

 

No Pantanal tem vereadora Iguana que é amiga e conhecida do prefeito camaleão e do assessor sinimbu. Os veados são inclusivos, amigos de jornalistas mateiros e campeiros que são apoiadores do cervo de lá.

 

No Pantanal tem cidadão gavião preto, menino gavião de penacho, mocinha chororó, mocinho garça, senhoritas andorinhas e amantes biguás entre muitas outras senhorias de pelo e penas. Diversidade. Minorias. Sustentabilidade. O Pantanal é o expoente máximo da democracia.

 

Mas no Pantanal o amigo da onça também é lobo com bafo de guará. Como em qualquer Câmara Alta onde os deputados se curtem com alegrias próprias de um bacanal, todo o mundo vive furando o distanciamento social.

 

No Pantanal se vive como num extraordinário palco onde não faltam lives de onça e lula. Podiam Jáir se habituando a conviver de novo, né? CNN Brasil! Bandnews! Jornal Nacional!

 

O Pantanal mato-grossense do Sul é um Planalto animal. Nenhuma Alvorada consegue ser melhor. Nem aqui, nem no Itamaraty.

 

No Pantanal acredita-se existir aproximadamente 650 espécie de aves, 234 espécies de peixes, 134 espécies de mamíferos e 100 espécies de répteis. Todos se respeitando no maior equilibro democrático de que há memória em todo o planeta.

 

Mas este paraíso metáfora da política está sendo impichado. Quando as imagens feitas antes das queimadas mostravam biodiversidade e agora mostram um deserto de cinzas, Bolsonaro declarou: “Brasil está de parabéns” pela forma como preserva o seu meio ambiente”.

 

No Pantanal a orla do rio está virando filé. No final da transpantaneira, lá onde a estrada se transforma em um pequeno porto de carga, a última onça ainda viva, acossada pelas chamas, suspira por ajuda.

 

— Quando passará o próximo navio? — Pensa ela, sem pinta de sangue, saudosa da canção que agora arde na loucura da política enlouquecida dos nossos tempos: se fugir o fogo pega, se ficar o bicho morre.