A deputada estadual pelo PCdoB do Rio Grande do Sul, Manuela D’Ávila, de 36 anos, é a mais jovem candidata à presidência da República. Mas essa sempre foi uma constante em sua vida. Começou a militar politicamente no movimento estudantil ainda aos 16 anos e, de lá para cá, não parou mais. Filiou-se ao PCdoB com 21 anos e logo aos 23 se elegeu como a mais nova vereadora da história de Porto Alegre. Ainda disputou a prefeitura da capital por duas vezes (em 2008 e 2012). Em 2012, já eleita deputada federal, chegou a ficar à frente nas pesquisas, mas em setembro foi ultrapassada por José Fortunati (MDB), que se elegeu ainda no primeiro turno. Por isso, já calejada por tropeços eleitorais do passado, ela não teme uma eventual falta de competitividade de sua candidatura, que patina e tende a não alçar vôos mais altos. O importante para ela é a defesa de suas bandeiras. “Precisamos transformar essa eleição num debate de alternativas para superar a crise”, disse em entrevista à ISTOÉ. Para demonstrar seu desapego, Manuela até admite abrir mão da corrida ao Planalto. “Se a minha candidatura é óbice à união das esquerdas, eu a retiro”, afirma. Desde, no entanto, que a saída de cena resolva o problema de unidade de seu campo político. “Nos retirando, apresentamos uma solução para a unidade da esquerda brasileira?”, voltou a indagar.

Enquanto segue no páreo, sem receio de ir até o fim, mesmo que lhe custe uma eleição praticamente certa ao governo do Rio Grande do Sul, seu estado, Manuela desfia suas ideias. A candidata do PCdoB promete, caso seja eleita, taxar as grandes fortunas e heranças. Outra proposta recheada de polêmica é a cobrança de impostos sobre a venda de drogas, como a maconha, cuja arrecadação seria aplicada nas comunidades que sofrem, segundo ela, com a guerra do tráfico.

Qual a sua opinião sobre a Lei da Ficha Limpa? Em que momento a lei deve começar a valer?

Mas essa questão já não está colocada, que é a partir de uma condenação em segunda instância? Temos que debater no Brasil se as decisões valem em segunda instância ou ao término de todas instâncias. Recentemente, o Supremo Tribunal Federal adotou um entendimento para outro conjunto de questões. Então acho que é a hora de a gente debater do ponto de vista da legislação mesmo. Como deputada, votei pela Ficha Limpa.

Seu partido historicamente sempre apoiou o PT. Por que nesta eleição deixou de apoiá-lo?

Não é que vamos deixar de apoiar o PT porque eu sou candidata, mas sim pelas razões pelas quais sou candidata. Nós acreditamos numa candidatura do PCdoB e fizemos esse debate no ano passado. Portanto, antes da prisão do Lula. Acreditamos que a crise econômica e o impeachment sem crime de responsabilidade abrem um novo ciclo para o Brasil e que nós precisamos transformar essa eleição em um debate de alternativas para superar a crise.

O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) disse que a senhora poderia desistir da candidatura para apoiar Ciro Gomes e que a senhora concorreria ao governo do Rio Grande do Sul. Isso é possível?

A minha candidatura não é óbice para a unidade da esquerda. Se eu retirar minha candidatura hoje, o campo progressista, desenvolvimentista, estará unido? Os outros três candidatos teriam essa disposição? Eu teria. Se a minha candidatura é o óbice para a união da esquerda, então não há mais óbice. A virtual retirada da minha candidatura não resolveria o problema da unidade de um campo político. Nos retirando, apresentamos uma solução para a unidade da esquerda brasileira? Não. Hoje, vocês me verão como candidata à Presidência. Jamais descartarei o Rio Grande do Sul, que é o estado que me fez deputada e vereadora. O fato é que, mesmo muito bem posicionada nas pesquisas para o governo do Estado, houve interpretação do meu partido de que o debate para saídas da crise nacional tem impacto na situação dos estados.

Quase metade do eleitorado declara voto branco ou nulo. Como reverter o descrédito da população na classe política?

É um dos grandes debates dessa eleição. Eu, aos 16 anos, tomei a decisão de me filiar a um partido político para transformar a realidade do nosso país. Percebi que não havia outra saída para o País a não ser transformar a nossa realidade. E essa saída seria através da minha participação política. Sou a prova de que é possível fazer uma política que transforma.

Quais reformas são as mais importantes?

Será o conjunto de reformas que eu defendo e que recomponham a capacidade de investimento público a partir de uma reforma tributária, que taxe os multimilionários, que cobre impostos sobre fortunas ou heranças, ou será a partir hipoteticamente da reforma da Previdência do Temer? Como seria o Brasil governado por mim? O Brasil buscaria construir um caminho próprio, seria livre para se desenvolver enquanto nação. Serei uma presidenta obcecada em combater a desigualdade.

Em que ponto a esquerda erra ao não tentar combater o discurso que permite a ascensão da direita?

O tema da intervenção militar decorre da ausência de legitimidade e autoridade do governo Temer. Diante de um quadro de insegurança geral, de 25 milhões de desempregados ou sub-ocupados, tu quer uma autoridade. Espero que todos os democratas pensem nisso, porque o oportunismo eleitoral da direita brasileira fez com que muitos flertassem com soluções autoritárias, como se liberais brasileiros tivessem sido picados por uma espécie de mosquinha do fascismo. Isso já nos custou mais de 20 anos de ditadura militar.

Qual a sua posição sobre a privatização da Petrobras?

Absolutamente contra. Privatizar não é um tema moral, e às vezes é tratado como se a esquerda não pode privatizar nada e a direita privatiza tudo. Acredito que a Petrobras tem um papel central no desenvolvimento nacional. Sou contra também a privatização da Eletrobrás.

E a reforma da Previdência?

Tenho acesso a dois números, do governo e da CPI, que são diferentes. É preciso debater a Previdência, mas precisamos saber exatamente qual a situação. Quando falamos de idade mínima, a gente se inspira em outros países em que os trabalhadores vivem de forma muito diferente que no Brasil. Temos que discutir quais os privilégios que precisam ser enfrentados.

Onde o comunismo deu certo? A senhora quer implantar o comunismo que nem na Albânia deu certo?

Falar da Albânia é falar de um tempo no passado. O PCdoB é um partido centenário, passou por vários acontecimentos do mundo ao longo da história. Esse é um debate absolutamente antigo e superado. Eu não defendo o modelo de nenhum país para o Brasil. Eu defendo que o Brasil construa o seu projeto de desenvolvimento único.

Mas vai taxar grandes fortunas?

Sim, vamos fazer isso. A minha idéia é a de que o Brasil precisa se desenvolver. Qual o parâmetro de desenvolvimento? Cada país tem o seu modelo de desenvolvimento que reflete o seu povo. Dá pra copiar? Não. São referências para se olhar, mas o Brasil tem que seguir seu caminho próprio.

Qual sua proposta para segurança?

Esse tema foi tratado de forma burocrática nos governos Lula e Dilma, como se fosse atribuição apenas dos governadores. Pretendo ser uma presidente que entenda a necessidade de uma reforma da segurança pública e que precisa ser feita a partir do olhar de quem defende os mais pobres. Temos que saber quais crimes queremos combater. Defendo o foco das ações no controle de armas, e no combate de homicídios e crimes sexuais. Os trabalhadores saem de casa pulando corpos de filhos de outros trabalhadores. Existe como desenvolver o país sem paz? Não.

E as falhas na educação, como resolvê-las?

Sou contra medidas propostas por outras candidaturas de federalização de níveis de educação, isso é comer pelas beiradas. Ou seja, não está bom o ensino médio e aí federaliza. Sou contra. A União precisa garantir a recomposição da capacidade de investimento dos estados e municípios. O tema é pacto federativo. Eu quero dar para todas as crianças brasileiras o ensino que eu pago para minha filha.

Quais suas propostas para a saúde?

Em primeiro lugar, a manutenção do SUS. Vivemos hoje um governo que ameaça de todas as formas o SUS. Temos que debater o financiamento do SUS, o tamanho do seu financiamento e as formas que temos de garantir o melhor investimento dos recursos.

Quais suas idéias para o combate à corrupção?

Os modelos do mundo no combate à corrupção que eu estudei são baseados em uma palavra que não tem tradução em português, ‘accountability’, que é mistura de transparência com participação popular. O governo é como uma parede de vidro, em que a população não tem acesso às informações. Temos estruturas de Estado que garantem que os casos sejam investigados e punidos, mas não impedem que a corrupção aconteça.

Sua opinião sobre o aborto?

Defendo que seja tratado como tema de saúde pública. O aborto é uma escolha da mulher.

E sobre a pena de morte?

Sou contra. Acredito no ser humano e que podemos ressocializar os infratores quando for possível e nos proteger deles quando for necessário.

A senhora é a favor da descriminalização das drogas?

Defendo a tributação das drogas, em comércio legal, mas não em qualquer comércio. É preciso debater o assunto de forma científica e não moral. Defendo a tributação das drogas e que esse recurso seja usado nas comunidades que vivem a guerra das drogas.

Por que a senhora se considera a melhor candidata à presidência?

O Brasil precisa ser governado por uma pessoa comum, que não pensa que a política deve servir em benefício próprio. Eu acredito no Brasil e sou a melhor candidata porque tenho condições de construir esse caminho, dialogando com o Congresso, mas, sobretudo, com a sociedade. Precisamos garantir que o Brasil debata saídas para a crise e virar a página de um sentimento de ódio que impregna determinadas candidaturas.

Participaram da sabatina os jornalistas: Camila Srougi, Cilene Pereira, Germano Oliveira, Luis Artur Nogueira, Mário Simas Filho, Ralphe Manzoni Jr e Ricardo Boechat

 

Mercado Financeiro

 

Leia a íntegra da sabatina com Manuela D’Ávila 

 

Qual a sua opinião sobre a Lei da Ficha Limpa? A ideia de garantir que todos os candidatos tenham a vida limpa, o é uma ideia válida, o problema é que temos que decidir em qual momento ela deve começar a valer, e a partir de qual instância as decisões judiciais valem ou não, e não debater provisoriamente, mas de forma definitiva.

Mas essa questão já não está colocada, a partir de uma condenação em segunda instância? Temos que debater no Brasil se as decisões valem em segunda instância ou ao término de todas instâncias. É um debate muito vivo no Brasil sobre diversas questões. Na Lei da Ficha Limpa há um entendimento no projeto original. Como deputada votei na Ficha Limpas. Recentemente, o Supremo Tribunal Federal adotou um entendimento para outro conjunto de questões. Então acho que é a hora de a gente debater do ponto de vista da legislação mesmo.

E qual o seu ponto de vista?

Temos que parar de comer pelas beiradas no Brasil. Se o nosso problema é o tempo que o Judiciário leva para julgar, então é esse o problema que temos que enfrentar. Comer pelas beiradas é buscar atalhos, é dizer que o conjunto de regras do Brasil não é certo. Acelera-se o processo judicial e não se mudar ao bel prazer a interpretação da lei, mas enfrentar a demora real do Poder Judiciário.

Seu partido historicamente sempre apoiou o PT. Por que nesta eleição deixou de apoiar o PT?

Não é que vamos deixar de apoiar o PT porque eu sou candidata, mas sim por quais razões eu sou candidata nesse ano. O que difere esse momento do nosso país dos outros. O PCdoB teve pré-candidatos em 1930 e em 1946, em duas ocasiões muito emblemáticas. Nós acreditamos, e fizemos esse debate no ano passado, portanto antes da prisão do Lula, e acreditamos que a crise econômica e o impeachment sem crime de responsabilidade abrem um novo ciclo para o Brasil e que nós precisamos transformar essa eleição em um debate de alternativas para superar a crise. Acreditamos que nessa eleição temos que enfrentar o desemprego crescente do País.Vivemos uma crise econômica muito grande e o PCdoB acreditou que a melhor forma de debater saídas para ela seria com a minha candidatura.

O deputado Orlando Silva disse que a senhora poderia desistir da candidatura para apoiar outro candidato de esquerda e concorrer ao governo do Rio Grande do Sul. Isso é possível?

O Orlando disse aquilo que nós do PCdoB defendemos desde o sempre, que a minha candidatura não é óbice para a unidade da esquerda. Se eu retirar minha candidatura hoje, o campo progressista, desenvolvimentista, estará unido? Os outros três candidatos teriam essa disposição? Eu teria. Se a minha candidatura é o óbice pra união da esquerda, então não há mais óbice. A virtual retirada da minha candidatura não resolveria o problema da unidade de um campo político. Nós retirando, apresentamos uma solução para a unidade da esquerda brasileira? Não. Então vocês me verão pelo que eu sou. Hoje sou pré-candidata e vocês me verão como candidata à presidência. Jamais descartarei o Rio Grande do Sul, é o estado que me fez deputada e vereadora. O fato é que, mesmo muito bem posicionada nas pesquisas para o governo do estado, houve interpretação do meu partido de que o debate para saídas da crise nacional tem impacto na crise dos estados.

Como uma candidata comunista enxerga a polarização entre esquerda e direita? Somos um partido centenário. E a política decorre de cada momento da história. Evidente que o centro das nossas opiniões, que é a busca de um Brasil justo e sem desigualdade, é o que nos pauta desde 1922, mas em cada circunstância política a saída, ou a forma como é preciso enfrentar os desafios e a desigualdade, são únicos. Cada momento ao longo da história constrói particularidades únicas. Nessa eleição haverá centro político? Qual exatamente pode ser o projeto de um centro político em um momento em que o País debate se terá um projeto de desenvolvimento próprio ou se seguirá com o projeto do Temer, que parece morto, mas expressa seu projeto em um conjunto de candidaturas? Para mim, nessa eleição a nitidez pragmática será muito mais elevada que em muitos momentos. O próximo governo invariavelmente será reformista. O debate é qual será o conjunto de reformas? Será o conjunto de reformas que eu defendo, que recomponha a capacidade de investimento público a partir de uma reforma tributária que taxe os multimilionários, que cobre impostos sobre fortunas ou heranças, ou será a partir hipoteticamente da reforma da previdência do Temer? Como seria o Brasil governado por mim? O Brasil buscaria construir um caminho próprio, seria livre para se desenvolver enquanto nação. Serei uma presidente obcecada pela desigualdade do nosso país. A desigualdade se manifesta de diversas formas e todas elas são muito crueis. 0,6% da população, se eu não me engano, declara receber mais de R$ 160 mil por mês. Nesse mesmo país, 1,2 milhão de pessoas não cozinham com gás, mas cozinham com lenha. Qual outro país tem uma desigualdade tão avassaladora como a nossa? Nesse país, 40 mil mulheres, quase todas negras, enterram seus filhos vítimas da guerra do tráfico. Portanto, o meu País, seria um país que buscaria um caminho para a retomada do crescimento da economia, para com isso, diminuir as desigualdades.

Quase metade do eleitorado declara voto branco ou nulo. Como reverter o descrédito da população na classe política?

É um dos grandes debates dessa eleição. Eu, aos 16 anos, tomei a decisão de me filiar a um partido político para transformar a realidade do nosso país. Percebi que não havia outra saída para o País a não ser transformar a nossa realidade. E essa saída seria através da minha participação política. Sou a prova de que é possível fazer uma política que transforma. Não tenho pai e mãe na política, me filiei a um partido por acreditar naquela ideologia, construí minhas candidaturas acreditando que a transparência absoluta dos meus mandatos poderiam garantir mandatos melhores. Em certo sentido, acredito que eu expresso a renovação na política, não é à toa que pela primeira vez que uma mulher de 36 anos, que não tem parentes na política, é candidata à presidência da república.

Qual sua estratégia para chegar ao segundo turno?

Eu posso dizer algo que muito me orgulha: quem me conhece, vota em mim. Felizmente, tenho acumulado votos ao longo da minha trajetória política. É por isso que já pontuo 7% na região sul e 5% entre os jovens graças às redes sociais. De um lado, eu trago isso. De outro lado, vou trabalhar muito mais em torno da candidatura. Não sou conhecida em todo o país. Quero fazer o pulo do gato disso para as transformações. Em qual contexto me elegerei? Se a população se revoltar contra esse conjunto de injustiças. Se isso acontecer, se nós conseguirmos durante o processo eleitoral fazer alguns debates, que já acontecem no povo, se a gente fizer essas pessoas entenderem compreenderem que essa indignação tem que ser uma indignação com uma cara mais elevada, que a negação não resultará na transformação, mas o envolvimento na política pode resultar, eu terei com quem governar. Se isso acontecer, terei com quem construir reformas profundas na sociedade brasileira. Será que nós não temos que ter força política par fazer o debate sobre uma nova política de drogas no Brasil? Será que é possível pensar numa política de segurança pública que não passe pela alteração do que nós, enquanto brasileiros, queremos enfrentar? Eu quero ser a presidente que enfrenta homicídios e crimes sexuais e que deixa de prender jovens com 40 gramas de maconha, porque nós precisamos nos proteger de jovens com 40 gramas de maconha ou ter polícias com capacidade para investigar e prender homicidas e criminosos sexuais? O governo que eu posso fazer é fruto de uma tomada de consciência e de aproveitamento da energia dessas pessoas que se desgastam e não aguentam mais a política.

Isso não está posto desde 2013 e ninguém se mostrou capaz de unir isso?

A população deu muitos sinais em 2013. A angústia geral das mobilizações iniciais era com a falta de infraestrutura urbana, que é um tema que aflige os brasileiros e brasileiras. A indignação era muito relacionada à qualidade e volume de serviços prestados à população, uma indignação justa. Mas as respostas dadas não foram as adequadas, levou a um impeachment sem crime de responsabilidade e a um governo sem legitimidade e sem autoridade. Isso faz as pessoas pensarem que as soluções podem ser autoritárias, porque percebem que ali falta autoridade. Tem autoridade para negociar com o Congresso, com grevistas? Não tem. Então as pessoas pensam ‘falta quem mande aqui, então vamos chamar quem manda’. Aí tem as pessoas que flertam com a ideia de intervenção militar. Em 2013, a demanda era mais serviços, mais saúde, mais segurança, mais educação mais infraestrutura urbana. Tem como um presidente que defende a PEC do teto de gastos garantir tudo isso? Não tem.

Em que ponto a esquerda erra ao não criar um discurso único que chegue à população para tentar combater a ascensão da direita?

O tema da intervenção militar decorre da ausência de legitimidade e autoridade do governo Temer. Diante de um quadro de insegurança geral, de 25 milhões de desempregados ou sub-ocupados, tu quer uma autoridade. Decorre de um sentimento legítimo. O sentimento é legítimo. A ideia de que não há comando legitimado pela população. Eu espero que o discurso de que haja um presidente legítimo, mediante uma eleição livre e limpa, não seja um discurso que una apenas o campo progressista, da esquerda. Espero que a democracia não seja apenas a bandeira do meu campo político. Espero que todos os democratas pensem nisso, porque o oportunismo eleitoral da direita brasileira fez com que muitos flertassem com soluções autoritárias, como se liberais brasileiros tivessem sido picados por uma espécie de mosquinha do fascismo. Não podemos buscar atalhos. Não pode ser assim. Isso já custou mais de 20 anos do país, durante a ditadura militar.

Falta autocrítica à esquerda?

No meu partido, não. A gente debate de forma permanente. A minha candidatura já é a expressão disso, dos nossos pensamentos, já é uma manifestação disso. Isso passa pela forma com que nos comunicamos, de plataformas mesmo, da dificuldade que alguns setores têm de entender que não precisamos nos dividir em dois grupos – os que apoiaram o golpe e os que foram contra o golpe. Eu quero discutir com o povo brasileiro inteiro, porque muita gente se equivocou e defendeu o impeachment sem crime de responsabilidade. Precisamos voltar a governar o Brasil. Não estamos discutindo qual partido está certo e qual está errado, estamos discutindo os 25 milhões de desempregados e como deixamos de tê-los. Sim, tem que fazer autocrítica, mas temos que trocar o pneu com o carro andando, com a eleição em andamento, enquanto se impede que esse projeto do Temer, e seus candidatos-satélites, sigam governado e destruindo o Brasil.

Qual sua proposta para o mercado financeiro e empresariado?

Um diálogo estrutural é com o setor produtivo. Não tem como falar em distribuição de riquezas, que eu defendo, sem gerar essa riqueza. E quem gera riqueza? O setor produtivo. Os juros praticados no Brasil depredam a nossa indústria e fazem com que quem investe na produção cada vez mais invista menos, porque vale mais a pena no Brasil de hoje, com tantos juros, investir na especulação. A política é de diálogo. O Brasil precisa retomar sua capacidade industrial. É o diálogo a partir da ideia de que não seremos uma grande nação sem indústrias.

Como reduzir juros?

Através da manutenção de bancos públicos, porque eles podem praticar juros mais baixos e estabelecer competição no mercado.

Qual a sua posição sobre a privatização da Petrobras?

Absolutamente contra. Privatizar não é um tema moral, e às vezes é tratado sim, a esquerda não pode privatizar nada e a direita privatiza tudo. Mas é um tema relacionado ao desenvolvimento do país. Acredito que a Petrobras tem um papel central no desenvolvimento nacional. Sou contra também a privatização da Eletrobrás porque não consigo imaginar o Brasil recompondo a sua capacidade industrial e entregando seu setor energético para outros países administrarem. São empresas estratégicas para um projeto de desenvolvimento do País que eu defendo. Com a greve dos caminhoneiros pudemos ver que a Petrobras ser gerida apenas pelo seu presidente, sem relação com o estado brasileiro, não têm êxito. Em um país em que o sistema modal é o transporte rodoviário, desconectar isso de um projeto do país, encarece não só a gasolina e o diesel, fica caro o tomate, o arroz, a batata, tudo. Defendo a Petrobras pública.

E sua opinião sobre a reforma da Previdência?

Tenho acesso a dois números, do governo e da CPI, que são diferentes. É preciso debater a Previdência, mas precisamos saber exatamente qual a situação. A idade tem que ser vinculada ao mundo de trabalho. Quando a gente fala de idade mínima, a gente se inspira em outros países em que os trabalhadores vivem de forma muito diferente que no Brasil. Existe como vincularmos o debate da idade à redução da jornada de trabalho, porque estamos entre os países que mais trabalham no mundo. Não estamos falando em trabalhar mais dois anos lá na frente com uma vida digna durante toda a existência. A gente está falando em trabalhar muito, muito mais que um francês por exemplo. Temos que discutir quais os privilégios que precisam ser enfrentados.

Outro debate é sobre privilégios para aposentadoria de determinadas categorias, como a dos professores. De que forma valorizar os professores?

Melhorando a vida e o salário.

Mas inclui a Previdência?

Como regra geral os professores deveriam se aposentar antes? Depende. O argumento não é só esse, não só do salário, mas do volume de atribuições e grau de complexidade do trabalho em sala de aula. Defendo que algumas categorias sejam tratadas de forma diferente. Estamos nessa etapa da montagem do nosso plano de reforma da Previdência.

A senhora disse que privatização não é uma questão moral, então o que a senhora privatizaria caso fosse eleita?

Não tenho uma resposta para te dar, mas não existe impedimento moral para debater esse assunto. A gente precisa ter a mente aberta para fazer a discussão sobre isso. O centro é: as privatizações propostas por esse governo são de entrega de setores estratégicos do país. O que está colocado em pauta hoje jamais seria privatizado por mim.

Onde o comunismo deu certo até hoje? A senhora quer implantar o comunismo no Brasil? Nem na Albânia, que serviu de base para a criação do PCdoB, o comunismo deu certo…

Falar da Albânia é falar de um tempo no passado. O PCdoB é um partido centenário, passou por vários acontecimentos do mundo ao longo da história. Esse é um debate absolutamente antigo e superado, de Albânia ou não Albânia. Eu não defendo o modelo de nenhum país para o Brasil. Eu defendo que o Brasil construa o seu projeto de desenvolvimento único, porque somos um país único.

Mas vai taxar grandes fortunas? Fazer reforma urbana? Seria assim que o comunismo seria implantado?

Sim, vamos fazer. A minha ideia é a de que o Brasil precisa se desenvolver. Qual o parâmetro de desenvolvimento? Cada país tem o seu modelo de desenvolvimento que reflete o seu povo. Dá pra copiar? Não. São referências para se olhar, mas o Brasil tem que seguir seu caminho próprio. Ter modelo é algo que ficou no passado, pelo menos para nós do PCdoB, porque parece que pra direita isso continua valendo.

O que é ser comunista no século 21?

Ser comunista no século 21 é acreditar na justiça social, acho que essa é a principal razão fez eu me filiar há 20 anos no PCdoB e seguir militando e buscando um Brasil justo, na ideia de que o Brasil precisa e pode ser justo. Pra nós do PCdoB, é ser comunista no Brasil, somos o partido comunista do Brasil, significa qual o caminho brasileiro para conseguir essa justiça social. Não temos a menor ideia de qual caminho o Brasil vai seguir. Não temos a mínima união em torno disso.

Então a senhora vai taxar grandes fortunas?

Vou, mas taxar grandes fortunas já é feito em outros países. Vamos ter reforma tributária.

Vai tirar dos ricos para dar aos pobres?

É uma boa figura de linguagem, mas não é exatamente isso. Vamos parar de tirar dos pobres e dar para os ricos. O Brasil tem hoje uma estrutura tributária baseada nos pobres, que pagam impostos no consumo e não tributa renda de forma adequada, não tributa heranças. É o país da piada pronta, que quer falar em meritocracia, mas não tributa herança como fazem outros países capitalistas.

Qual sua proposta para segurança?

Esse tema foi tratado, de uma maneira geral, de forma burocrática nos governos Lula e Dilma, como se fosse atribuição apenas dos governadores. Pretendo ser uma presidente que entende a necessidade de uma reforma da segurança pública e precisa ser feita a partir do olhar de quem defende os mais pobre. Temos que saber quais crimes queremos combater no país. Defendo o foco das ações no controle de armas, e no combate de homicídios e crimes sexuais. Se a gente foca nisso, significa necessariamente que temos que pensar em como ter polícias que consigam investigar. A polícia hoje não tem capacidade de investigar. Isso é tarefa do governo federal – academia de polícia, investimento em inteligência, banco de DNA. As polícias brasileiras, os mais numerosos, que são os policiais militares, não são autorizados a investigar. É possível resolver os principais crimes sem eles investigando? É um dos conjuntos de questões. O segundo é com um olhar a partir da perspectiva da esquerda. Temos uma polícia com boa relação com o povo trabalhador? Não. O povo trabalhador, em muitas situações, tem medo da polícia. Defendo que a gente tenha mecanismos para transformar as nossas polícias. Temos que trabalhar com os excessos da polícia, quando a polícia comete violência. A vida inteira a esquerda segurou o cartaz ‘queremos menos violência policial’, mas quem quer ser presidente não pode segurar cartaz, mas criar uma polícia que dialogue com a população. Defendo que a gente crie inspetorias e ouvidorias da polícia para que a gente possa punir os maus policiais. Por fim, legalização das drogas não resolveria o problema da violência, mas precisamos pensar que, dos 726 mil presos, a maioria são jovens pegos com baixíssimas quantidades de drogas e entram em facções nos presídios. Ou seja: sem enfrentar esse tema também não resolveremos mais o problema da segurança pública.

Temas da violência transitam no campo dos estados e do Congresso. O que depende do Executivo?

A elaboração de uma reforma da segurança, fazer um debate de acordo com o tamanho desse problema pro não desenvolvimento do Brasil. Os trabalhadores saem de casa pulando corpos de filhos de outros trabalhadores. Existe como desenvolver o país sem paz? Não. A reforma da segurança pública deve ser prioridade.

O Brasil tem falhado na educação, qual sua proposta para a área?

Sou contra medidas propostas por outras candidaturas de federalização de níveis de educação, isso é comer pelas beiradas, não está bom o ensino médio e aí federaliza. Sou contra, a União precisa garantir a recomposição da capacidade de investimento dos estados e municípios. O tema é pacto federativo. É isso que tem impacto no ensino fundamental e no ensino médio. Com dinheiro para estados e municípios investirem, o centro da preocupação da União deve ser o número de horas que as crianças ficam nas escolas, quantas horas crianças e adolescentes ficam e em quais atividades. A União precisa debater com os municípios a ampliação das vagas de creches e ensino infantil. Primeiro, porque é direito das crianças  e tem impacto na evasão escolar lá adiante. A criança que é menos estimulada cognitivamente tem mais chance de evadir. Segundo, porque a inexistência das creches e escolas infantis tem impacto na vida das mulheres. 50% das mulheres não conseguem voltar ao trabalho no primeiro ano da vida dos filhos. O tema da educação infantil deve ser prioritário. A escola não é um lugar multimilionário, mas precisa ser um local que estimule as crianças. Outro conjunto de investimentos do governo é em ensino superior. Existe como ter retomada da indústria sem produção de ciência básica? Não. Isso tem relação com investimentos em ensino superior. Precisamos aprofundar o nosso conhecimento em ciência básica.

As cotas nas universidades precisam ter prazo para encerrar?

Eu lutei e ajudei a aprovar muitas legislações locais de cotas. Defendo que tenham prazo de validade, mas isso só poderá ser debatido mais adiante. Ainda falta muito para termos justiça no acesso ao ensino superior. Qual será o prazo de validade? Mais adiante poderemos ver.

Quais sua propostas para saúde?

Em primeiro lugar, a manutenção do SUS. Vivemos hoje um governo que ameaça de todas as formas dos SUS. Temos que debater o financiamento do SUS, o tamanho do financiamento do SUS e as formas que temos de garantir o melhor investimento dos recursos, a partir até da economia que podemos fazer através de incrementos tecnológicos. O SUS serve a todos os brasileiros e brasileiras. Os planos privados cumprem um papel complementar. Sou contra a substituição do SUS pelos planos de saúde populares privados. A iniciativa privada não deve ocupar o lugar do SUS, defendo o fortalecimento do SUS e o debate sobre o aumento do financiamento, mas não há problema que soluções inovadoras possam ser feitas numa espécie de PROUNI da saúde.

O Estado vive uma grave crise fiscal, se tudo der certo, o déficit desse ano será de R$ 159 bilhões. Como a senhora pretende ter recursos para implantar tudo isso?

É preciso recompor a capacidade do estado e o eixo central disso é a reforma tributária – cobrar dos ricos, combater a sonegação, tributar lucros e dividendos, tributar grandes fortunas, tributar heranças que permitam que os estados também recomponham suas capacidades de investimento. Não penso em governar o país nesse estado de coisas, mas penso em implantar medidas, que a curto prazo, possam melhorar a arrecadação do estado. Para 99% do povo a carga tributária é exagerada. Defendo que se tribute menos o povo. A carga tributária é altíssima para o povo brasileiro e pequeníssima para a elite.

Quais suas ideias para o combate à corrupção?

Os modelos do mundo no combate à corrupção que eu estudei são baseados, inclusive, em uma palavra que não tem tradução em português, é ‘accountability’, que é mistura de transparência com participação popular, a ideia de que um pode garantir o outro numa relação permanente. O governo é como uma parede de vidro, em que a população tem acesso às informações. É preciso garantir que a Lei da Transparência seja bem aplicada e divulgue os dados de forma mais clara possível. Nós temos estruturas do estado que servem para coibir a corrupção, mas que tem feito seu papel de forma limitada, porque garante que os casos sejam investigados e punidos, mas não impede que a corrupção aconteça. Por que mesmo com Tribunais de Conta, Ministério Público, etc, a gente não impede os fatos de acontecerem? Não tenho a clareza dessa resposta do por que segue acontecendo mesmo com os mecanismos de fiscalização do estado brasileiro. Acredito muito que a participação das pessoas na política é capaz de fazer com que os políticos sejam diferentes. Temos que conscientizar as pessoas sobre os processos, a população também pode ser parceira para além dos órgãos de fiscalização que já temos.

Qual o peso da questão da ética no seu governo?

Para mim, é inadmissível a gente pensar que, quem defende o estado como eu defendo, não seja um obcecado em garantir que esse estado sirva às pessoas. Quem defende um estado de bem-estar social como eu defendo, tem que ser obcecados com a transparência do estado. Ética é uma obrigação de quem defende o estado, garantir que o dinheiro público seja bem usado. É condição inicial para quem entra na vida pública.

Sua opinião sobre aborto?

Defendo que seja tratado como tema de saúde pública. Temos que debater a legislação atual com a população. Sim, aborto é uma escolha da mulher.

Pena de morte?

Sou contra. Acredito no ser humano e que podemos ressocializar os infratores quando for possível e nos proteger deles quando for necessário.

Descriminalização das drogas?

Defendo a tributação das drogas, em comércio legal, mas não em qualquer comércio. É preciso debater o assunto de forma científica e não moral. Precisa pensar para que servirá a tributação, porque a mera tributação não vai reparar o prejuízo das comunidades. Defendo a tributação e que esse recurso seja usado para duas finalidades: nas comunidades que viveram a guerra das drogas e em campanhas de conscientização sobre o uso abusivo de drogas.

Ensino religioso nas escolas públicas?

Sou contra, porque, via de regra, não aglutina o conjunto de religiões do povo brasileiro. Como eu defendo que todas as pessoas, com suas religiões ou não religiões, convivam harmonicamente, é errado que apenas uma religião seja manifestada no ensino. Os brasileiros que não são cristãos, como eu, acabam penalizados, por isso sou contra.

Redução da maioridade penal?

Os brasileiros são muito enganados. No Brasil, a pessoa pode ser presa com 12 anos. Quem não sabe que uma FEBEN é uma prisão, não sabe de nada. Sugiro que visitem para entender que é um tipo de punição, é um tipo de prisão e que os brasileiros a partir dos 12 anos já podem ser submetidos a ela. Eu defendo a manutenção da idade atual porque já acho que 12 anos ser submetida a medidas de restrição de liberdade já é uma idade baixa.

Armamento da população?

Sou contra o armamento da população. O candidato à presidência que tem coragem de apresentar a ideia de que a solução para o problema da segurança pública é individual, que não passa por uma política nacional e por um debate com os estados e as grandes cidades, é incapaz de governar o país. O armamento da população só agravaria o problema da violência. Tem que existir uma política nacional de segurança pública.

Medidas para igualdade de gênero?

A desigualdade é construída a partir de duas questões fundamentais: gênero e raça. Quem é mulher, sofre mais os impactos dessa desigualdade. Mulher e negra, ainda mais. O tema da educação infantil é fundamental. Ser mãe da minha filha de dois anos e nove meses me dá muito mais trabalho que ser pré-candidata à presidência da República. O tema da educação infantil, apesar de não estar ligado à mulher, é um tema que nos diz respeito. A gente elaborou uma proposta que o seguro-desemprego seja dobrado no tempo e teto para mães de crianças de até 2 anos em situação de desemprego. Temos que incentivar a igualdade salarial. Não podemos admitir que brasileiros e brasileiras recebam salários diferentes por trabalhos iguais. O Estado existe para nos dizer o que a gente pode e não pode fazer. Então as empresas brasileiras não podem pagar diferente por trabalhos iguais. Governo meu não vai licitar com empresa que faz isso. A educação precisa ser uma educação para adversidades, temos índices tristes de aumento de suicídios de jovens, que tem muito a ver com práticas machistas, misóginas e homofóbicas. Não dá para mudar o Brasil sem mudar a cabeça das pessoas. Claro, a gente precisa estruturar delegacias especializadas no atendimento à mulher, garantir que a rede de atendimento prevista na Lei Maria da Penha seja completa, mas eu quero garantir que a minha filha não seja morta. Como faz isso? Educando brasileiros e brasileiras para a igualdade de gênero. Às vezes as pessoas falam: ‘ah, mas a escola vai falar isso sendo que as crianças não aprendem nem matemática e português?’. Pra mim, salvar a vida de uma mulher é tão importante quanto crase. É tão importante quanto somar 2 + 2 e acertar no 4. Não é menos. É tão importante quanto para sermos um grande país. Eu acredito que o machismo estrutura a desigualdade e é um impeditivo para o crescimento e o desenvolvimento nacional.

O PCdoB tem apenas 16 deputados. Como governar e dialogar com o Congresso? Como governar com um Congresso cada vez mais conservador?

Minha bancada é motivo de muito orgulho, porque o Congresso Nacional tem 9% de mulheres, nós temos 45%. O Congresso tem 20% de negros e pardos, nós temos 60%. A gente é a prova de que, quando existe espaço, as mulheres e os negros podem ocupar o poder. Não acredito em democracia representativa se as pessoas olham para o Congresso e não se enxergam. Eu falei que só seria presidente em um levante, uma verdadeira rebelião da população, numa percepção da sociedade de que é possível ocupar o poder e transformar a realidade. Eu não tenho medo de ser presidente. Vou conversar com o povo brasileiro. Seria fácil pra mim que sou mulher, sem parente na política, em um partido pequeno, falar mal do Congresso. O Congresso tem todas as suas limitações e falhas que todos vocês conhecem e que o povo viu de maneira bastante estereotipada na votação do impeachment. Esse mesmo Congresso do impeachment foi o Congresso que aprovou, por exemplo, o PROUNI. Eu acredito que, se eu for eleita, esse Congresso será melhor. Mas mesmo esse Congresso, com todos os limites que o povo conhece, quando existe projeto, ele pode votar se o povo quiser. Deputado com ‘bafo na nuca’ e sabendo o que o povo quer, é outro deputado. Reforma da previdência não passou por que? Greve geral.

Mas passou reforma trabalhista, PEC do teto de gastos, lei das terceirizações?

Porque esse é o projeto desse governo.

A senhora pretende convocar um referendo revogatório para essas reformas?

Sim, pretendo. Mecanismos como esse também estimulam a participação. Referendos revogatórios também têm esse sentido, de envolver a sociedade, de debater os rumos do país, de ampliar a construção de um projeto de desenvolvimento a muitas mãos.

Revoga a reforma trabalhista e volta à CLT?

Primeiro, faz o referendo revogatório com a participação da população e, sim, pode-se voltar à CLT. Hoje, precisamos dessas garantias para os trabalhadores brasileiros.

A senhora falou em um presidente que dialogue com a população, ninguém fez isso mais que o Lula, mas mesmo assim, para se eleger, teve que fazer a carta para os brasileiros, e para governar, teve que fazer aliança com Maluf etc?

Foi o caminho que ele escolheu, eu acredito que é possível fazer diferente.

Qual sua avaliação do governo Dilma?

Precisamos pensar se a crise foi ocasionada pelo governo Dilma, como disseram aqueles que articularam o impeachment sem crime de responsabilidade, ou é fruto de uma crise estrutural do capitalismo que afetou o mundo inteiro? Porque se fosse uma crise do governo Dilma, o Temer e sua equipe dos sonhos teriam resolvido, não? Por que aconteceu isso? Aconteceu porque as medidas foram erradas e a crise abalou o mundo. Diante dessa crise, as medidas do governo Temer também foram equivocadas. Acho que parte expressiva do impeachment é uma narrativa misógina. O que construiu no povo a ideia do impeachment? Foi falar que a Dilma era incapaz, que a Dilma gritava, que a Dilma precisava de um namorado. A passagem da Dilma pela presidência, com acertos e erros, pode ser avaliada de diversas formas. Temos críticas a determinadas políticas adotadas, mas a lição é: não é fácil ser mulher na política do Brasil e é preciso refletir isso, sobre o quanto pesou no processo de cassação o fato de ser uma mulher.

Por que a senhora se considera a melhor candidata à presidência?

O Brasil precisa ser governado por uma pessoa comum, que não pensa que a política deve servir em benefícios próprio. Eu acredito no Brasil, sou a melhor candidata porque tenho condições de construir esse caminho, dialogando com o Congresso, mas sobretudo com as demais pessoas comuns, que trabalham e vivem a realidade brasileira todos os dias. Precisamos nos agarrar nas eleições de 2018, na ideia de que precisamos virar a página, com eleições limpas e livres, garantir que o Brasil debata saídas para a crise, virar a página de um sentimento de ódio que impregna determinas candidaturas e que não resolverá os problemas do Brasil. Precisamos de alguém que acredite no Brasil para os brasileiros e brasileiras de verdade.