Durante uma cúpula especial em Paris nesta segunda-feira (17/02), vários chefes de governo europeus concordaram em ampliar gastos militares e ajuda à Ucrânia, em resposta à determinação de Donald Trump de tirar de cena o relevante apoio de Washington.
No entanto, não chegaram a um consenso sobre uma das condições colocadas pelo presidente americano em seu impulso de tentar negociações com a Rússia para encerrar a guerra, que se arrasta há quase três anos: o envio de tropas europeias para uma missão de manutenção da paz no país invadido. Alemanha e Polônia se opuseram à proposta.
A reunião foi organizada pelo presidente francês Emmanuel Macron e teve a presença dos líderes da França, Alemanha, Grã-Bretanha, Itália, Polônia, Espanha, Holanda e Dinamarca, além dos chefes do Conselho Europeu, da Comissão Europeia e da Otan.
O chanceler federal alemão Olaf Scholz disse, após o encontro, que rejeita uma “paz imposta” e o envio de forças de paz para a Ucrânia, o que classificou de “altamente inapropriado”.
“Essas discussões me surpreendem, eu admito. Eles estão falando pelas costas dos ucranianos sobre os resultados de negociações que não ocorreram, com as quais a Ucrânia não concordou e não foi convidada a participar”, disse Scholz à mídia alemã ao sair da reunião.
“É um debate inadequado no momento errado e sobre o assunto errado”, acrescentou. O líder alemão afirmou que os contatos entre os Estados Unidos e a Rússia devem ocorrer, mas enfatizou que “uma paz imposta não pode ser permitida”.
O chanceler disse esperar que Kiev continue seu caminho para a adesão à União Europeia e defender sua soberania e segurança, o que precisaria do apoio europeu e dos EUA.
Scholz também destacou que todos os líderes presentes concordaram com a meta de investir 2% do PIB em defesa, embora “alguns não tenham chegado lá, mas estão a caminho”.
Macron, que concovou a reunião às pressas para tratar do tema, falou com Trump por telefone pouco antes da cúpula e já tinha manifestado sua abertura à ideia de enviar tropas, contanto que não fosse uma “capitulação” da Ucrânia.
O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, deixou claro que estava pronto para fazer o mesmo, desde que os Estados Unidos fornecessem apoio.
A chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que “a Ucrânia merece paz por meio da força” e que isso deve “respeitar sua independência, soberania e integridade territorial, com fortes garantias de segurança”.
Temor pela soberania da Ucrânia
O plano de Trump para resolver a guerra alimentou o receio de que pudesse conduzir a concessões dolorosas para Kiev e deixar o continente vulnerável ao expansionismo do Kremlin.
Os países europeus agora avaliam medidas para se tornarem menos dependentes dos Estados Unidos nessa questão, o que envolve aumento dos gastos com defesa e o envio de tropas para a Ucrânia como forças de paz quando um cessar-fogo for acordado.
Após a simbólica ligação telefônica de Trump para Putin, em que trataram de um possível início de negociações para encerrar a guerra, o governo americano enviou aos aliados europeus um questionário em que pergunta, entre outras coisas, se estariam dispostos a enviar soldados de manutenção da paz para a Ucrânia.
Trump disse ter concordado com a avaliação feita pelo secretário de Defesa americano, Pete Hegseth, de que é improvável que a Ucrânia retorne às suas fronteiras pré-2014, quando a Rússia anexou a Crimeia ao seu território, e tentou minimizar a questão ao dizer que “parte daquela terra voltaria” aos ucranianos.
O presidente dos EUA também disse que não seria “prático” para a Ucrânia se juntar à aliança militar Otan, um desejo do presidente ucraniano Volodimir Zelenski.