O chanceler alemão, Olaf Scholz, recebeu nesta terça-feira (20) o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, em uma reunião em meio ao reajuste diplomático em relação ao gigante chinês.

Nomeado em março, o líder chinês escolheu a Alemanha para sua primeira viagem oficial ao exterior.

O presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, que se reuniu com Li na segunda-feira, já deixou claro o contexto do encontro e suas dificuldades.

“A China é um parceiro para Alemanha e Europa, mas também cada vez mais um concorrente e um rival na arena política”, disse ele, por meio de seu porta-voz.

Oito ministros alemães, incluindo os ministros da Economia, das Finanças e das Relações Exteriores, participam das consultas desta terça-feira.

É “um teste para saber se ainda é possível uma verdadeira colaboração entre Berlim e Pequim”, afirma o diretor do Instituto Global de Políticas Públicas (GPPI), Thorsten Benner, em conversa com a AFP.

A visita será um ponto de inflexão em relação aos anos anteriores, especialmente durante a época da então chanceler Angela Merkel, quando a Alemanha queria, sobretudo, reforçar suas relações comerciais com a China.

– “Turbilhão de divisão” –

No plano econômico, Berlim busca diversificar seus parceiros para “reduzir os riscos” derivados de uma dependência excessiva do gigante asiático em setores estratégicos.

No nível diplomático, as divergências entre os dois países são muito mais marcadas: das ameaças chinesas contra Taiwan às acusações de maus-tratos à minoria uigur, passando pela falta de condenação de Pequim à invasão russa da Ucrânia.

Esses obstáculos são refletidos em um documento publicado por Berlim na semana passada, no qual a China é descrita como uma força hostil.

A China age “contra nossos interesses e valores”, afirma o governo alemão em sua Estratégia de Segurança Nacional. Ainda assim, o texto insiste na necessidade de continuar tratando o país como um “parceiro” e de obter a cooperação de Pequim em outros temas-chave, como a luta contra a mudança climática.

A China não apreciou ser rotulada de “concorrente, rival, ou adversária”, e afirmou que isso leva a “um turbilhão de divisão e confrontação”.

O último relatório dos serviços de Inteligência alemães, publicado nesta terça-feira, também designa o gigante asiático como “a maior ameaça em matéria de espionagem econômica e científica, e de investimentos diretos estrangeiros na Alemanha”.

Em seu encontro de véspera com o presidente alemão, Li afirmou que a China está disposta a trabalhar com a Alemanha para contribuir para “a estabilidade e a prosperidade mundiais”.

– Difícil equilíbrio –

China e Estados Unidos retomaram o diálogo com a recente visita do secretário de Estado americano, Antony Blinken, a Pequim. Mas as discordâncias persistem entre os dois países.

Em meio à tensão entre ambas as potências, a Alemanha se apresenta como um bom interlocutor para Pequim, especialmente no momento em que a economia chinesa enfrenta dificuldades para se recuperar, após a pandemia da covid-19.

“A China pode buscar obter o apoio de Berlim para tentar manter o livre-comércio entre a China e a UE”, afirma o economista Gregor Sebastian, do Instituto Mercator de Estudos sobre a China (Merics), de Berlim.

Mas, segundo a revista Spiegel, “é quase impossível encontrar uma boa maneira de lidar com a China”. As tensões geopolíticas, econômicas e em relação aos direitos humanos pesam demais, diz a publicação, embora seja “importante continuar tendo uma relação de confiança” com Pequim.

“Administrar esse equilíbrio sem sofrer uma hérnia é um verdadeiro desafio, não apenas para as negociações desta terça-feira, mas também para os próximos anos e décadas”, conclui o veículo.

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