Há quase 11 meses esperando pela atualização dos seus documentos militares, Priscila Diana Brás e Silva, de 43 anos, não consegue retornar às ruas por conta disso. A sargento da Polícia Militar de Santa Catarina aguarda pelo cumprimento total de uma determinação judicial.

A PM está atualmente realizando trabalhos administrativos em um quartel enquanto aguarda a atualização dos seus documentos. A agente trabalha em um quartel no Planalto Norte do estado desde que decidiu por se assumir como mulher transexual.

“Nos dois primeiros meses fiquei de licença até a tropa ter uma palestra sobre gênero e sexualidade e depois, foi porque meus documentos não me permitiam trabalhar no operacional” , relata ela ao G1.

Ao contrário do que aconteceu com o reconhecimento da identidade civil, Diana tem problemas com o sistema militar para ter sua funcional atualizada com seu novo nome.

“Isso incomoda muito. Pensa, você tentar esquecer um passado que não te agrada e todos os dias ver o seu nome masculino lá. Estou sofrendo por causa disso. Meus dados atuais, que me identificam, não batem com o sistema da polícia. Nem mesmo meu CPF bate mais com meu nome policial. Corro até o risco de ter a minha conta bancária bloqueada por esse motivo” , lamenta.

Apesar da Justiça ter determinado a alteração cadastral de Diana e posteriormente a Secretaria de Estado da Administração, na última semana, ter informado que a decisão foi cumprida integralmente. O poder estadual não estipulou um prazo para que os documentos físicos sejam emitidos e tão pouco o novo nome constasse no sistema interno da Polícia Militar.

“[Minha esperança] é poder exercer a minha profissão aonde eu quiser, seja na rua ou no administrativo, mas que isso seja uma escolha minha e dos meus comandantes. Eu só quero o reconhecimento para poder trabalhar” , afirma.
Consultado pelo G1, o comando da Polícia Militar, afirma que a mudança cadastral da sargento “depende do trâmite burocrático de cada setor e tem o tempo dos órgãos finalizarem os processos. Mas o quanto antes estará resolvido”, lamentou.

Identificação como transgênero

“Me identifico como uma mulher transgênero desde que nasci. Só que quando eu era criança, não entendia direito como funcionava e, principalmente, se existia uma forma de consertar essa situação”, disse.

“Com o passar dos anos, passei a receber informação. Comecei a fazer acompanhamento psicológico. E descobri que existia uma forma de me enquadrar e ser feliz da forma que eu me sentia. Foi neste momento que decidi fazer a readequação”, explica Diana.

Após buscar informações e acompanhamento psicológico, a policial resolveu assumir sua verdadeira identidade de gênero, mas sem largar o que para ela é uma vocação da família: a carreira policial.

“Quando resolvi me assumir, comuniquei meu comandante direto, o coronel da unidade. Para minha surpresa, ele me recebeu muito bem, sabia do meu potencial, do meu trabalho que sempre exerci com compromisso, com respeito. Foi tranquilo também com os colegas de trabalho. Foi surpreendente mesmo esse momento dentro da corporação” , afirma.

“Isso deve servir de exemplo, não só para a Polícia de Santa Catarina, mas para as demais instituições para que se preparem. Mesmo que eu não existisse, outras pessoas viriam e virão. É um fato que a sociedade toda tem que saber lidar. Todos têm que aprender que a gente está lutando pelos [nossos] direitos. A gente quer só o nosso espaço”, finaliza.