Sauditas pressionaram presidente do Iêmen a renunciar, diz reportagem

Sauditas pressionaram presidente do Iêmen a renunciar, diz reportagem

A Arábia Saudita pressionou o presidente do Iêmen a deixar o poder no início deste mês, e autoridades de Riade o mantiveram confinado em sua casa com restrições de comunicação, reportou o jornal americano Wall Street Journal (WSJ) neste domingo (17).

Abd Rabbuh Mansour Al-Hadi apresentou sua renúncia em 7 de abril, transferindo os seus poderes para um novo conselho, enquanto o Iêmen entrava em um frágil processo de cessar-fogo que trouxe um raro momento de trégua a um país devastado pela guerra.

Citando fontes anônimas dos governos iemenita e saudita, a publicação informou que o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, entregou a Hadi o texto pronto de um decreto em que delegava seus poderes ao conselho, que é formado por oito representantes de diferentes grupos iemenitas.

De acordo com as fontes, algumas autoridades sauditas ameaçaram divulgar o que afirmavam ser evidências de atos de corrupção cometidos por Hadi para convencê-lo a renunciar, segundo o WSJ.

Desde que deixou o poder, Hadi está confinado em sua casa em Riade, a capital da Arábia Saudita, sem acesso a telefones, segundo revelou uma autoridade saudita ao jornal americano.

Contudo, outro dirigente saudita contou à publicação que Hadi foi encorajado a renunciar porque vários grupos iemenitas tinham perdido a confiança em sua habilidade para liderar o país.

Após a renúncia, a Arábia Saudita deu boas-vindas à decisão de Hadi e prometeu US$ 3 bilhões em ajuda e suporte para o vizinho arrasado pela guerra.

O governo reconhecido internacionalmente, e então comandado por Hadi, trava um conflito com as milícias houthis apoiadas pelo Irã há sete anos. Os rebeldes controlam a capital Sanaa e grande parte do norte do país, mesmo depois que a coalizão liderada pela Arábia Saudita decidiu intervir militarmente em 2015.

O conflito já provocou a morte de centenas de milhares de pessoas e deu início ao que as Nações Unidas chamam de pior crise humanitária do mundo, com milhões de pessoas à beira da fome.

A transição de poder de Hadi para o conselho foi o resultado de conversas em Riade que unificaram as posições de diversos grupos anti-Houthi, mas que foram boicotadas pelos próprios rebeldes, que se recusam a dialogar no que consideram território “inimigo”.

Para os houthis, a renúncia de Hadi é uma “uma tentativa desesperada para reagrupar as fileiras de combatentes mercenários” que lutam no Iêmen e, segundo eles, a paz só será possível quando as forças estrangeiras deixarem o país.