De enfermeiras a motoristas de ambulância, os profissionais da saúde pública inglesa fazem, nesta segunda-feira (6), a maior greve de sua história, em um novo capítulo dos protestos que abalam o Reino Unido, em um contexto de disparada do custo de vida.

“Estamos disponíveis 24 horas por dia, 7 dias por semana. Estamos nos matando, fazendo o trabalho de três pessoas”, disse a jovem enfermeira Victoria Busk, em um andar de Traumatologia do Hospital Queen Elizabeth, em Birmingham, centro da Inglaterra, entre os manifestantes que denunciam a sobrecarga de trabalho por falta de pessoal.

“Adoro meu trabalho, fazer a diferença com os pacientes. Mas não consigo me imaginar fazendo isso até os 60 anos”, acrescenta ela.

Segundo uma pesquisa recente da YouGov, um terço das enfermeiras e parteiras do setor público inglês preferiria ter outra profissão.

O sindicato Royal College of Nursing (RCN) diz que vários aumentos abaixo da inflação desde 2010 fizeram os salários dos profissionais da categoria registrar perdas de 20% em termos reais. Hoje, alguns pulam refeições para poder alimentar seus filhos, e um em cada quatro hospitais na Inglaterra abriram bancos de alimentos para seus funcionários.

Essa “má remuneração” contribui para que haja 47 mil cargos vagos de enfermagem, denuncia.

– Todos os setores –

Em um Reino Unido onde a inflação supera os 10% há meses, a tensão social continua a crescer em todos os setores. Professores – do Ensino Fundamental ao Superior -, ferroviários e funcionários de vários ministérios fazem, em 1º de fevereiro, a maior greve do país em mais de 11 anos.

Embora cada setor tenha suas reivindicações específicas, todos se unem na demanda por aumentos salariais.

Como “último recurso” e lamentando o transtorno causado às dezenas de milhares de pacientes que tiveram cirurgias e consultas médicas canceladas, o RCN convocou em dezembro a primeira paralisação nacional de dois dias em seus 106 anos de história.

Com cartazes dizendo “chegou a hora de pagar os profissionais de enfermagem de forma justa”, foram organizados protestos do lado de fora dos principais hospitais públicos.

As negociações com o governo conservador de Rishi Sunak foram, no entanto, malsucedidas. Seu único resultado foram mais dois dias de greve em janeiro, e outros dois, nesta segunda e terça-feiras (6 e 7), na Inglaterra e no País de Gales.

A paralisação de hoje coincide com uma ação na Inglaterra do pessoal de ambulâncias – incluindo motoristas, paramédicos e telefonistas -, resultando na maior greve da saúde pública na Inglaterra desde a criação do Serviço Nacional de Saúde (NHS, na sigla em inglês), em 1948.

Em um momento de pico de doenças sazonais, como a gripe, aumenta a pressão sobre hospitais ainda sobrecarregados pelos atrasos de tratamento acumulados durante a pandemia da covid-19 e sufocados por anos pelo subfinanciamento.

– Limitar o direito de greve –

Segundo as autoridades de saúde, a greve desses profissionais de dezembro levou ao cancelamento de 30.000 operações e consultas, e a de janeiro, levou ao adiamento de 4.500 operações e de mais 25.000 consultas.

Apesar do caos causado no país pelas paralisações, 59% dos britânicos apoiam a greve do pessoal de Enfermagem; 43%, a dos professores; e 36%, a dos ferroviários, segundo uma pesquisa da Public First publicada pelo site Politico na última quarta-feira (1º).

O executivo conservador de Sunak afirma que as demandas salariais não podem ser financiadas com os parcos recursos públicos após a pandemia e que seriam “contraproducentes” em seu esforço para controlar a disparada inflacionária.

“O governador do Banco da Inglaterra advertiu que, se tentarmos combater a inflação com aumentos salariais elevados, a situação só vai piorar, e a população não estará melhor”, afirmou o secretário de Saúde, Steve Barclay, em um comunicado.

Em vez disso, o governo busca limitar o direito de greve com um projeto de lei que impõe serviços mínimos em setores-chave como saúde, transporte e educação.

À medida que a aprovação do texto avança no Parlamento, cresce também a tensão com alguns sindicatos que não parecem dispostos a recuar em suas reivindicações.

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