Nomeada na quinta-feira passada, 17, pelo ministro Marcelo Queiroga, a médica oncologista Rosana Leite de Melo assume a Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19 do Ministério da Saúde no lugar da infectologista Luana Araújo – que foi indicada para o cargo, mas não obteve aprovação do governo para assumir o posto. Antes de aceitar a nova função, Rosana atuou como diretora-presidente do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul (HRMS), onde não implementou o protocolo para uso dos chamados kits covid – medicamentos como a hidroxicloroquina e ivermectina, sem eficácia comprovada contra a doença e alvo de críticas de Luana -, mas autorizou que médicos os prescrevessem com o consentimento do paciente. A aplicação desses remédios é defendida pelo presidente Jair Bolsonaro.

O episódio de orientação sobre o kit covid ocorreu em julho de 2020 e foi confirmado pelo secretário estadual de Saúde de Mato Grosso do Sul, Geraldo Resende. Segundo noticiou o site campograndenews.com.br à época, a direção do hospital apontava que não havia estudos que comprovassem o benefício desses remédios, mas seriam respeitados os direitos e deveres dos profissionais médicos.

Para Resende, crítico do chamado “tratamento precoce”, o posicionamento de Rosana não necessariamente quer dizer que ela apoia ou apoiou o kit covid. “Normalmente quem não assume protocolos é porque acredita que eles não são benéficos”, diz Resende. Ao não proibir a prescrição do kit, diz ele, a médica apenas seguiu recomendação do Conselho Federal de Medicina (CFM) “para não politizar o enfrentamento à covid-19.”

Queiroga afirmou que a nova secretária fortalecerá a estrutura técnica da pasta. “A dra. Rosana é professora da UFMS, tem experiência em gestão pública, presidiu o CRM do Mato Grosso do Sul e reestruturou a Residência Médica no Brasil. Ou seja, tem um perfil técnico e sabe dialogar com os profissionais de saúde”. Anteriormente, Rosana já havia trabalhado como cirurgiã de cabeça e pescoço e como coordenadora-geral de residências em saúde no Ministério da Educação (MEC) entre 2017 a 2019. “As estratégias precisam ser implantadas até a ponta”, diz ela. “Precisamos ter capilaridade para obter sucesso em nossos projetos”.

Apoio a Mandetta e Moro

A nova secretária, amiga virtual da atual secretária de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida como “Capitã Cloroquina”, já prestou apoio nas redes sociais aos ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Sergio Moro quando, em abril do ano passado, deixaram o governo. Após comunicarem a saída dos ministérios da Saúde e da Justiça, os dois adotaram posições críticas ao presidente Jair Bolsonaro.

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No período final da atuação de Mandetta no Ministério da Saúde, Rosana Melo compartilhou em seu perfil no Facebook uma postagem em que o ex-ministro está com as mãos juntas à frente do rosto e em que se pode ler uma frase dita por ele: “Um médico não abandona seu paciente”, em alusão à missão de chefiar a pasta no início da pandemia. Na legenda da publicação original, a legenda #FicaMandetta. Quando o médico deixou o ministério, em 16 de abril de 2020, a atual secretária também compartilhou a coletiva de despedida do ex-ministro.

Pouco tempo depois, na saída do ex-juiz Sergio Moro do Ministério da Justiça, em 24 de abril de 2020, Rosana se posicionou nas redes sociais de forma ainda mais contundente. “Sérgio Moro é realmente um gigante!!! Queria mais Moros neste país”, escreveu. A médica já havia demonstrado apoio ao ex-juiz em outras postagens.

Ação de improbidade

A nova secretária do Ministério da Saúde também é ré em uma ação civil de improbidade administrativa no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJ-MS) por acúmulo de funções. Segundo denúncia oferecida pela 30ª Promotoria de Justiça do Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul (MP-MS) em 2018, Rosana Leite de Melo teria acumulado indevidamente dois cargos na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) – de professora e de médica do hospital universitário – e mais um cargo no Hospital Regional. Outras duas rés respondem à denúncia por acúmulo de função.

O processo de nº 0900409-11.2018.8.12.0001, do qual Rosana é ré, corre na 1ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (MS) e está “concluso para decisão”. Ou seja, os autos foram remetidos para que o juiz possa proferir uma decisão.

A Universidade Federal do Mato Grosso do Sul informou que Rosana Leite de Melo atualmente exerce apenas o cargo de professora na instituição, com carga horária de 20 horas semanais. Em 2019, segundo a UFMS, a servidora pediu exoneração do cargo de médico-área, conforme portaria nº 1.474/2019.

Questionados pela reportagem, o Ministério da Saúde e o Hospital Regional não responderam sobre a ação de improbidade até a conclusão desta matéria.


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