O departamento médico da delegação brasileira foi ampliado por causa da pandemia de covid-19 e conta com mais de 20 integrantes que ajudam a manter a saúde e integridade física de mais dos 300 atletas brasileiros que participam dos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020. Além dos protocolos de segurança contra o vírus e dos cuidados para manter a delegação em alto rendimento, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) resolveu dar uma atenção especial em relação à saúde feminina.

A ginecologista Tathiana Parmigiano é uma referência para as brasileiras e a certeza de que elas terão um olhar atento às questões das mulheres durante a competição, deixando-as tranquilas e seguras para atingirem sua melhor performance no maior evento esportivo do mundo.

“Está cada vez mais claro que o tratamento para mulher atleta não pode ser igual ao dos homens, que existem algumas particularidades que têm que ser respeitadas. A gente tem que abordar algumas questões que geram saúde e performance. Isso tem que ser motivo de conversa entre técnico e atleta, entre a comissão técnica e entre os próprios médicos para entender essas particularidades. Tem algumas questões como ciclo menstrual, que é o carro chefe, alterações alimentares e a parte nutricional, que precisam ser tratadas com atenção. Os estudos têm andado nesse sentido, e as equipes multidisciplinares estão entendendo a importância de trabalhar em conjunto com a atleta mulher”, disse Tathiana, que é ginecologista com especialização em medicina esportiva.

Em Tóquio, ela atende todos os atletas, homens e mulheres, na Vila Olímpica e em competições. Mas é a referência para as esportistas quando elas têm algum problema específico do universo feminino. “O número de mulheres na delegação está crescendo e existe uma demanda específica em relação a isso. Fui acionada algumas vezes em Tóquio por causa de cólica menstrual, de dor na mama”, contou Tathiana.

Quando iniciou seu trabalho, há 10 anos, Tathiana encontrou algumas atletas que ainda não faziam acompanhamento constante nem possuíam as informações necessárias para lidar com as questões de saúde feminina e da mulher atleta. Hoje, a médica vê as brasileiras muito mais conscientes e preparadas para lidar com essas questões durante treinos e competições, ficando mais tranquilas para focar na performance.

“A maioria das meninas do Time Brasil são minhas pacientes e foram acompanhadas durante o ciclo olímpico. Elas chegam aqui orientadas e cientes do que precisam fazer, preparadas para competir. Estamos alinhadas, o trabalho está feito, está pronto. Eu estou aqui a postos caso surja algo novo”, afirmou.

No prédio do Brasil na Vila Olímpica, há dois espaços dedicados ao atendimento dos competidores. No segundo andar, há um consultório e uma sala para fisioterapia e massoterapia. No terceiro andar, ficam as salas de vídeo, bioquímica e saúde mental.

Antes de embarcar para o Japão, Tathiana também foi consultada sobre a preparação da bagagem médica montada pela equipe do COB. Ela orienta a aquisição de medicamentos específicos para as questões de saúde da mulher, além de absorventes e outros itens que permitem todo suporte necessário às atletas. “É muito importante para nós ter um suporte desses nos Jogos. Com mulher, pode acontecer uma coisa ou outra e ela está ali dando suporte. A maioria das meninas aqui é paciente dela e é maravilhoso”, afirmou Camila Brait, da seleção de vôlei.

Os anos de trabalho e proximidade com as esportistas também ajudaram a fortalecer o vínculo entre elas para além das quadras, pistas, piscinas e arenas de competição. Tathiana já ajudou no parto dos filhos de diversas atletas olímpicas como Fabiana Murer (salto com vara), Poliana Okimoto (bronze na maratona aquática no Rio-2016), Dani Lins (ouro no vôlei em Londres-2012) e Camila Brait (líbero), entre outras. Atletas que confiaram no trabalho da ginecologista para impulsionar suas carreiras e também no momento íntimo e especial da maternidade.