Em uma tentativa de reverter a perda da subvenção municipal, a Liga das Escolas de Samba do Rio (Lierj), que administra os desfiles da Série A, pretende deixar de cobrar ingressos e abrir os portões da Sapucaí em 2020. Anunciada há duas semanas, a retirada dos recursos foi justificada, pela prefeitura, por conta da presença de bilheteria no evento. “A prefeitura decidiu não dar mais subvenção para nenhum evento que cobre ingresso”, sentenciou Marcelo Crivella, na ocasião.

Segundo o diretor de Carnaval da Lierj, Cícero Costa, um documento abrindo mão da venda de ingressos foi entregue à prefeitura na segundafeira. “Foi a alternativa que encontramos para tentar viabilizar a subvenção municipal. As escolas da Série A passam por grave crise financeira e, sem a subvenção, é quase impossível o desfile acontecer”, explicou. A arrecadação da bilheteria na Série A varia de R$ 80 mil a R$ 100 mil, enquanto a subvenção da prefeitura, neste ano, foi de R$ 250 mil para cada escola. “É um valor muito baixo para fazer um Carnaval digno”, criticou. Entre as escolas da Série A, está a Imperatriz Leopoldinense, rebaixada este ano e que terá como carnavalesco Leandro Vieira, o atual campeão do Grupo Especial, com a Mangueira.

Uma reunião entre a Lierj e o prefeito deve acontecer na próxima semana. Mas, por parte da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio (Liesa), detentora do uso do Sambódromo, a medida não teria entrave. “Não vejo empecilho, se for a oportunidade de a Lierj conseguir apoio municipal. Só precisaria de um estudo técnico para viabilizar a logística e garantir a segurança do público”, afirmou Jorge Castanheira, presidente da Liesa, que voltou a desaprovar a retirada da subvenção. “Não fizemos nada contra o prefeito para receber esse tipo de tratamento. O Carnaval traz muitos benefícios ao Rio. É um sufoco que não esperávamos passar”.

Castanheira também rebateu a divulgação da prefeitura de que o valor dos desfiles da Sapucaí irá para creches conveniadas. “Entendo que a prefeitura pode estar sem recursos, mas isso é um anúncio distorcido. A gente sabe que a receita da Educação não vem do Carnaval, é um orçamento específico para a área”, pontuou. Ele lembrou, ainda, que 6.500 ingressos do Grupo Especial são doados à população, e 9.600 são vendidos a R$ 10.

Por outro lado, o governo do Rio busca patrocínio para os desfiles, do Grupo Especial e da Série A. “Estamos esperançosos. Enquanto isso, as agremiações ainda estão com os projetos no papel. Desde que a prefeitura passou a cortar as verbas, a Série A foi sacrificada em 75%. Cada escola recebia R$ 900 mil”, pontua o diretor da Lierj. “Estamos de mãos atadas”, completa o presidente da Acadêmicos do Sossego, Hugo Júnior.

Em nota, a Riotur informou que ainda não foi comunicada oficialmente pela Lierj: “Mantemos diálogo constantemente com as ligas. Vamos nos posicionar oportunamente”.

Reportagem da estagiária Luana Dandara sob supervisão de Alexandre Machado