O Bom Retiro é o berço de um dos maiores clubes brasileiros. Foi lá que nasceu o Corinthians. Mas o bairro paulistano vai muito além quando se trata de esporte. Abriga um estádio de beisebol. Não é só. Cerca de 20 anos após a abertura desse estádio, foi inaugurado no mesmo complexo esportivo um espaço para a prática do sumô.

Nos anos 1980, imigrantes japoneses se uniram e deram início à construção do local. “O lugar onde a gente treinava no começo era totalmente rudimentar, era só a arena e um telhadinho que meu avô construiu”, lembra Willian Takahiro, vice-presidente da Confederação Brasileira de Sumô.

Ele conta que, naquela época, os praticantes eram na maioria descendentes de japoneses. Enquanto as mulheres cuidavam da cozinha, os homens acompanhavam os filhos nos treinos.

“O imigrante não tinha muita opção de comunidade, então essas atividades eram importantes para manter as amizades, falar a língua nativa e celebrar a cultura dos nossos ancestrais”, diz ao Estado.

Takahiro foi campeão brasileiro dez vezes da modalidade e treinador da seleção. Para ele, o público interessado no esporte tem mudado. “Foram dois os principais acontecimentos que provocaram isso: o movimento dekassegui, onde os descendentes foram ao Japão em busca de trabalho, e a cultura japonesa virando moda com restaurantes, J-pop, mangá e anime”, pontua.

Professor nas aulas de sumô aos domingos, Kioshi Shimazaki está há 42 anos inserido no mundo da luta e acompanhou todas as transformações do ginásio até ser o que é hoje. Toda manhã, ele espera por alunos interessados na prática esportiva.

INSPIRAÇÃO – Nos últimos meses, o público da modalidade, que já era maioria de brasileiros procurando por um esporte ou forma de complementar outras lutas, tem tido um acréscimo de adeptos. O motivo? Um anime de grande sucesso no Japão chamado Hinomaru Sumo. “É absurda a quantidade de pessoas que querem treinar por causa do desenho”, constata o sensei.

Felipe Galatti, estudante de 17 anos, é um deles. Há dois domingos ele acorda antes das 8h da manhã para lutar. Depois da primeira aula, ficou cinco dias sem conseguir andar direito, mas voltou. “O anime teve uma influência gigantesca na minha decisão de treinar. Antes eu tinha preconceito, mas isso ajudou a conhecer melhor o esporte e me fez apaixonar”, conta.

O treino é aberto para homens e mulheres e não requer conhecimento prévio. Nas três horas de aula, os praticantes realizam inúmeras repetições de golpes e posições. “O sumô é uma luta rápida, de explosão, que cativa por ser justa e imprevisível”, analisa Shimazaki.

Essas características conquistaram também Pedro Leopoldo, que pratica o esporte há um ano junto de seu filho Dimas, de 11 anos. O interesse surgiu ao descobrir que a realidade do esporte era oposta ao que imaginavam, além de ter público diversificado. “Você acha que o lutador vai perder por ser menor, mas ele não desiste. Pode até ser derrotado, mas é assim que se aprende o quão bom é ganhar”, diz.

Esse sabor de superação encanta. Foi ao vencer uma adversária 100 kg mais pesada que Luciana Watanabe, 14 vezes campeã brasileira, descobriu que o sumô era mais do que uma forma de melhorar sua estabilidade no judô. “No Mundial de 2002 a minha adversária tinha 160 kg. Ela entrou rindo de mim e, quando abaixou, percebi que ela era enorme. Decidi bater no pescoço e usei toda a minha força para conseguir ganhar. Foi essa luta que me encantou”, diz.

Para Takahiro, os benefícios da prática do sumô também vão muito além da parte física. “Perdi o meu pai cedo, trabalho desde os 10 anos e sempre consegui dar um jeito na vida. Devo isso ao sumô, um esporte que é duro, bruto, mas exige capacidade de dar a volta por cima, de ter resiliência”, comenta.