A cidade de São Paulo dá início, nesta sexta-feira (17), a um festival de teatro, cinema e shows que sofreram algum tipo de censura ou ataque no último ano no Brasil, durante o primeiro ano de governo do presidente Jair Bolsonaro.

O evento “Verão Sem Censura”, organizado pela prefeitura e com duração de duas semanas, tem como compromisso reafirmar o protagonismo da maior cidade do país como polo cultural, além de defender a arte brasileira da ofensiva ideológica lançada pelo atual governo.

Trata-se de uma “resistência útil em um momento em que a cultura está sob ataque”, disse o secretário de Cultura da prefeitura de São Paulo, Alexandre Youssef, à AFP.

“Estamos tendo no Brasil um momento terrível para o nosso setor, algo que precisa ser urgentemente alterado. A cultura é identidade nacional, precisa ser valorizada. Atacar a cultura é atacar a democracia, a liberdade de expressão, o livre pensamento”, ressaltou.

O setor vive momentos de grande agitação no país. Um dos principais defensores da “guerra cultural” criada pelo governo, o secretário de Cultura, Roberto Alvim, foi retirado do cargo nesta sexta-feira por Bolsonaro, após um polêmico pronunciamento sobre a arte a cultura, que reproduziu as ideias do propagandista da Alemanha nazista, Joseph Goebbels.

Entre as 45 atividades programadas para o festival, estão shows da banda de punk rock russa Pussy Riot e o funkeiro Rennan da Penha. Recentemente liberado, o criador do mais famoso baile funk das periferias do Rio e nomeado ao Grammy Latino havia passado quase sete meses preso sob alegação de associação com o tráfico, acusação que nega e tenta rebater perante a Justiça.

A abertura do festival contará com um show de abertura do cantor Arnaldo Antunes, que teve o videoclipe da música “O real resiste” censurado pela emissora pública TV Brasil, segundo informou a prefeitura.

“É uma música que fala do que a gente está vivendo. É uma sensação de que a gente está vivendo um pesadelo, de que não é real” disse Antunes ao lançar o clipe em novembro do último ano.

– Cinema e teatro que incomodam –

Em sua primeira noite, o festival também prevê a exibição do longa “Bruna Surfistinha” (2011), que conta a história real de uma jovem de classe média que se tornou uma famosa prostituta. No último ano, Bolsonaro criticou o apoio da reguladora do setor audiovisual, a Ancine, na captação de recursos para o projeto.

O filme “A Vida Invisível”, de Karim Aïnouz, retrata, em formato de denúncia, o patriarcado brasileiro dos anos 1950. Vencedor do prêmio “Um Certo Olhar”, em Cannes, o longa também está na programação. A inclusão dele no festival foi uma resposta à decisão da Ancine em vetar, no último ano, sua exibição interna para funcionários da instituição.

Também figuram na programação cinematográfica títulos emblemáticos do cinema nacional, que foram retirados das paredes do órgão no Rio de Janeiro.

Para o teatro, a prefeitura de São Paulo selecionou peças de diversas épocas retirados de cartaz, entre eles uma versão atual de “Roda Viva”, escrita por Chico Buarque em 1967 e censurada durante a Ditadura Militar. Com temática LGBT e cancelada em um teatro de Brasília no ano passado, a peça “Gritos” (2016), da companhia teatral “Dos à Deux”, fundada em Paris em 1998 e instalada no Brasil em 2015, também faz parte da lista.

Toda a programação do festival “Verão Sem Censura” é gratuita.