08/01/2018 - 8:30
Educação, respeito e equilíbrio são atributos que, aliados ao uso da energia física, contribuem para a concentração e o autocontrole. Estudos mostram que crianças, adultos e idosos que praticam esportes, inclusive artes marciais, apresentam um maior domínio da vida, além de menos agressividade.
Pois bem, essa busca pela harmonia comportamental não é mais um privilégio dos seres humanos. Agora, os cães da capital paulista podem contar com um tipo de adestramento inspirado em práticas do judô para ficarem mais calmos, disciplinados e sociáveis. A novidade foi batizada de JuDog, um curso que promete deixar os cachorros mais “zen”. “Os exercícios ajudam a fortalecer o corpo, a mente e o espírito de forma conjunta”, afirma Suzana Pinheiro, especialista em comportamento animal.
Profissional experiente em lidar com pets e sócia-proprietária da Animalz, uma empresa de adestramento de animais, Suzana é a responsável por colocar a ideia – do JuDog – do empresário Ricardo Chen, em prática. Também proprietário da Padaria Pet – uma franquia especializada em petiscaria e confeitaria de alimentos para cães e gatos -, Chen é ex-praticante de judô e se inspirou no esporte como uma inovação para atrair mais clientes para seu comércio. Ele garante que a prática fará o animal ficar mais tranquilo dentro de casa. “O objetivo do curso é de contribuir para que o animal tenha autocontrole no dia a dia, independentemente do que lugar que esteja”, conta ele, um engenheiro mecatrônico que abandonou os laboratórios da USP e resolveu dedicar seus estudos aos animais.
No JuDog, acontecem dez trocas de faixas que duram de seis a oito semanas cada uma em duas aulas semanais por turma, com quatro cães a depender do porte. É necessário que o animal esteja em dia com as vacinas, seja castrado e tenha condições de praticar aulas na presença de outros animais. Para que o cão evolua de faixa, é necessário que haja uma frequência mínima nas aulas e que seja aprovado em avaliação, aplicando o conhecimento adquirido.
Segundo seus criadores, essa iniciativa é a primeira no mundo desse tipo. O “judô para cães” é oferecido em aulas de grupos, sempre na presença do dono. A base do curso é o adestramento com exercícios para o corpo, a mente e o espírito, e não para o combate.
Cães ficam mais calmos
A youtuber Fe Rabaglio aprovou a ideia do JuDog. Tutora de dois “ursinhos” – chow-chow -, que são estrelas do mundo virtual com mais de 40 mil seguidores no Instagram, ela diz que seus cães, que serviram de “cobaias” do judog, estão muito mais sociáveis depois de dois meses no curso. “Eles estão muito mais disciplinados, mais tranquilos e em harmonia”, afirma ela.
“Conforme o cão evolui e entende os sinais, ele vai mudando de faixa até chegar na cor preta”, diz Chen. Ele garante que a boa convivência entre cão e tutor é possível e já foi comprovado resultados eficientes quando se utiliza o conceito do reforço positivo – elogios e carinhos como motivação. “Nos inspiramos no código moral da arte marcial que, dentre outras características, valoriza o respeito para viver de forma harmoniosa”, diz Chen.
Mercado pet em alta
A busca por mais qualidade de vida dos animais explica o faturamento de R$ 19,2 bilhões do mercado pet no Brasil registrados este ano, o que representa um aumento de 7% em relação ao ano anterior. Estimativas de mercado dão conta de que as famílias brasileiras têm despesas que chegam, em média, a R$ 300 mensais destinados aos cuidados com os cães. Já com os gatos, desembolsam R$ 120, em média, para mesmo período.
Para cativar os donos de câes e gatos, Ricardo Chen vem apostando em inovações. Com a colaboração de veterinários e nutricionistas de animais, ele tem investido em pesquisas no setor de alimentos e bebidas para os pets. Há cinco anos nesse mercado, Chen já lançou comidinhas e bebidinhas especiais para os dogs como pão de queijo, cooke, patês, sucos, comidas congeladas e até cerveja. “As pessoas tratam seus animais como filhos, nós apostamos em humanizar essas relações. Se o brasileiro gosta tanto de cerveja, por que não criar uma para acompanhar o dono?”, conta Chen.
A proposta da padaria pet tem um forte apelo para que os animais mais sociáveis e menos agressivos, e assim evitar abandonos. Quando os donos de cachorros são crueis, afirmam especialistas, os animais também ficam agressivos e são logos abandonados.
Animais domésticos no Brasil
O IBGE estima que o Brasil tenha mais 52 milhões de cachorros e 22 milhões de gatos. O País ocupa o 3º lugar no ranking mundial de animais domésticos, em número total, de acordo com dados da Abinpet – Associação Brasileira da Indústria de Produtos para animais de estimação. A Organização Mundial da Saúde estima que existam mais de 30 milhões de animais abandonados no Brasil, sendo 10 milhões de gatos e 20 milhões de cães. Em grandes cidades brasileiras, para cada cinco habitantes, há um cachorro. Destes, 10% estão abandonados.