Madonna, de 65 anos, que no sábado, 4, fará um mega show em Copacabana, no Rio de Janeiro, com a “The Celebration Tour”, turnê que comemora os 40 anos de sua carreira, passou por várias fases em sua vida até se consolidar como a Rainha do Pop, como ter lançado diversos álbuns, acumular milhares de fãs, mudanças na aparência e ter uma relevância que se mantém firme até hoje.
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‘São grandes as chances de essa ser a última turnê’
Em um bate-papo com IstoÉ Gente, Higor Gonçalves, jornalista especializado em gestão estratégica de imagem, fez uma análise sobre a carreira de Madonna. Confira abaixo na íntegra!
“As turnês da Madonna sempre tiveram a finalidade de promover as músicas de álbuns inéditos ‘mescladas’ a hits de projetos anteriores. ‘The Celebration Tour’ é a primeira, em 40 anos de carreira, na qual ela não apresenta canções originais, mas faz uma retrospectiva de antigos sucessos, revisitando a própria trajetória na indústria da música, do início dos anos 80 até os dias de hoje. Ela nunca fez isso antes.”
“São grandes as chances de essa ser a última turnê da Madonna, que começou a carreira como dançarina e que hoje, paradoxalmente, não consegue mais dançar. O último show da turnê, dia 4 de maio, no Rio de Janeiro, com expectativa de público de mais de 1 milhão de pessoas, provavelmente será também o último em grandes turnês da sua carreira lendária. Uma celebração, de fato.”
“Madonna não é ‘apenas’ uma artista. Ela é uma instituição na cultura pop: uma figura que transcende gerações, e que definiu novos padrões para as indústrias da música e do entretenimento. Aptidão musical, porém, não é o seu forte: a verdadeira habilidade de Madonna está na gestão estratégica da própria carreira e da imagem. Ela é uma excelente especialista em marketing, com uma capacidade notória para se reinventar constantemente.”
“A Madonna é uma mestra na arte da transformação: sempre surpreendendo com novos comportamentos, estilos, sons e performances. Basta observar alguns dos seus hits para constatar: da provocante ‘Like a Virgin’, nos anos 80; passando pela espiritual ‘Ray of Light’, na década seguinte; chegando à dançante ‘Hung Up’, nos anos 2000.”
“Madonna manteve a própria relevância se antecipando, e, principalmente, adaptando-se às mudanças culturais. Ela é extremamente habilidosa em captar tendências alternativas, até meio underground, copiá-las e as apresentar de forma estilizada no mainstream. ‘Vogue’, um dos seus maiores sucessos, é um ótimo exemplo. Ela ‘vampiriza’ o que surge de novo por aí e sai na frente.”
“Uma das chaves para compreender o sucesso longevo da Madonna é a habilidade que ela tem em gerenciar a própria imagem. Ou seja: a maneira como é vista. Outro fator são as polêmicas calculadas. Ela entende, como ninguém, o poder da controvérsia e a usa a seu favor, manipulando a mídia, desafiando normas sociais e quebrando tabus. A capacidade de provocar garante que ela permaneça no centro das atenções, gerando discussões e se mantendo relevante numa indústria em que a atenção é um recurso valiosíssimo. Aposto que, se estivesse em início de carreira nesse momento, ela iria ‘devorar’ as mídias sociais, como fez nos anos 80 com os clipes e as apresentações exibidos na MTV. Seria uma das maiores influenciadoras digitais, em perfeita sintonia com as demandas da geração Z.”
“Madonna também é sagaz quando se trata de explorar novas oportunidades de negócios, não se limitando à música, mas expandindo a sua marca pessoal para outros setores, como publicidade, cinema, moda, produtos de beleza e filantropia. A diversificação permite-lhe alcançar novos públicos e novas fontes de receita.”
“Manter-se no topo por quatro décadas, contudo, é árduo e equívocos fazem parte do caminho. Madonna também cometeu alguns erros na gestão da própria carreira: um deles foi a incursão no cinema, resultando em críticas desfavoráveis a personagens que representou na qualidade de intérprete. Hollywood nunca a respeitou como atriz, ao contrário de outras musas do pop, como Cher e Lady Gaga, ganhadoras do Oscar, a maior premiação da indústria cinematográfica.”
“No decorrer dos últimos 40 anos, ela também enfrentou momentos de excessiva exposição midiática, o que por vezes desgastou a sua imagem pública. Fracassos comerciais e de crítica no território da música, que ela domina de ponta a ponta, fizeram parte da jornada. O álbum ‘American Life’, de 2003, é um exemplo que mostra claramente que mesmo uma profissional do seu calibre pode errar quando se trata de ‘feeling’ e ‘timing’.”
“Ao longo da carreira, Madonna também foi acusada de ser oportunista e de explorar pautas sociais visando a autopromoção. Alguns críticos ainda hoje questionam a sua capacidade de manter-se atraente em uma indústria dominada por talentos jovens. Outros apelam para o etarismo, reforçando que ela tem 65 anos de idade e que deveria estar em casa, aposentada. Particularmente, eu gosto bastante das respostas sagazes, repletas de ironia, que ela costuma dar em shows, eventos, entrevistas ou nas mídias sociais.
“Madonna conseguiu permanecer como uma das artistas mais influentes de todos os tempos. A essa altura, não precisa provar mais nada. Ela continua a antecipar desejos, desafiar expectativas, gerar valor e a moldar a cultura. A sua coragem, determinação e visão a colocaram no topo da indústria musical por quatro décadas. O seu legado continuará além da música. Madonna é um ícone, cuja influência seguirá impactando novas gerações. Mesmo após a sua morte.”