Com Rodrygo, hoje no Real Madrid, o Santos parece desafiar a lógica e acredita que um raio pode, sim, cair duas – ou mais – vezes no mesmo lugar. A Vila Belmiro é, além de um estádio histórico, uma fábrica de atacantes talentosos em que os garotos parecem assumir o papel de destaques com naturalidade e sem peso nos ombros. É o caso de Rodrygo, lançado aos 16 anos em 2017 e que, neste mês, foi o herói da classificação do time espanhol à final da Liga dos Campeões com dois gols decisivos nos minutos derradeiros contra o Manchester City, de Pep Guardiola.

Aos 21 anos, a principal joia santista dos últimos anos já fez cinco jogos pela seleção brasileira, todos saindo do banco de reservas, e luta para entrar na lista final para a Copa do Mundo do Catar, em novembro. O ex-jogador Elano, que foi auxiliar do Santos e responsável por lançá-lo no time principal, rasga elogios ao jovem atacante.

“Rodrygo já está hoje entre os melhores nomes do futebol mundial. Mas ele tem muita coisa ainda para crescer e se desenvolver. A minha vontade era tê-lo colocado mais vezes para jogar, mas você precisa pensar nele e entender o momento. Ele tem uma cabeça muito boa. Falo com ele e com o pai dele e torço para que seja convocado para a Copa do Mundo, algo que seria fantástico”, disse ao Estadão.

Mas Rodrygo não é o único caso de sucesso recente da base do clube da Vila Belmiro. Nos últimos anos, o Santos ainda revelou nomes como Kaio Jorge, de 20 anos, hoje na Juventus, da Itália, e Marcos Leonardo, que aos 19, foi lançado em 2020 e, neste ano, já marcou oito gols. Na “esteira industrial” de atacantes, o clube alvinegro ainda aposta em Ângelo, de apenas 17, e que já é um dos destaques do time. Ângelo foi o segundo atleta mais novo a jogar pelo Santos, atrás apenas do ídolo Coutinho, ex companheiro de Pelé que já morreu.

Quem também conhece de perto a garotada santista é o técnico Fabrício Monte, que trabalhou com o futsal do clube e hoje comanda a categoria sub-13 no campo. Monte conta que a porta de entrada no clube pode ser pelo futsal, como Gabigol, Kaio e Rodrygo, por ter categorias mais novas que o campo, mas o clube também pinça garotos através das avaliações feitas em todo o Brasil e de indicações por pessoas ligadas ao time. Tanto Marcos Leonardo quanto Ângelo foram descobertos através de franquias da escolinha Meninos da Vila, em Taubaté e Brasília, respectivamente.

Joia do Santos e destaque do Real Madrid, Rodrygo vive sonho de representar a seleção brasileira na Copa do Mundo do Catar. Foto: Lucas Figueiredo/CBF

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“Trabalhei com todos esses jogadores. A primeira preocupação nessa idade é dar ao garoto o gosto de estar ali no momento, fazer o treino ser prazeroso para eles. Fazemos isso, dando total ênfase à parte técnica e deixando a criança ser feliz dentro de campo, fazendo aquilo que ele quer dentro de suas limitações”, conta Monte.

O processo de captação de jovens tão talentosos geralmente inicia cedo. Rodrygo e Gabigol chegaram ao Santos aos oito anos, Ângelo, aos dez, enquanto Kaio Jorge e Marcos Leonardo começaram no clube aos 11. Os olhos sobre as jovens promessas também vêm de patrocinadores e empresas de material esportivo. Um pré-adolescente Rodrygo assinou contrato com a Nike aos 11 anos, batendo o recorde de Neymar, que fechou acordo com a empresa americana aos 13.

Elano também trabalhou de perto com Kaio Jorge e Yuri Alberto e conta que seu papel de assistente-técnico possibilitou ajudar no crescimento das jovens estrelas. “É preciso ter o entendimento na hora de lançar o jogador no profissional, isso tem de ser bem acompanhado. Tem de analisar todos os aspectos do atleta e do momento do clube também. Quando fui auxiliar, a transição foi bem lenta, de dois a três meses. Primeiro, treina no profissional, depois volta à base para jogar, aí se concentra e viaja com o time principal…”.

BOLAS DA VEZ

Marcos Leonardo e Ângelo são duas das peças desequilibrantes do Santos. O primeiro conta com instinto matador e voltou a ser convocado para a seleção brasileira sub-20 na semana passada. Já o segundo, que passou por problemas físicos neste ano, atua mais pelas beiradas e mostra repertório, seja servindo os companheiros com passes precisos, mas também usando o drible em jogadas individuais. “Ângelo joga no Maracanã com 60 mil como se estivesse no quintal da casa dele”, elogiou Carille, quando estava no comando do time, em dezembro do ano passado.

“A procura pela base do Santos é muito grande. Os empresários gostam de levar os atletas porque o clube tem esse perfil ‘revelador’. A torcida abraça muito a garotada e dá tempo aos meninos. O clube também revela muito pela necessidade em ter que apostar na base. É uma base muito rica, mas acredito que poderia revelar ainda mais”, explica Elano. Entre 2020 e 2022, o Santos teve quatro profissionais diferentes comandando a base. A atual gestão identificou falhas no comando e quer mudanças no setor, seja na melhora da infraestrutura e até evitar perder novas joias por valores baixos.

Enquanto isso, outro menino do Santos já faz todos ao redor arregalarem os olhos. Ele chegou ao clube quando seu pai – o ex-jogador do Corinthians Andrezinho – levou o filho mais velho, Lucas Yan, para um treino do sub-15 e aproveitou para pedir um teste para Kauan. Como não tinha time para a sua idade, o técnico à época colocou-o entre mais velhos pois percebeu a qualidade com a bola nos pés.

Em janeiro do ano passado, Kauan Basile, de apenas oito anos, já atuava pelo futsal sub-9 do clube, e assinou contrato com a Nike. Neste ano, está no sub-11 e empilhou gols na Dani Cup, de futebol society, com sete jogadores de cada lado. O clube tem tentado proteger o menino do assédio. Kauan tem dupla nacionalidade e só pode assinar contrato de formação aos 14 anos.


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