São Paulo, 05 – Ao contrário do que ocorre no Brasil, o crédito rural em países que têm setor agropecuário forte, como nos Estados Unidos, é praticamente 100% bancário – ou seja, a juros de mercado, sem subsídios, disse o diretor de Agronegócios do banco Santander, Carlos Aguiar Neto. “É que, na história do agro brasileiro, tivemos vários momentos de crise que nos levaram a ter Plano Safra e subsídios de todo tipo”, continuou.

Ele ressaltou, porém, que, apesar de enorme e robusto, o Plano Safra tem sido o mesmo há anos em termos de recursos ofertados. “Assim, essa diferença de crescimento do agronegócio verificada nos últimos anos foi financiada por alguém”, continuou Aguiar Neto. “E, na minha conta, quem está financiando essa diferença é o setor de agroquímicos, de insumos, as tradings”, disse ele, acrescentando que, em outros países, o avanço do agronegócio cresceu por meio do crédito bancário a juros livres. “Aqui no Brasil temos um negócio meio híbrido”, reforçou. Aguiar Neto comentou, entretanto, que o País está “se descolando” desse modelo em direção a um novo modelo, aonde “o cidadão encosta a hipoteca dele e faz tudo no banco”.

O executivo do Santander ressaltou que, para que o País pudesse saltar para um modelo de financiamento via sistema financeiro, havia a necessidade de juros de 1 dígito, o que aconteceu. Na semana passada, o Banco Central baixou a taxa básica de juros, a Selic, para 6% ao ano. “Precisávamos da taxa de juros com um dígito para dar este passo (de mudança de modelo)”, reforçou Aguiar Neto.

Já o diretor de Agronegócios do Bradesco, Roberto França, concordou que boa parte do setor agropecuário cresceu com o financiamento via tradings, no qual o produtor adquire insumos em troca da entrega da produção mais à frente. “Mas se você perguntar para esses fornecedores (de insumos) se eles querem continuar financiando, não querem. Eles querem que os bancos ocupem este espaço”, disse França. “Temos uns 40% para avançar em crédito e os bancos querem isso.”