A Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo colocou à venda sete imóveis localizados na região central da capital paulista. A instituição estima obter R$ 200 milhões com a comercialização dos edifícios e direcionar os recursos para o pagamento de dívidas e para a criação de um fundo patrimonial. A Santander Holding Imobiliária (SHI) está responsável por vender os ativos e já deu início às conversas com potenciais interessados na aquisição das edificações para usos residencial, comercial e misto.

Há expectativa de que as operações sejam concluídas até o segundo semestre de 2025. Atualmente, os imóveis à venda não estão alugados, ou seja, deixaram de gerar receita. A comercialização dos prédios possibilitará que a instituição pague parte das dívidas e componha um fundo patrimonial, segundo Vicente Paolillo, provedor da Irmandade, para custear despesas. Em fase de constituição, o fundo terá critérios de governança e transparência.
Além dos recursos da desmobilização de ativos, poderá receber contribuições de pessoas físicas e empresas interessadas em apoiar a Santa Casa. Vale ressaltar que os atendimentos realizados são voltados exclusivamente ao Sistema Único de Saúde – SUS. Não há consultas particulares ou por meio de convênios médicos.

A SHI tem avaliado, juntamente com potenciais interessados nos imóveis da instituição – incorporadoras e investidores –, a vocação de cada edificação à venda. Parte delas poderá ter seu uso convertido para empreendimentos residenciais ou mistos, incluindo opções de cultura e lazer, enquanto outra parcela se adequa, por exemplo, aos setores de saúde e educação. Alguns imóveis têm acesso por calçadões, e outros possuem entrada para carros. De acordo com Veridiana Lima, head de desenvolvimento imobiliário da SHI, o mais provável é que sejam fechadas vendas individuais conforme o perfil de cada desenvolvedor de negócios.

A operação de venda de ativos da Santa Casa ocorre em um momento em que prefeituras e governos estaduais buscam opções para estimular a reocupação e a requalificação de centros urbanos das capitais. As áreas centrais são muito bem servidas de infraestrutura – principalmente de transporte –, mas deixaram de ser prioridade para a moradia, nas últimas décadas, por conta de preocupações com segurança e pouca oferta de empreendimentos.

Pouco a pouco, incorporadoras e fundos vêm se interessando pelas possibilidades a serem exploradas nos centros de grandes cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e parte das capitais do Nordeste. Nas conversas com potenciais compradores de ativos, há avaliação dos imóveis pelos interessados tanto para retrofit com posterior venda quanto para manutenção em carteira para locação. Segundo Guilherme Carlini, executivo responsável pelas operações da SHI, representantes da Prefeitura de São Paulo e do governo do Estado já estão cientes da parceria com a holding imobiliária.

A Santa Casa de São Paulo, um dos mais importantes centros de referência hospitalar do Brasil, recebe recursos públicos repassados pelo SUS, insuficientes para cobrir os custos dos serviços oferecidos à população gratuitamente. Em 2023, foram realizados 535 mil atendimentos ambulatoriais, 219 mil atendimentos de urgência, 27 mil cirurgias, 37 mil internações e 2,7 milhões de exames de laboratório e imagem.

Ao longo de 460 anos de história, a instituição recebeu doações de terrenos e prédios, principalmente no Centro de São Paulo, em reconhecimento aos serviços prestados à sociedade. Atualmente, possui 300 imóveis, dos quais obtém renda de aluguel, que contribui diretamente para o custeio dos hospitais. Como parte do plano de eficiência aprovado na Mesa Administrativa a instituição decidiu desmobilizar imóveis correspondentes a 20% de seu patrimônio para equacionar sua situação financeira.

Um dos ativos à venda pela instituição é o prédio localizado no Largo da Misericórdia cuja fachada remete à bandeira de São Paulo. O edifício foi construído com recursos recebidos do governo paulista captados por meio da campanha “Ouro para o bem de São Paulo”. A iniciativa ocorreu durante a Revolução Constitucionalista de 1932. Como o movimento acabou antes da aplicação de tudo o que foi arrecadado, o governo estadual doou o excedente à Santa Casa.

Devido a desafios adicionais do processo de retrofit de edificações, como os prazos de aprovação de projetos quando o imóvel é tombado pelo patrimônio público, o início do pagamento pelos ativos será condicionado ao cumprimento de algumas condições resolutivas, com venda direta ou permutas financeiras atreladas ao início da obtenção de receitas. A SHI, empresa responsável pela gestão da carteira de imóveis do Santander, fará a gestão dos recebíveis para a Instituição.