17/01/2020 - 9:30
Adoniran Barbosa é conhecido como autor de sambas paulistanos considerados canônicos. Mas foi parceiro de letristas e músicos nem sempre creditados em suas composições — daí as diversas reivindicações de autoria que enfrentou. Tornou-se célebre com “Saudosa maloca” (1955), “Samba do Arnesto” (1952) e “Trem das Onze” (1964). Esta última foi reivindicada pelo conjunto Demônios da Garoa, cujos músicos originais afirmavam ter dado a forma final ao samba a partir de um monólogo gravado em fita entregue a eles por Adoniran Barbosa.
Nessas e em outras canções, surge o retrato de um suposto submundo popular da cidade de São Paulo. Mas esse cenário romântico quase nunca se baseou na realidade, e sim na imaginação do cidadão João Rubinato (1910-1982), torneiro mecânico, ator, locutor, humorista e cantor. É esse sujeito multifacetado e controverso que o diretor Pedro Serrano põe de pé no documentário “Adoniran — Meu nome é João Rubinato”.
“Quis mostrar os vários talentos de Rubinato”, diz Serrano. “Ele não foi apenas um compositor. Na verdade, Adoniran não passa de um dos muitos personagens que Rubinato criou como ator de rádio em programas humorísticos durante três décadas, ao lado do roteirista Osvaldo Molles.”
O malando Charutinho, o motorista Don Segundo Sombra, Richard e Richard Morris — irmãos gêmeos por parte de pai —, Barbosinha Mal Educado da Silva e dezenas de outras figuras, inclusive a do sambista Adoniran. O filme traz material inédito, como produções dos anos 1930 e 1940 nos quais atuou, gravações com locuções de Rubinato e composições inéditas, como “Minha vida se consome” e “Teu orgulho acabou” (parcerias com Pedrinho Romani), à maneira de Noel Rosa. Para Serrano, Rubinato foi o cronista das mazelas sociais da cidade que soterra o passado em nome do “pogréssio”: “Ele inventou personagens e até as circunstâncias da criação dos sambas”. Sozinho, Rubinato inventou todo um folclore com raízes profundas na mídia de São Paulo de seu tempo: rádio, cinema, televisão e disco.