SÃO PAULO, 22 SET (ANSA) – Há um ano fora do governo, o ex-ministro do Interior e senador Matteo Salvini ganhou uma sombra de peso para sua até agora inconteste liderança na Liga, partido de extrema direita que ele levou ao posto de mais popular da Itália.   

Luca Zaia, governador do Vêneto desde 2010, conquistou uma vitória maiúscula nas eleições regionais de 20 e 21 de setembro, com quase 77% dos votos válidos, maior percentual já registrado na história republicana do país.   

O sucesso de Zaia foi tamanho que, logo após a divulgação do resultado, diversos expoentes da Liga vieram a público para dizer que a liderança de Salvini não é contestada, incluindo o próprio governador.   

“Não é do meu interesse, a votação diz respeito à minha administração, o tema político se debate nas eleições legislativas”, declarou Zaia a uma TV italiana nesta terça-feira (22), ao ser questionado sobre uma eventual candidatura a secretário federal do partido de extrema direita.   

Já o líder da Liga no Senado, Massimiliano Romeo, afirmou a uma rádio que o governador do Vêneto é um “ativo” do partido, mas que seu secretário é Salvini. “Zaia tem uma batalha própria, que é a da autonomia [das regiões]. Existe uma bela sinergia”, acrescentou.   

Por sua vez, o ex-ministro Lorenzo Fontana, principal expoente da Liga em Verona, cidade mais populosa do Vêneto, negou a existência de um “dualismo” entre Zaia e Salvini. “Ele ama ser governador do Vêneto.” Além da vitória esmagadora, Zaia viu sua lista de candidatos à assembleia legislativa regional alcançar 44,5% dos votos, mais de duas vezes o percentual obtido pela Liga – em eleições regionais e municipais na Itália, candidatos majoritários também costumam apresentar listas independentes de postulantes ao legislativo.   

Ao ser questionado sobre a supremacia de Zaia, Salvini disse que “gostaria de ter problemas assim todos os dias e em toda a Itália”. “Que Zaia seja um dos governadores mais amados é um motivo de orgulho. Não temo nem sofro nenhuma competição interna, a minha competição é com o PD [principal partido de centro-esquerda na Itália]”, reforçou o ex-ministro do Interior.   

Aliada em alta – Salvini assumiu a secretaria federal da Liga em dezembro de 2013 e promoveu uma guinada à extrema direita na agenda do partido, cuja principal bandeira era a independência da Padania, planície rica e industrializada na Itália setentrional.   

Com propostas anti-imigração e eurocéticas e sem a palavra “Norte” no nome da Liga, Salvini chegou ao cargo de ministro do Interior em 2018 e, em seu um ano na função, levou o partido ao posto de mais popular do país, com cerca de 30% da preferência.   

No entanto, nos últimos meses, a Liga perdeu fôlego nas pesquisas – embora mantenha a dianteira – e fracassou em seu ambicioso objetivo de conquistar dois bastiões da esquerda italiana: a Emilia-Romagna, em janeiro, e a Toscana, em setembro.   

O partido de Salvini lidera uma aliança conservadora que inclui o moderado Força Itália (FI), de Silvio Berlusconi, e o radical Irmãos da Itália (FdI), de Giorgia Meloni. Enquanto o FI se torna cada vez mais periférico na coalizão, o FdI está em franca ascensão.   

Nas eleições regionais desta semana, a sigla da deputada Meloni se tornou a mais votada da aliança na Campânia e na Puglia, no sul da Itália, e elegeu o novo governador em Marcas, situada no centro do país e que era comandada pela esquerda havia 25 anos.   

Segundo as últimas sondagens de âmbito nacional, o FdI, herdeiro do extinto partido neofascista Movimento Social Italiano (MSI), tem hoje cerca de 16% das intenções de voto, 10 pontos a menos que a Liga. Porém essa diferença era de quase 30 pontos em 2018.   

“O nosso interesse é que todos os partidos da coalizão cresçam.   

O objetivo final é chegar ao governo nacional. Não queremos crescer às custas de nossos aliados, mas sim às custas de nossos adversários”, contemporizou Meloni nesta terça. (ANSA).