Dentro de alguns dias, Michel Temer será denunciado por obstrução judicial e organização criminosa. A base da denúncia, que será a última flechada do procurador-geral, Rodrigo Janot, é a soma das delações do empresário Joesley Batista e do corretor Lúcio Funaro. Em maio desse ano, o dono da JBS entregou seus grampos com Temer, em que ele aparentemente avaliza a compra do silêncio de Funaro e Eduardo Cunha para que não o delatem. Na sua delação, Funaro, que antes negava ter vendido seu silêncio, agora confirma tudo aquilo que antes foi dito por Joesley. Ou seja: ele reforça a tese de Janot.

Pode-se imaginar que a denúncia seria rapidamente sepultada, uma vez que, há exatamente um mês, a Câmara arquivou a primeira acusação contra Temer, por corrupção passiva, que parecia muito mais grave do que a atual. No entanto, as condições do Congresso e da própria economia se alteraram. Antes da primeira votação, Temer torrou mais de R$ 13 bilhões em emendas parlamentares e outros favores para se salvar. Ocorre que muitos deputados dizem ter sofrido calotes nessas promessas e outros tantos ficaram inconformados com o fato de “traidores” – especialmente do PSDB – terem mantido seus cargos na máquina pública. Se isso não bastasse, nesse período as condições da economia se deterioraram e a meta fiscal saltou de um rombo de R$ 139 bilhões para um buraco de R$ 159 bilhões.

Portanto, Temer tem hoje bem menos munição do que um mês atrás. Há, ainda, um outro fator que torna sua situação mais vulnerável. Uma pesquisa Ipsos divulgada no último fim de semana revela que ele é o político mais impopular do Brasil, com 93% de rejeição. Isso significa que os deputados que decidirem salvá-lo arcarão com um custo gigantesco diante de seus próprios eleitores. Como todos esses parlamentares possuem instinto de sobrevivência, quanto mais 2018 se aproxima, pior é a situação de Temer. Um novo fator que o fragiliza é a nova desenvoltura do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), que hoje parece mais disposto a assumir a Presidência da República do que à época da primeira denúncia. Dias atrás, ao participar de um evento político, Maia defendeu um novo “centro político”, que uniria forças do DEM ao PCdoB. Além disso, seu aliado André Fufuca (PP-MA) se disse pronto para dar andamento à segunda denúncia, caso ela chegue à Câmara durante a sua interinidade.

Se Temer será fufucado ou não, só o tempo dirá. Mas o fato é que salvá-lo novamente é um péssimo negócio não apenas para os deputados que pretendem se reeleger, como também para uma economia que não sai do atoleiro. Enquanto o Brasil mantiver um governo com déficit de legitimidade, a equipe econômica não terá condições de aprovar medidas que reequilibrem as contas públicas. Isso significa que um desastrado projeto político que prometia colocar o Brasil em ordem continuará sangrando a economia e levando-a ao abismo. É uma situação tão grave que foi desnudada, com precisão, por Joaquim Barbosa, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, na sexta-feira 1. “O Brasil foi sequestrado por um bando de políticos inescrupulosos, que reduziram as instituições a frangalhos”, disse ele. Não há como discordar.