Salas do Belas Artes devem perder nesta quinta-feira logo da Caixa

Desde julho de 2014, quando houve a campanha para ‘salvar’ o Belas Artes, o conjunto de salas da Consolação ostentava o logo da Caixa como patrocinadora. Em dezembro, terminou o contrato. O cineasta e programador André Sturm comunicou que manteria o nome da empresa como cortesia enquanto negociava a renovação do contrato. Como distribuidor (Pandora Filmes), ele foi à Berlinale, neste mês que se encerra. Ao voltar, recebeu um e-mail sucinto. A Caixa considera utilização indevida o logo da empresa no conjunto de salas, e no material de divulgação. A partir desta quinta, 28, o Belas Artes não é mais Caixa.

Sturm, que não recebeu nenhum comunicado formal sobre o fim da parceria, encarou o e-mail como um sonoro ‘não’ às suas tentativas de renegociação. Lamenta. “Foi uma parceria valiosa para ambos os lados. O retorno institucional para a marca foi imenso. E, desde a reabertura, o valor pago anualmente era decisivo no aluguel. No princípio, cobria; ultimamente, ficava um pouco abaixo. E ainda tem todas as despesas com manutenção, funcionários, impostos. Neste anos todos, o Belas Artes voltou a formar um público fiel. É muito bem frequentado. Não tenho dados exatos, mas não exagero se disser que uns 30% de nossos frequentadores confiam tanto na curadoria (feita pelo próprio Sturm) que escolhe o filme que vai ver na hora, na boca da bilheteria. Acreditam que, se passa lá, tem de ser bom.”

Cinéfilo de carteirinha, Sturm não consegue equiparar a programação do Belas Artes aos dos filmes de arte e ensaio franceses. “Mas nossa programação selecionada não abre espaço para blockbusters”, diz. Como não? O repórter lembra que assistiu a Mulher-Maravilha no Belas Artes. Ele retruca: “Ah, mas esse filme virou um fenômeno social por sua discussão do empoderamento das mulheres em Hollywood. Programei por isso, não por ser blockbuster”. E ele assinala: “O frequentador de nossas salas sabe que o compromisso é com os filmes. Às vezes, abro mão de estrear novos filmes para manter em cartaz obras em que acredito, à espera do boca a boca”. Foi assim que, nessa nova fase, o argentino Relatos Selvagens ficou mais de dois anos em cartaz, assim como o filme de Alain Resnais, Medos Privados em Lugares Públicos, ficou três na fase anterior.

Desde que começou o burburinho sobre o destino do Belas Artes sem a Caixa, estouraram as fake news, conta ele. “Hoje (ontem), circulou nas redes que eu estava vendendo a marca para o Cinépolis.” Não é verdade. Sturm tem um período para buscar patrocínio. Negociou com o proprietário, Flávio Maluf, uma redução do aluguel, praticado em preços competitivos de mercado, durante dois meses. “Ele está sendo muito mais compreensivo e solidário do que foi antes.”

Para Sturm, a permanência do Belas Artes é fundamental até porque o conjunto de salas dá sustentação urbana à área ao redor. O repórter provoca – Sturm foi muito criticado, até em eventos de cinema, como secretário de Cultura. Largou a política, voltou à atividade como exibidor e distribuidor. Não se arrepende de nada. “Tudo o que fiz foi por amor ao cinema, e aos filmes. É o que me move a buscar novos patrocínios para o Belas Artes.” Sinal de otimismo, enquanto conversa com o repórter, Sturm atende à ligação de um interessado. Há esperança.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.