Nikki Haley, que anunciou nesta terça-feira (9) que vai deixar o cargo de embaixadora americana na ONU no final do ano, era praticamente desconhecida quando se juntou ao gabinete de Donald Trump.

Mas em menos de dois anos no posto, a popular ex-governadora da Carolina do Sul de 46 anos, de posições conservadoras e sem papas na língua, se tornou uma das vozes mais fortes da política externa americana.

É conhecida por seus tailleurs impecáveis e saltos altíssimos, além de sua ferrenha defesa de Israel e fortes críticas aos governos de Cuba, Venezuela, Nicarágua e Irã. E também da Rússia, muito mais que seu chefe.

Sua conta no Twitter, que Haley utiliza frequentemente para comunicar as suas posições políticas, mas também sua vida familiar ou publicar fotos do seu cachorro, tem mais de 1,66 milhão de seguidores.

Filha de imigrantes indianos, criada como sikh, mas cristã declarada, Haley representa uma cobiçada cota étnica no quase integralmente branco gabinete de Donald Trump.

Nascida em 1972 na Carolina do Sul, Nimrata “Nikki” Randhawa – Haley é o sobrenome que herdou de seu marido, um oficial da Guarda Nacional do seu estado natal – teve uma fulgurante carreira política e que parece destinada a continuar.

– Candidata Haley? –

Começou com toda a força na ONU e, em pouco tempo, ofuscou o então secretário de Estado Rex Tillerson.

Há um ano, a revista Time colocou esta mãe de dois filhos em sua capa como o rosto “das mulheres que estão mudando o mundo”. E em março a revista Foreign Policy publicou um artigo sobre as suas ambições presidenciais intitulado “Candidata Haley”.

Mas Haley negou. “Não, não me candidatarei para 2020”, disse nesta terça-feira (9) na Casa Branca, com o presidente ao seu lado. “Não decidi para onde quero ir”.

Alguns observadores assinalam que se descolar de Trump antes de uma eventual candidatura a beneficiaria.

Suas discordâncias com o presidente nem sempre ficaram em particular, e ela ganhou a reputação de ser uma mulher de caráter forte, capaz de fazer frente ao imprevisível chefe de Estado, ao invés de obedecê-lo cegamente.

Durante o recente debate sobre a confirmação do juiz da Suprema Corte Brett Kavanaugh, acusado de agressão sexual por uma jovem quando era adolescente, Haley optou por destacar a importância de ouvir as supostas vítimas.

Em dezembro de 2017 havia indicado que as mulheres que acusam o próprio Trump de conduta sexual indevida “deveriam ser ouvidas”.

– Diplomacia de megafone –

Durante a recente Assembleia Geral da ONU, em setembro, decidiu sair do emblemático edifício para se manifestar junto com opositores venezuelanos em frente ao edifício com um megafone, uma conduta extremamente incomum para qualquer embaixador.

“Continuaremos lutando pelos venezuelanos até que Maduro vá embora!”, gritou.

Já havia estado na Colômbia, junto à fronteira com a Venezuela, conversando com imigrantes venezuelanos que fugiam da escassez de alimentos e remédios.

Conseguiu que o Conselho de Segurança debatesse por duas vezes a crise humanitária na Venezuela e a violenta repressão de manifestantes por parte do governo da Nicarágua, embora o órgão só discuta, em teoria, casos que afetam a segurança e paz no mundo.

Também viajou para Honduras e Guatemala, ao Sudão do Sul, a Israel e para a República Democrática do Congo.

Mas teve alguns tropeços, como quando anunciou que Trump presidiria uma reunião do Conselho de Segurança unicamente sobre o Irã durante a Assembleia Geral da ONU.

Como isso teria permitido aos iranianos sentar na mesma mesa que seu líder Hassan Rohani, a Casa Branca decidiu ampliar o tema à luta contra as armas de destruição em massa.

Em abril, anunciou sanções a empresas russas que contribuíam para o programa de armas químicas da Síria, mas a Casa Branca negou no dia seguinte e um funcionário assegurou que a embaixadora havia se confundido.

“Como todo o respeito, eu não me confundo”, respondeu Haley.

Sua ferrenha defesa de Israel lhe rendeu elogios e críticas.

Contudo, não conseguiu convencer os demais países-membros da ONU a apoiar a decisão de Trump de reconhecer Jerusalém como capital de Israel. E levou uma chamada dos maiores aliados europeus de Washington – Grã-Bretanha e França – quando Trump decidiu se retirar do acordo nuclear com o Irã.

O seu poder diminuiu um pouco nos últimos meses, com a chegada de pesos-pesados como Mike Pompeo ao Departamento de Estado e John Bolton ao Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca.